sáb 19 abr 2025
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“A Mansão”: suspense clássico de Agatha Christie ganha releitura envolvente no Festival de Curitiba

Adaptação livre da companhia Síncope Grupo de Teatro estreia no Fringe e aposta em uma estética dos anos 50 para mergulhar o público em um mistério onde todos são suspeitos

O clássico da literatura A Mansão Hollow, de Agatha Christie, ganhou vida no Teatro Enio Carvalho com a estreia da peça A Mansão. Adaptada e dirigida por Júlia Dassi, teve sua primeira exibição no Festival de Teatro de Curitiba no dia 4 de abril. Com uma encenação envolvente, o espetáculo mergulha o público em uma atmosfera de mistério onde nada é o que parece — e a verdade, talvez, seja o elemento mais obscuro da trama em que todos são potenciais suspeitos.

Realizada e produzida pela companhia teatral independente Síncope Grupo de Teatro (SGT) da capital paranaense, a peça é parte da mostra Fringe do Festival de Curitiba deste ano. A adaptação é  uma releitura dramatúrgica que mantém a essência investigativa do livro original, mas destaca de forma ainda mais intensa, com grande mérito das atuações, os conflitos humanos por trás do crime. “Eu não sabia que eu podia fazer isso [adaptar o livro], seja ele fielmente ou não, porque a gente faz uma adaptação livre. E aí, quando eu descobri que eu podia fazer, nossa, a cabeça explodiu, porque eu falei, ‘meu Deus, eu posso mostrar para as pessoas como eu imagino isso lendo’.”, explica a diretora da peça.

Sobre a Peça

No palco, a trama gira em torno da morte do misterioso Dr. Gordon — nomes adaptados escolhidos pelos próprios atores na construção de seus personagens —, e, assim como no livro, a tensão crescente entre os moradores e os convidados da mansão que, na adaptação teatral, se passa na Escócia. “Eu tive muito cuidado na hora de adaptar porque é um texto muito delicado, e Agatha Christie é um fenômeno. Quando você vai falar, ‘estou fazendo Agatha Christie’, isso cai uma responsabilidade em cima de você gigante.”, relata Dassi.

O elenco, formado por nomes como Aline Resende, Breno Machado, Doug Cruz, Emanuel Bill, Gabi Coutinho, Giulia Gon, Guilherme Stockler, Laura Maddalozzo, Luísa Teles, Mel Hachiguti, Rafael Bahls e Thalyta Cavalli, alterna momentos de contenção e explosão com maestria, trazendo a complexidade a mais que os personagens exigem. A direção de movimento de Vick Napoli também se destaca, proporcionando fluidez e tensão corporal que dialogam com o texto.

Os figurinos, assinados por Luísa Teles e Rafael Bahls, refletem as horas de pesquisas minuciosas para recriar, da maneira mais fiel possível, uma peça que se passa nos anos 50. 

Mesmo sendo uma produção contemporânea do Século XXI, a peça se aprofunda na estética da época, transportando o público para o universo elegante e contido do pós-guerra, sem abrir mão de um olhar atual sobre os personagens e conflitos. “Como a gente definiu a peça num espaço-tempo que é na Escócia, nos anos 50, esse recorte histórico, esse recorte econômico-social, pós-guerra, um recorte aristocrata também, que é de uma família aristocrata que a gente está representando, tudo isso se encaixa nessas referências, nessas inspirações para a produção desses figurinos. […] e tentou buscar em outras obras, sejam obras de artes visuais, audiovisuais, tanto faz, para que a gente pudesse ter referências mais palpáveis de como que é os anos 50 fidedignamente.”, explica Bahls.

Depois da estreia

Após 90 minutos de apresentação em um teatro lotado, o espetáculo confirmou a expectativa do público e do elenco, com direito a muitas palmas e agradecimentos. Com o fim da sessão, a diretora do SGT Júlia Dassi subiu ao palco e compartilhou com o público a emoção do momento. “Era um sonho de muitos, muitos, muitos anos de levantar esse texto. Então acho justo fazer alguns agradecimentos [ao elenco], dado o quanto essa galera se dedicou para montar esse texto que eu adaptei”, comentou Dassi, enquanto revelava que a peça se desenvolveu por inteiro em apenas dois meses de muita colaboração.

Ainda no palco, a diretora revelou mais algumas curiosidades sobre o cenário, que podem ser conferidas aqui: 

Luiz Otávio Maddalozzo foi um dos espectadores  que compareceu à estreia e aproveitou cada momento da peça. O médico não tinha tido contato com o texto original de Christie, o que tornou a experiência mais surpreendente. “Foi bem legal, a montagem ficou muito boa. Não conhecia a história que foi usada como base dessa peça, e realmente ficou até o final a tensão para saber quem era o culpado de tudo”, relatou Maddalozzo. 

“A Mansão” é uma produção que mistura talento de uma companhia jovem e independente com um clássico do suspense, trazendo um olhar contemporâneo e vibrante  para uma narrativa consagrada. Ao observar o andamento da peça, fica nítido o respeito e o cuidado de Dassi no processo de adaptação do livro de Agatha Christie, tornando-a não apenas uma releitura, mas também uma homenagem. 

Com um enredo que desafia o público a resolver um mistério ao lado dos personagens, a peça reafirma a força do teatro como forma de expressão e encantamento coletivo — e a importância de festivais da segunda arte para dar visibilidade a novas gerações de artistas.

FICHA TÉCNICA

Companhia: SGT – Síncope Grupo de Teatro

Direção: Júlia Dassi

Direção de Movimento: Vick Napoli

Assistência de Direção: Allana Aíssa

Direção de Produção: Júlia Dassi

Assistência de Produção: Lari Damas e Vick Napoli

Redes Sociais: Emanuel Bill

Texto Original: Agatha Christie

Adaptação: Júlia Dassi

Realização: Síncope Casa de Cultura

Elenco: Aline Resende, Breno Machado, Doug Cruz, Emanuel Bill, Gabi Coutinho, Giulia Gon, Guilherme Stockler, Laura Maddalozzo, Luísa Teles, Mel Hachiguti, Rafael Bahls, Thalyta Cavalli / Figurinos: Luísa Teles.


Reportagem por Emilly Cristina Domingues e Pietra Hara

Imagens: Pietra Hara

Revisão: Flavia Keretch

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