seg 11 nov 2024
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Adolescente curitibana vai representar o Brasil em Mundial de karatê no Japão

Carolina segue em busca de mais uma medalha pra sua coleção. (Foto: Divulgação)

A karateca e bicampeã brasileira, Carolina Stange, tem 13 anos e mora no bairro Boqueirão em Curitiba. Ela luta karatê desde os nove anos e já ganhou o campeonato paranaense, o brasileiro duas vezes, ganhou medalha de bronze no sul americano e agora conseguiu uma vaga para disputar o mundial no Japão.

A competição será no dia 19 de outubro, mas Carolina pretende chegar com uma semana de antecedência para se acostumar com o fuso horário e com o ritmo de treino de 6 horas diárias. Ela é a única atleta de sua idade e da categoria faixa preta e marrom que irá representar o Brasil, mas mesmo assim está com dificuldades para conseguir patrocínio para viajar. O problema maior é que por ser tão jovem ela precisa viajar acompanhada do pai, o que encarece ainda mais a viagem. Ela e os pais estão buscando patrocinadores e vendendo alguns produtos para angariar fundos. Confira na página do Facebook.

Na entrevista, concedida ao Jornal Co:::unicação, ela conta um pouco sobre a sua história no karatê e como ela chegou até o Mundial.

Jornal Co:::unicação – Foi você quem decidiu começar a praticar o karatê?

Carolina Stange – É foi. Uma amiga minha me apresentou o karatê e eu falei: “Ah pai, seria legal fazer”. E meu pai já tinha feito outras artes marciais, então ele falou: “Ah, então tá bom, vamos ver como é que é.” A gente chegou lá e viu que era uma professora. Daí a gente falou: ” Já que é uma professora de luta é até melhor”. Agora já faz cinco anos que eu estou treinando.

J.C – Você sempre gostou de lutas ou essa foi a primeira que você fez?

Carolina – Foi a primeira, sim. Foi do nada! Eu não me interessava por luta. Fazia ginástica olímpica.

J.C – E você já pensou em participar das olimpíadas?

Carolina – Olimpíadas o karatê não pode. Porque é obrigatório nas olimpíadas você usar tudo o que é tipo de protetor e no karatê a gente aprende o autocontrole, então a gente explode para o movimento, mas a gente não pode encostar. Tanto que, se você tirar sangue, você é desclassificado. Teve um amigo meu que levou um chute que cortou o rosto dele, teve que levar ponto (no campeonato sul-americano). O cara que competiu com ele foi desclassificado do sul-americano, porque tirou sangue dele.

J.C – Então não faz sentido deixar toda aquela proteção.

Carolina – Sim. Eles fazem de tudo para participar. Tem o mundial que é como se fosse as olimpíadas para a gente. Por isso que eu estou tão feliz de estar indo! Porque como a gente não pode ir para as olimpíadas o mundial acaba substituindo as olimpíadas. E a gente fica feliz mesmo assim, tendo essas chances de avançar em campeonatos.

J.C – Você treina quantas vezes por semana?

Carolina – Segunda, quarta e sexta a noite. Das sete às oito e tem vezes que vai até as nove. Mas geralmente é das sete às oito. Agora com o mundial eu estou começando a treinar bem mais pesado, a focar mais nos detalhes que não eram tão aparentes.

J.C – E vocês treinam só com o kimono e a faixa, sem joelheira, luvas?

Carolina – Luvas às vezes eles pedem para a gente colocar. O protetor bucal e para as meninas protetor de seios. É isso que a gente usa, só isso. Só que para as olimpíadas precisa de capacete, de protetor de joelho, cotovelo, esse tipo de coisa.

J.C – E gente de todas as idades participa?

Carolina – Sim. O mundial, se não me engano, é a partir dos nove ou onze anos. O sul americano também. O brasileiro não, o brasileiro a gente vê o pessoal de sete e oito aninhos fazendo. É fofinho. Mas o mundial não, são pessoas mais velhas. Daí vai até a categoria master. A master é até 60 ou 65 anos, eu não tenho tanta certeza qual a idade máxima na master. O último professor que veio dar aula tinha oitenta anos e ele chutava melhor que muita gente. E a gente fica: ‘O quê?’ Teve um professor do Japão que ele tinha 83 e colocava a perna lá por cima da cabeça.

J.C – Que cor de faixa você está?

Carolina – Eu estou na marrom, a próxima já é a preta. No karatê você só vai ganhando a graduação. Tem o primeiro kyu, segundo kyu e você vai avançando. Não sei qual kyu te dá a preta, mas no momento em que você chega na faixa preta não tem mais cor nenhuma, você é preta isso, preta aquilo, o que seria preta um, preta dois, preta três e vai indo.

J.C – Você fica nervosa antes de entrar em alguma luta?

Carolina – Sim. Muito! No sul-americano eu cheguei a passar mal. Mas é só respirar, né? Eu estava no meio do campeonato e passei mal, mas foi coisa muito pouca assim. Eu consegui manter e continuar. Quando você vai para muitos campeonatos você vai aprendendo a controlar o nervosismo. Então vai diminuindo. Claro, em campeonatos grandes você fica mais nervosa, mas como eu já fui para vários campeonatos internos é tranquilo isso.

J.C – O que as pessoas falam para você quando descobrem que você ganhou tantas medalhas?

Carolina – O pessoal fica muito feliz, comemorando. ‘Nossa, Carol. Tá indo bem! Parabéns! Tá avançando cada vez mais!’ A cada medalha que eu ganho eles torcem mais. Eu fico bem feliz em ver o pessoal apoiando.

J.C – O karatê é uma luta, e luta algumas pessoas acham que não é tão feminino. Mas os amigos da tua sala não estão nem aí, acham tudo normal?

Carolina – Isso, até porque karatê não é só luta. A gente tem o kata também, que é a sequência de movimentos. A maioria de medalhas que eu consegui de primeiro lugar no brasileiro, eu consegui primeiro no kata. Que é uma coisa que quando você vê parece muito fácil, mas é muito complexo, porque é a partir do kata que você vai aprimorando os movimentos para a luta. Então é a coisa de finalização, é a base que tem que baixar, é o tronco que tem que virar, quadril que tem que encaixar, tudo isso que acaba ajudando depois também na luta. Então o pessoal fala que parece ser fácil, mas não é. É bem complexa a coisa.

J.C – Quando você treina, você geralmente treina com alguém?

Carolina – Na hora do treino, geralmente a gente é separado em três, que é o kihon, daí a professora fala um movimento e a gente tem que fazer quantas vezes ela mandar. Sozinho, em fileiras mesmo. Daí tem a parte do kumite, que é a luta mesmo, daí é com alguém. Não é necessariamente: ‘Ah, comecem a lutar’, não, você faz isso e ela faz aquilo, ou, agora só pode chute, agora só pode soco. Então a gente vai treinando. Tem vezes que você vai e luta, que é mais livre assim. E tem o kata, que é aquela sequência pronta de movimentos. Existem 22 ou 24 katas, mas eu só sei onze.

J.C – Mas você tem um tempo certo para passar de faixa?

Carolina – Na verde você tem que ficar um ano, na roxa você são dois e na marrom você tem que ficar quatro anos. E ainda por cima não tenho idade para tirar a preta. A faixa preta é só com 16 anos. Eu até fico feliz, porque enquanto isso eu vou aprimorando. Tem faixa preta que a gente olha e pensa que não devia ser preta. Eu quero que me olhem fazendo o kata e vejam que eu tenho condições realmente de ser faixa preta.

J.C – E você pretende seguir com o karatê para uma carreira profissional?

Carolina – Ah, eu ainda não tenho muita certeza mesmo. Talvez. Profissional acho que não, mas talvez mantendo como hobby, mesmo. Vai ser bom manter como hobby, mas carreira eu vou fazer outra coisa mesmo. Viver só disso não é fácil. Viver só dando treino. Fica tanto difícil para você, que não consegue ficar com a família direito, passar as noites, dependendo do horário que você dá aula. É difícil também. E não ganha muito também.

J.C -Que mensagem você gostaria de dar para quem está começando agora?

Carolina – Que eles continuem seguindo o sonho do esporte que eles querem fazer porque, no começo, eu não achava que eu ia conseguir chegar tão longe. Se eles tem um sonho tem que tentar alcançar. Porque pra mim, chegar no mundial era um sonho e eu consegui realizar.

 

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