sáb 10 jun 2023
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Apagão Analógico no Brasil: viável ou não?

O sinal digital de televisão vem aumentando sua cobertura em todo o Brasil e assim, a possibilidade do “Apagão Analógico”, fica cada dia mais real. Com o encerramento da TV analógica, o governo pode realizar um novo leilão da faixa de frequência que esse tipo de sinal não usaria mais e, portanto, estaria livre para alocar outros serviços, como o sinal de internet 4G por exemplo.

Para que esse apagão realmente aconteça no Brasil, cada aparelho de televisão deve ter um conversor de sinal que, atualmente, custa em torno de R$ 120. Esse conversor pode transformar a TV analógica em digital de forma automática e rápida. Quando o apagão for colocado em prática, as televisões sem o aparelho vão sair do ar e perder o sinal.

Televisão Analógica será completamente substituída pela Digital.  (Foto: Joe Belanger/Thinkstock)
Televisão analógica será completamente substituída pela digital
(Foto: Joe Belanger/Thinkstock)

O Jornal Comunicação conversou sobre o assunto com o chefe da Assessoria de Comunicação Social e professor do Departamento de Comunicação Social da UFPR Carlos Rocha para entender mais sobre o assunto. Com experiência também na área televisiva, caso da UFPR TV, Carlos explica como o apagão deve acontecer e o que é necessário para tal atitude.

Carlos Polaco Rocha fala sobre o futuro da televisão.  (Foto: Arquivo Pessoal)
Carlos Rocha fala sobre o futuro da televisão
(Foto: Arquivo Pessoal)

JC: O que seria, para você, o apagão analógico?

Carlos: Existe um projeto global que é a implantação da TV Digital. O mundo inteiro está migrando pra essa nova tecnologia e o Brasil, na verdade, está um pouco atrasado. Demorou para o sistema digital ganhar espaço e ser adotado. Isso acabou causando um retardamento em toda a América Latina. Por exemplo, a Argentina chegou a adotar o sistema americano na época da crise do sistema bancário (2001), mas acabou voltando atrás. O Brasil escolheu o sistema de padrão digital japonês, com uma pequena derivação brasileira, o Ginga, que é a questão da interatividade.

Para migrar do analógico para o digital, ocorre um processo via satélite, no qual é possível passar muito mais informação e economiza banda satelital. Porém, o Brasil não tem fundos para sustentar um novo satélite, e também sairia muito caro para o país comprar outro satélite no porte do Brasilsat 1 e 2, que já estão em circulação desde a época da Ditadura Militar. A opção para economizar o uso deles e torná-los mais duradouros, seria a mudança para o digital.

Todos os países que se propuseram a efetuar essa mudança, ou seja, causar um apagão analógico, fariam com que o sinal analógico deixasse de funcionar e ficariam só com os digitais. Com isso a gente dá uma sobrevida a essa carga satelital.

JC: Quando um país decide que o apagão deve acontecer?

Carlos: Logo que ele implanta o sinal digital, já imagina o desligamento do analógico. Os EUA, por exemplo, já programaram esse desligamento duas vezes e prorrogaram.

JC: Por que os EUA tiveram que prorrogar o apagão?

Carlos: Os EUA não conseguiram cobertura total nacional com sinal digital, então como vão abrir mão do sinal analógico?

JC: E como fica o apagão analógico no Brasil?

Carlos: Quando a gente fala do apagão analógico no Brasil, precisamos pensar em duas premissas. Primeiro: todo o território nacional deve ter cobertura digital. E em segundo lugar, as pessoas precisam trocar de um sinal para outro. Uma coisa é oferecer a tecnologia, outra é o público migrar.

JC: O que você acha que é necessário para que esse apagão aconteça, além da cobertura nacional?

Carlos: Uma projeção. É necessário estabelecer metas, mas a realidade brasileira é muito diferente da norte-americana, europeia e japonesa, nas quais é possível fazer uma projeção com mais precisão de quando esse apagão ocorrerá. E, mesmo com toda essa tecnologia facilitadora, os EUA já atrasaram a sua.

JC: O Brasil já tem previsto, para esse ano, alguns cortes. Você acha então que nada acontecerá?

Carlos: Seria imprudente, pois é uma decisão bem precipitada. Se dependesse de mim a decisão, colocaria essa meta do apagão apenas para 2020 e veria como estaria a situação lá, para ter tempo de trabalhar essa transição e outras políticas públicas que deveriam ser repensadas, para incentivar a população a fazer essa migração.

Por exemplo, a discussão do apagão analógico leva à da interatividade. Pode ocorrer mudança do sinal sem interatividade? Sim, mas TV digital é muito mais que melhor áudio e melhor vídeo. Mas claro que um dia essa migração ocorrerá e trará muito mais benefícios ao país e à população.

JC: Não seria viável uma forma de interatividade que não dependesse da internet?

Carlos: Não. A que se mostra mais viável, avaliando custo benefício atualmente, é a internet mesmo. Então existem alguns modelos de receptores de TV Digital com chips de telefone, para facilitar a interatividade e tal. E também modelos mais simples que recebem sinais de dados e que tem um microprocessador interno para acessá-los, mas ele causa uma falsa interatividade.

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