Neste ano, a Justiça Eleitoral deu início a uma campanha para recolher materiais gráficos irregulares e encaminhá-los para o devido descarte em diversos estados do Brasil. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) já determinaram que partidos, candidatos e coligações têm a obrigação de encaminhar materiais que sobram das campanhas eleitorais para cooperativas de reciclagem. Mas como essas decisões mobilizam os partidos e candidatos?
Com o avanço cada vez mais evidente das mudanças climáticas, os temas da sustentabilidade e do meio ambiente ganharam papel central nas eleições municipais de 2024, já sendo alvo de disputa nos discursos da direita e da esquerda em diversas cidades, como é o caso de Curitiba.
O vereador em campanha de reeleição Bruno Pessuti (Pode) é um dos candidatos à Câmara de Vereadores da capital paranaense que adotam a pauta da sustentabilidade. Ainda que não descarte a importância do material físico, Pessuti ressalta a necessidade de reciclagem das sobras de campanha. “O papel é fundamental. Mas nós fazemos na quantidade exata, ou o mais próximo possível, para que ele não sobre. E se sobrar, destinamos o material para a reciclagem”, afirma.
O vereador, que também já trabalhou com combustíveis renováveis, afirma que banners usados em sua campanha serão reutilizados para a confecção de necessaires e sacolas retornáveis, e que já tentou adotar outras medidas de sustentabilidade em outras eleições. “No passado, nós tentamos fazer ‘Papel Semente’, que é um papel que poderia ser descartado e virar uma flor, porém isso foi considerado brinde pela Justiça Eleitoral, então não é mais uma possibilidade sustentável da propaganda política” – lamentou o candidato.
O “Papel Semente”, mencionado por Pessuti, é um produto biodegradável que possui sementes de flores e hortaliças em sua composição, assim a matéria orgânica do papel é usada para a germinação das sementes após o descarte. Esse papel é produzido por uma empresa no estado do Rio de Janeiro e é oferecido como uma alternativa sustentável para empresas e outras instituições como material para a confecção de brindes, embalagens e cartões-presente.
A ideia de usar materiais biodegradáveis como material de campanha também é defendida pelo candidato João Paulo Mehl (PT). Para o empreendedor e ativista pela agroecologia, a decisão de usar santinhos e panfletos de papel biodegradável se justifica mesmo com um custo maior para a campanha. “Todo o nosso material é produzido com papel reciclável. Ele é muito pouco mais caro, então não faz diferença no orçamento de campanha. É uma decisão política” – declarou Mehl.
Sobre a destinação das sobras de campanha, o candidato explica ainda, um plano para a compostagem desse material biodegradável. “Fizemos uma média do volume do material produzido e distribuído pela nossa campanha e estamos compostando o proporcional a isso” – afirma Mehl, que também demonstra a intenção de apresentar essa prática como política pública para a Câmara Municipal.
A compostagem é a prática sustentável de estimular a decomposição do lixo orgânico para transformá-lo em adubo rico em nutrientes para o solo. Para o candidato, que lidera o projeto “Terraço Verde”, essa é a solução para a destinação de sobras eleitorais. Ele afirma: “Temos condição de compostar o nosso próprio material. Temos estrutura para isso. Já trabalhamos com esse modelo de compostagem. Geralmente, usamos a folha seca para fazer a compensação, mas a gente consegue usar o papel, por ser um material reciclável”.
Ambos os candidatos afirmam que não houve orientação de seus respectivos partidos para iniciativas como estas, mas esperam que práticas sustentáveis em campanhas eleitorais se multipliquem.
Reportagem: Gustavo Beckert
Edição: Leticia Negrello
Orientação: Cândida de Oliveira