qui 25 abr 2024
HomeCidadeAumento de aluguel em Curitiba ameaça direito à moradia de população de...

Aumento de aluguel em Curitiba ameaça direito à moradia de população de baixa renda

Capital paranaense registra maior alta nos imóveis desde 2017, com valor médio chegando a 1.500/mês

De acordo com relatório do Imovelweb, um dos maiores portais imobiliários do país, o preço do aluguel em Curitiba vem crescendo. Somente nos últimos meses, a capital paranaense registrou um aumento de 2,3% nas taxas dos imóveis. O aluguel médio de uma residência padrão, com dois quartos e uma vaga na garagem, chegou a R$ 1,513/ mês — R$ 413 a mais que o salário mínimo atual.

Além disso, nos primeiros meses de 2021, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), em parceria com o Grupo Zap, divulgou uma pesquisa que demonstra um aumento de 5,20% no valor dos aluguéis em Curitiba.

“De maneira geral, algumas cidades da região Sul têm apresentado aumento no valor tanto do aluguel quanto da venda. Com a chegada da pandemia, muitas pessoas começaram a prestar mais atenção nas condições de moradia, o que reforçou a demanda e reflete agora nos preços dos aluguéis”, ressalta o pesquisador da Felipe Eduardo Zylbestejn, doutor em Economia pela Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).

Conforme o relatório do Imovelweb, o bairro Cristo Rei apresentou o maior aumento anual no aluguel, 18,7%, com valor médio de R$ 1.654 por imóvel. Em seguida estão o Centro Cívico, com R$ 2.127, e a Cidade Industrial de Curitiba, com R$ 1.452. Por sua vez, os bairros mais baratos para se morar foram Parolin, Cajuru e Mercês.

A pesquisa indica também que a capital possui um preço médio de metro quadrado (m²) de aproximadamente R$ 6.958, sendo o Campina do Siqueira o bairro com a metragem mais cara da cidade, registrando média de R$ 10.708/m². Já o metro quadrado mais econômico se encontra em Campo de Santana, com média de R$ 2.989/m².

“Independente da pandemia, nós estamos vivendo uma fase boa para o ciclo imobiliário, temos uma situação de juros baixos e, apesar do desemprego estar afetando a população, ele a afeta de uma forma desigual. As famílias de alta renda não estão sofrendo tanto com o desemprego”, ressalta o economista.

Direito à moradia é o primeiro a ser impactado

Em contraste com a realidade enfrentada pela população de alta renda, as famílias que vivem com menos de três salários mínimos (R$ 3.300) tiveram suas vidas e condições de moradia diretamente afetadas com a chegada da pandemia e com o aumento dos aluguéis. A alta no valor dos imóveis coincide com o momento em que Curitiba sofre com o crescimento dos chamados aglomerados subnormais, ocupações e loteamentos, locais de difícil acesso a saneamento básico e serviços essenciais. 

Paralelo a isso, o Paraná está em quinto lugar na lista dos estados que mais despejaram famílias durante o período de pandemia, pois teve 1.656 famílias removidas à força do seu local de moradia. Os dados foram levantados pela Campanha Despejo Zero, campanha nacional responsável por registro e apoio às famílias despejadas.

“A gente vem percebendo um processo muito forte de empobrecimento de pessoas que já estavam em situações vulneráveis. Pessoas que não tinham direito à moradia garantida, mas que conseguiam pagar pequenos aluguéis, ou mesmo morar de favor com alguns familiares”, aponta Mariana Kauchakje, que compõe a coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). “Com a crise econômica, estas pessoas já vulneráveis viram o pouco se transformar em nada. Elas tendem a ficar em situação de vulnerabilidade e as ocupações crescem, uma vez que a moradia é uma questão latente em Curitiba e na Região Metropolitana”, afirma.

Neste contexto, são criadas ocupações irregulares que, na maioria das vezes, concentram-se às margens da cidade ou até mesmo na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). De acordo com levantamento realizado pelo próprio MTST, a capital paranaense conta com cerca de 40 mil famílias morando em ocupações irregulares. “Existe a percepção prática de que as ocupações estão aumentando, no último ano registramos de cinco a seis novas ocupações”, conta a coordenadora do movimento.

Confira a quantidade de ocupações em regionais da capital, segundo a Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab):

  • Boa Vista: 108 ocupações
  • Cidade Industrial de Curitiba (CIC): 71 ocupações;
  • Cajuru: 61 ocupações;
  • Santa Felicidade: 56 ocupações;
  • Bairro Novo: 37 ocupações;
  • Pinheirinho: 35 ocupações;
  • Boqueirão: 33 ocupações;
  • Portão: 27 ocupações;
  • Tatuquara: 22 ocupações;
  • Matriz: três ocupações.

Segundo dados do Plano Estadual de Habitação de Interesse Social (PEHIS), a cidade reúne mais de 450 assentamentos irregulares, com cerca de 50 mil domicílios ali localizados. O déficit habitacional está estimado em 322 mil casas. Das famílias que aguardam atendimento de programas habitacionais, 85% possuem indicador de renda de até três salários mínimos.

“Este índice de aumento dos aluguéis é muito significativo, Curitiba é uma cidade que tem espaços vazios, mas a prefeitura continua insistindo em cortar a verba para a habitação, por exemplo. O desmonte do programa Minha Casa, Minha Vida também aponta para isso, você retira a possibilidade de um programa de moradia para as pessoas mais vulneráveis”, explica Mariana.

Mayala Fernandes
Estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
NOTÍCIAS RELACIONADAS
Mayala Fernandes
Estudante do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Pular para o conteúdo