A Editora UFPR lançou o primeiro livro versão digital e garantiu a entrada no crescente mercado editorial de e-books. O livro Conservação da Biodiversidade foi inicialmente planejado e editado para impressão, mas ganhou uma versão digital e gratuita a pedido de um dos organizadores, que vive no exterior.
O diretor da Editora UFPR, Gilberto de Castro, explica que esse livro se tornou um e-book por acaso, mas que fazer a transição do catálogo para as novas mídias já estava nos planos da editora universitária. “Há um apelo grande para que o livro de papel seja feito também no eletrônico. A Editora não está fora dessa perspectiva. Ela tem pensado e juntado esforços no sentido de viabilizar isso”, diz.
A pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial, feita pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em 2013, mostra que vale a pena investir nesse mercado. A venda de e-books aumentou 225,13 % de 2012 para 2013 e continua em pleno crescimento.
A especialista em educação e novas tecnologias e professora da UFPR, Núria Pons, também defende a entrada da Editora no mercado digital. “A empresa editorial não pode mais achar que ela só tem o leitor de livro impresso. Ela tem os dois leitores e, muitas vezes, um único leitor dos dois meios”, aponta.
O próximo e-book gratuito produzido pela Editora UFPR será uma edição atualizada das Normas para apresentação de documentos científicos – uma série de livros que apresenta regras para a apresentação de trabalhos científicos na Federal. Contudo, o fato de esses dois primeiros e-books serem gratuitos é uma exceção. Castro conta que futuros livros digitais serão vendidos, já que a Editora precisa pagar direitos autorais aos escritores.
Boa opção
Ana Paula Araújo, estudante de biologia da UFPR, aderiu aos e-books e mostra interesse em ler o lançamento da Editora UFPR. Apesar de preferir os livros impressos, defende que a plataforma digital facilita na hora dos estudos. “Os livros didáticos são uma ótima opção na forma de e-books, pois a maioria deles são grandes e pesados e ainda podem ser obtidos na internet gratuitamente para download”, argumenta. A estudante só não faz mais uso de livros digitais porque tem problemas de visão e acha inseguro utilizar computador e tablets em alguns locais.
Nas salas de aula
Os livros digitais já são rotina para a professora Núria Pons. Só no seu tablet, tem cinco aplicativos para a leitura de livros digitais. Grande entusiasta da tecnologia, a professora defende que a transição dos livros para o mundo digital é inevitável. “A prensa de Gutemberg é de 1459. Se em 2014 não existissem mudanças significativas nesse mundo, seria loucura nossa. É possível dizer ‘eu não gosto disso’, mas não é possível impedir a mudança”, explica. No dia-a-dia da sala de aula ela percebe que o xerox de textos ainda é o hábito predominante, mas observa que os alunos que experimentam o e-book gostam e não param mais de usar.
A visão de Ana Paula sobre seus professores é semelhante. A aluna afirma que poucos estão familiarizados com o formato digital, mas que os que conhecem costumam indicar links para acesso. “Na maior parte das vezes são os próprios alunos que acabam encontrando os livros na internet e disponibilizando o endereço nas redes sociais ou nos e-mails da turma”, comenta.
Formatos e particularidades
O livro Conservação da Biodiversidade foi lançado como um ePUB, formato de e-book criado pelo IDPF (International Digital Publishing Forum), associação que engloba diversas empresas de publicação digital. O ePUB é baseado em um código livre e aberto, ou seja, qualquer um pode contribuir para o seu desenvolvimento. O resultado é uma leitura mais versátil e personalizável: o texto se ajusta à tela do dispositivo, seja ele qual for. Além disso, o leitor pode escolher a fonte e o tamanho da letra. Mas uma grande parte dos trabalhos científicos brasileiros publicados na internet estão em outro formato, o PDF. Os hábitos da aluna Ana Paula Araújo, por exemplo, refletem essa realidade. Ela afirma que, apesar de conhecer o ePUB, usa apenas o PDF.
Gilberto de Castro explica que a Editora escolheu o ePUB porque ele pode ser lido em qualquer dispositivo, dependendo apenas de um aplicativo que o suporte. “O PDF é truncado, mesmo que você tenha um dispositivo versátil”, considera. O professor ainda argumenta que essa fase de uso do PDF é passageira. Segundo ele, há alguns anos, existia uma questão de conhecimento técnico: as pessoas não sabiam manipular o ePUB. Mas esse quadro está mudando devido ao aumento da presença de tablets e smartphones no mercado. “Daqui a alguns anos, todos vão ter dispositivos em que o ePUB funcione de maneira muito mais plástica do que o PDF”, finaliza.