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Quando vi Eraserhead, filme do diretor David Lynch, na sexta-feira, achei que seria a coisa mais experimental e sensorial que eu veria durante o final de semana inteiro. Ledo engano.
Haikai, peça escrita e dirigida por Roberto Alvim que estreou na noite de sábado (30), é uma nova experimentação linguística e visual. A obra consegue transcender o teatro e seus efeitos para criar novos mundos não só diante do espectador, mas também dentro dele.
A apresentação, que dura cerca de 30 minutos, é extremamente delicada, suscetiva ao menor ruído do público. A Sala Branca do Espaço Cênico, local onde o espetáculo é encenado, comporta cerca de 60 pessoas e é uma total escuridão quando se entra para ver Haikai.
Segundo Don Correa, assistente de direção de Haikai, o ser humano é uma máquina de fechar sentidos sobre as coisas e a peça vai de encontro a isso. “Diante da arte o sentido não vem e as pessoas não sabem como lidar. É o que procuramos passar com Haikai”, explica Correa.
Haikai é divida em três atos elementares, como o poema japonês de mesmo nome. A iluminação baixa da peça e os spots de luz diretamente no rosto dos atores, em contraste com as lâmpadas fluorescentes brancas e vermelhas, causam estranhamento e, às vezes, as coisas parecem ser o que não são. Em vários momentos tive a impressão do rosto dos atores se transfigurar em algo que não era, mediante as palavras de invocação emanadas. O terceiro ato, interpretado numa linguagem fictícia, de autoria do próprio Roberto Alvim, é nada mais que a invocação em sua forma pura, fazendo com que o espectador vivencie a apresentação, suas lembranças e crie novos universos dentro de si mesmo.
A montanha
Para o ator Carlos Simioni, que estava assistindo a peça, a solução foi deixar se levar, quando percebeu que Haikai era sobre experimentação e não sobre entendimento. “Tirei o racional. As palavras me remetiam a um universo, ao meu próprio corpo”, explica.
Segundo Nena Inoue, atriz da peça, Haikai traz uma proposta do transumano, do mergulho no poder da palavra. “Para o Alvim, uma palavra vale mil imagens. Quando se fala em montanha, cada um tem sua idéia de montanha”, frisou.
O cineasta Aristeu Araújo já conhecia o trabalho de Alvim. Ele notou que a peça trazia algo mais incompreensível que os outros trabalhos do diretor. “Já tinha visto uma montagem do Roberto Alvim em São Paulo, mas sobre Haikai nem há o que dizer. Ainda estou captando as nuances”, afirma.
Serviço
Quem perdeu Haikai durante o Festival de Teatro não precisa se preocupar: a peça entra em turnê em Curitiba agora em abril. De 11 de abril a 12 de maio, haverá apresentações da peça de quinta a domingo, às 20h30. Nos sábados e domingos há também uma sessão extra, às 19h. Além disso, as apresentações às 20h30 de domingo serão gratuitas, incentivando a todos a comparecer e conferir o espetáculo.
Local: Espaço Cênico – Rua Paulo Graeser Sobrinho, 305 – São Francisco.
Data: 11/04 à 12/05, de quinta a domingo, às 20h30 (gratuita aos domingos). Sessão extra: sábado e domingo às 19h.