sex 13 dez 2024
HomeCidadeIgrejas abandonadas movimentam Antonina com festividades

Igrejas abandonadas movimentam Antonina com festividades

Até que ponto vale a pena tratar como cotidiano o abandono de um lugar que é frequentado diariamente por uma cidade inteira?  

Antonina vive hoje uma crise em relação ao estado de conservação de seus patrimônios históricos, essencialmente a tríade de igrejas que fundamentaram a construção da cidade portuária: o Santuário de Nossa Senhora do Pilar, a Igreja de Bom Jesus do Saivá e a Igreja de São Benedito.  

Até hoje os antoninenses também são chamados de “capelistas”, gentílico originado a partir da licença para a construção da Capela de Nossa Senhora do Pilar, em 1712. 

Em meio à negligência do Estado, o clero e a população de Antonina mantêm de pé a tradição da Festa de Nossa Senhora do Pilar, que perdura há mais de 300 anos na cidade. 

A festa é amplamente atendida pela cidade. Independentemente da religião, a celebração se tornou significativa para além da Igreja. O coveiro do cemitério municipal, César Augusto, 50, capelista de nascença, conta que mesmo com a crescente evangélica, a festa movimenta toda a região e ainda atrai turistas. 

César Augusto ao lado de igreja evangélica da cidade. Foto: João Gabriel Cordeiro.

O evento, que no ano de 2023 trouxe a Banda Djavú, grupo baiano de tecnobrega nacionalmente conhecido, ainda assim não é capaz de angariar fundos suficientes para a reforma do Santuário. A restauração do local, conforme projetos desenvolvidos em 2023 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Paraná (IPHAN-PR) em conjunto com a empresa Paiol Arquitetura e Restauro, custaria mais de 3 milhões de reais. 

A Igreja, administrada pela Diocese de Paranaguá, alega que não há verbas em caixa que poderiam suprir os gastos com o restauro. A secretária do Santuário, Maria Clara Fernandes, 21, explica que a obra só poderia ser viabilizada a partir de um investidor externo, como um filantropo, ou um político, que destinasse verbas ao projeto. 

As aposentadas Elionor Sérvullo, 85, Irene Martins, 75, e Maria Vidal, 80, vendem rifas para a Festa de Nossa Senhora e se animam para o evento. Mas, quando questionadas em relação ao estado da Igreja, as senhoras expressam sua indignação em relação à negligência da Prefeitura, que não apresenta interesse em zelar pelos patrimônios históricos da cidade. 

As moradoras ainda escancaram outro descaso da Prefeitura com o povo antoninense: até o início de 2024, não havia uma capela funerária na cidade. Anteriormente à construção da capela, os finados do município eram velados ou nas casas dos indivíduos ou nas igrejas menores da cidade, Bom Jesus do Saivá e São Benedito, que ficam a maior parte do ano fechadas. 

Igreja do Bom Jesus do Saivá. Foto: João Gabriel Cordeiro.

As senhoras contam que foram elas que tomaram iniciativa para que a capela fosse construída, visto que não era interesse da Prefeitura. Foram atrás de assinaturas e mobilizaram os cidadãos antoninenses, para que, em prol de toda a cidade, a Prefeitura acatasse o projeto e houvesse um local próprio para velar os falecidos. Antonina, apesar da baixíssima taxa de criminalidade, tem uma população cada vez mais velha, tornando a capela um local de importância na cidade. 

Enquanto não existem movimentações para os restauros dos edifícios históricos, os capelistas continuam com suas rezas e celebrações. Antes mesmo da Festa de Nossa Senhora do Pilar, os antoninenses já estavam em comemoração.  

No dia 28 de julho, teve início a Festa do Senhor Bom Jesus do Saivá, contando com uma programação de missas, procissões e celebrações com vendas e brincadeiras todos os dias, até 06 de agosto, dia do Senhor Bom Jesus do Saivá. Durante o período de festejo, apenas a Igreja Bom Jesus do Saivá – a que está em melhor estado de conservação, visto reformas em 2019 – abre suas portas, enquanto as outras duas igrejas ficam fechadas. 

Já no dia 6 de agosto, inicia-se a Festa de Nossa Senhora do Pilar, que, assim como a sua antecessora, possui uma programação especial, nesse caso muito maior, visto que está localizada ao centro da cidade. As festividades, com shows externos e de grupos locais, como a Filarmônica Antoninense, continuam diariamente até 15 de agosto, dia da Padroeira da Cidade.  

Durante a festa da padroeira Nossa Senhora do Pilar e pelo restante do ano, apenas o Santuário fica aberto ao público, enquanto as igrejas Bom Jesus do Saivá e São Benedito só abrem nas épocas de suas respectivas festas, ficando todo o restante do ano fechadas.  

A Igreja de São Benedito – a das três igrejas históricas, a que parece estar em pior estado de conservação – abre apenas ao final de dezembro e início de janeiro, próximo ao dia de São Benedito. 

Ficha Técnica:

Autores: João G. Cordeiro e Murilo Ferreira

Edição: João Marcelo Simões e Matheus Neme

Orientação da produção: José Carlos Fernandes

Orientação da edição: Cândida de Oliveira

José Carlos Fernandes
Professor do curso de Jornalismo da UFPR. Orientador do Jornal Comunicação.
NOTÍCIAS RELACIONADAS
José Carlos Fernandes
Professor do curso de Jornalismo da UFPR. Orientador do Jornal Comunicação.
Pular para o conteúdo