Até que ponto vale a pena tratar como cotidiano o abandono de um lugar que é frequentado diariamente por uma cidade inteira?
Antonina vive hoje uma crise em relação ao estado de conservação de seus patrimônios históricos, essencialmente a tríade de igrejas que fundamentaram a construção da cidade portuária: o Santuário de Nossa Senhora do Pilar, a Igreja de Bom Jesus do Saivá e a Igreja de São Benedito.
Até hoje os antoninenses também são chamados de “capelistas”, gentílico originado a partir da licença para a construção da Capela de Nossa Senhora do Pilar, em 1712.
Em meio à negligência do Estado, o clero e a população de Antonina mantêm de pé a tradição da Festa de Nossa Senhora do Pilar, que perdura há mais de 300 anos na cidade.
A festa é amplamente atendida pela cidade. Independentemente da religião, a celebração se tornou significativa para além da Igreja. O coveiro do cemitério municipal, César Augusto, 50, capelista de nascença, conta que mesmo com a crescente evangélica, a festa movimenta toda a região e ainda atrai turistas.
O evento, que no ano de 2023 trouxe a Banda Djavú, grupo baiano de tecnobrega nacionalmente conhecido, ainda assim não é capaz de angariar fundos suficientes para a reforma do Santuário. A restauração do local, conforme projetos desenvolvidos em 2023 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Paraná (IPHAN-PR) em conjunto com a empresa Paiol Arquitetura e Restauro, custaria mais de 3 milhões de reais.
A Igreja, administrada pela Diocese de Paranaguá, alega que não há verbas em caixa que poderiam suprir os gastos com o restauro. A secretária do Santuário, Maria Clara Fernandes, 21, explica que a obra só poderia ser viabilizada a partir de um investidor externo, como um filantropo, ou um político, que destinasse verbas ao projeto.
As aposentadas Elionor Sérvullo, 85, Irene Martins, 75, e Maria Vidal, 80, vendem rifas para a Festa de Nossa Senhora e se animam para o evento. Mas, quando questionadas em relação ao estado da Igreja, as senhoras expressam sua indignação em relação à negligência da Prefeitura, que não apresenta interesse em zelar pelos patrimônios históricos da cidade.
As moradoras ainda escancaram outro descaso da Prefeitura com o povo antoninense: até o início de 2024, não havia uma capela funerária na cidade. Anteriormente à construção da capela, os finados do município eram velados ou nas casas dos indivíduos ou nas igrejas menores da cidade, Bom Jesus do Saivá e São Benedito, que ficam a maior parte do ano fechadas.
As senhoras contam que foram elas que tomaram iniciativa para que a capela fosse construída, visto que não era interesse da Prefeitura. Foram atrás de assinaturas e mobilizaram os cidadãos antoninenses, para que, em prol de toda a cidade, a Prefeitura acatasse o projeto e houvesse um local próprio para velar os falecidos. Antonina, apesar da baixíssima taxa de criminalidade, tem uma população cada vez mais velha, tornando a capela um local de importância na cidade.
Enquanto não existem movimentações para os restauros dos edifícios históricos, os capelistas continuam com suas rezas e celebrações. Antes mesmo da Festa de Nossa Senhora do Pilar, os antoninenses já estavam em comemoração.
No dia 28 de julho, teve início a Festa do Senhor Bom Jesus do Saivá, contando com uma programação de missas, procissões e celebrações com vendas e brincadeiras todos os dias, até 06 de agosto, dia do Senhor Bom Jesus do Saivá. Durante o período de festejo, apenas a Igreja Bom Jesus do Saivá – a que está em melhor estado de conservação, visto reformas em 2019 – abre suas portas, enquanto as outras duas igrejas ficam fechadas.
Já no dia 6 de agosto, inicia-se a Festa de Nossa Senhora do Pilar, que, assim como a sua antecessora, possui uma programação especial, nesse caso muito maior, visto que está localizada ao centro da cidade. As festividades, com shows externos e de grupos locais, como a Filarmônica Antoninense, continuam diariamente até 15 de agosto, dia da Padroeira da Cidade.
Durante a festa da padroeira Nossa Senhora do Pilar e pelo restante do ano, apenas o Santuário fica aberto ao público, enquanto as igrejas Bom Jesus do Saivá e São Benedito só abrem nas épocas de suas respectivas festas, ficando todo o restante do ano fechadas.
A Igreja de São Benedito – a das três igrejas históricas, a que parece estar em pior estado de conservação – abre apenas ao final de dezembro e início de janeiro, próximo ao dia de São Benedito.
Ficha Técnica:
Autores: João G. Cordeiro e Murilo Ferreira
Edição: João Marcelo Simões e Matheus Neme
Orientação da produção: José Carlos Fernandes
Orientação da edição: Cândida de Oliveira