Não há quem não goste de histórias. De uma forma ou de outra, sempre existe o desejo de fantasia, desde as historinhas na infância sobre princesas e castelos até na vida adulta, sejam em filmes, quadrinhos, livros ou músicas. E que tal fazer parte de uma grande história? No RPG, inglês para “jogo de interpretação”, os participantes podem viver protagonistas, como elfos, anões, magos ou bárbaros. “É como ler um livro, só que você pode tomar as ações do personagem”, explica Marcos Mathias, gerente de desenvolvimento de software, que, agora com 33 anos, joga desde os 16.
Rennê tem 12 anos. Ele é filho de Marcos e os dois jogam RPG juntos todos os domingos. Marcos vê no jogo a chance de desenvolver algumas virtudes no filho. “O RPG explora o lado social, que os ‘nerds’ geralmente não têm. Explora a imaginação, porque ele tem que pensar no personagem. Ajuda também a tomar decisões”, diz Marcos.
O RPG de mesa é um jogo de dados e de tabuleiro. O Mestre de Jogo é quem guia a história junto com outros jogadores, que são personagens da história. Geralmente, o mestre é um jogador mais experiente, que conhece tanto o sistema numérico dos livros quanto o ambiente em que o jogo se passa. Os “mundos” do RPG são muitos: existem vários livros de ambientação, como o livro que popularizou o jogo nos anos 70, o Dungeons&Dragons, que vem junto com suas próprias regras numéricas. Existem mestres que preferem criar o próprio mundo e, às vezes, as próprias regras também.
Os outros jogadores devem criar seus personagens de acordo o sistema de regras, preenchendo uma ficha que contém dados como nome do personagem, idade, alinhamento (se o personagem é bom ou mau) e pontos de atributos, como força, destreza, inteligência, etc. É necessário também pensar em uma história de fundo do personagem, como no que ele acredita ou o que busca em sua vida, para que o jogador possa brincar com a interpretação e com as motivações do próprio personagem.
De acordo com o produtor cultural do Museu de Arqueologia e Etnologia da UFPR, Fábio Marcolino, o RPG realmente pode explorar e desenvolver capacidades lúdico-pedagógicas. Fábio está trabalhando em um livro de RPG sobre culturas indígenas brasileiras para o ensino público e espera que o trabalho possa ajudar tanto a educar as crianças sobre as culturas indígenas como a desenvolver capacidades. “O RPG trabalha a questão de a pessoa poder se expressar, do imaginário, da criatividade. E junto de todos esses ganhos que o RPG dá, claro que se soma o conteúdo que você está trabalhando no jogo”, explica Fábio.
Em busca da criatividade
Foi procurando desenvolver a criatividade que o músico Yuri Blanke decidiu jogar RPG. “Eu estava lendo sobre como desenvolver criatividade e descobri que uma maneira é você ter problemas e dar resposta a estes problemas”, explica Yuri sobre como conectou as ideias. O músico agora joga RPG todo domingo com amigos e com a sua namorada, Bruna Novak. O casal aproveita o tempo junto nesses encontros, tão diferentes dos programas normais. “É um momento de lazer para a gente. Uma coisa que podemos fazer junto. É certo que a gente vai jogar todo fim de semana”, comenta Bruna. “A gente foge da nossa rotina, não é que nem ver filme em casa todo fim de semana”, completa Yuri.
Pietro Garmatter joga três vezes por semana, com grupos diferentes. Ele acredita que os aspectos que mais acrescentam são a criatividade necessária para se criar um personagem, a habilidade para interpretá-lo no jogo e o esforço de estudar como os jogos funcionam. “Constantemente você deve imaginar, viver alguma coisa a mais”, diz Pietro. Seu irmão, João Garmatter joga junto com Pietro duas vezes por semana e pensa que o que mais acrescenta é o conhecimento. “Tem muita coisa no RPG que a gente só conhece jogando, sobre medievais, mas também de técnicas, batalhas e até culturas, estratégias e raciocínio lógico”, defende João.