seg 02 dez 2024
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Jovens investem nos relacionamentos à distância

Apesar de namorarem há um ano e seis meses, Letícia e Rafael só se viram 17 dias durante todo o tempo de relacionameto
Foto: Letícia Sequinel

Com o crescimento do acesso às novas tecnologias, os relacionamentos à distância se tornaram mais frequentes na sociedade. Segundo pesquisa realizada pelo Centro de Estudos das Relações de longa distância nos Estados Unidos em 2005, 2,9% dos casamentos do país são à longa distância e, nos três primeiros anos, um a cada dez casamentos tiveram um período de distância. De acordo com outra pesquisa do Journal of Applied Communication Research de 2010, de 25 a 50% dos relacionamentos a longa distância nos Estados Unidos são entre jovens, principalmente estudantes universitários.

No Brasil, ainda não há pesquisas sobre o assunto, porém, esta tendência se mostrou mundial. A distância pode ser causada devido a fatores sociais e econômicos, como maiores oportunidades de trabalho ou o aperfeiçoamento dos estudos. Mas, algumas vezes, os relacionamentos já surgem online. Através da internet é possível conhecer pessoas de qualquer lugar do mundo, e com as redes sociais, muito utilizadas pelos jovens, o contato com estas pessoas é facilitado.

A psicóloga Regimeri Frasson considera que o relacionamento à distância, como qualquer outro, é possível desde que as pessoas envolvidas tenham predisposição em compreender o parceiro. “Todo relacionamento amadurece com o tempo, pois ambas as partes têm a oportunidade de conhecer um ao outro e descobrir a real possibilidade de sucesso”, afirma. Segundo Regimeri, para lidar com este tipo de relacionamento não há uma idade certa, e o que é necessário é maturidade, principalmente na resolução de problemas. “O desafio é lidar com as diferenças. Nem todas as pessoas têm paciência e maturidade para entender que ninguém é igual”, ressalta a psicóloga.

Na vida real

A estudante universitária R.E., de 21 anos, conheceu seu último namorado, da Suíça, através de um site de chats internacional. “No dia que eu entrei eu conversei com diversas pessoas e ele foi uma das únicas que não pediu que eu mostrasse uma foto nua, seminua”, conta a jovem. O namoro que durou dois anos e dez meses, começou como amizade. Quando se viram apaixonados, o suíço veio visitá-la no Brasil. Na véspera da vinda do namorado, R.E.  estava, além de nervosa e ansiosa, com medo de que não fosse aquilo que havia visto pela internet. Ao conhecê-lo, percebeu que aquele era o mesmo com quem conversava todos os dias. “No namoro à distância é tudo muito intenso. A saudade, a alegria de reencontrar no aeroporto, a paixão e as brigas também” conta.

Com o passar do tempo, o casal percebeu que não teria um futuro, e tudo acabou virando amizade. “É interessante como duas pessoas tão diferentes, de partes diferentes do mundo, conseguem criar uma empatia tão forte”, diz a universitária. Com o processo do término tranquilo, a jovem afirma ter aprendido com o relacionamento, e que as diferenças culturais e pessoas fizeram-na crescer emocionalmente. “Tenho uma visão de mundo mais aberta, inclusive para os relacionamentos afetivos. Eu aprendi que meu relacionamento durou o que tinha de durar”, completa.

Já Letícia Sequinel, 16 anos, namora há um ano e seis meses, e faz planos futuros com Rafael Fernandes, 20 anos. Ela mora em Curitiba, ele em Simonésia, interior de Minas Gerais. Os dois se conheceram pelo Twitter, por um assunto em comum, e começaram a conversar. Depois de três anos se falando pela internet e por telefone, resolveram se conhecer pessoalmente, e ele foi visitá-la. “No início, tivemos muitos problemas em relação à confiança. Apesar de eu acreditar muito nele, havia muita dúvida de ambos os lados”, confessa Letícia. Com 1.200 km de distância, o casal consegue se visitar de seis em seis meses, já que ele trabalha e ela estuda. Quando se encontram, buscam um ao outro no aeroporto e priorizam o tempo a sós.

Letícia diz ter aprendido a ter paciência e acima de tudo, confiança. “Manter um relacionamento a distância é bem difícil, tem que confiar na pessoa extremamente, por não saber quase nada do que ela está fazendo, quem está ao seu redor”, afirma a adolescente.

Cuidados

O anonimato da internet permite, com mais facilidade, disfarces. Segundo Regimeri, não há uma fórmula secreta de prevenção às mentiras em sites de relacionamento ou bate-papos de internet. “A forma mais indicada é o cuidado e a falta de excessos. Ficamos mais à vontade quando não temos alguém nos olhando, nos avaliando. A probabilidade da conversa fluir e ser interessante é maior”, avalia a psicóloga.

Ela afirma, ainda, que os pais também devem ficar atentos quanto às mudanças de comportamentos dos filhos. “É importante verificar o tempo com que os filhos se predispõem a estarem somente em frente ao computador, cuidando para que eles tenham uma vida ativa e saudável, mesmo com um possível relacionamento feliz, via internet”, aconselha.

Marilei Sequinel, mãe de Letícia, ficou preocupada por não conhecer o rapaz e sua família, e acompanhou a filha quando foi a Minas Gerais visitar o namorado. “A primeira vez que ele veio nos visitar foi complicado, porque não sabíamos como ele era e não conhecíamos a família dele, só sabíamos o que a gente via pela internet”. Após conhecer a família do Rafael, Marilei afirma ficar mais tranquila quanto ao namoro da filha, apesar da distância. Com a confiança conquistada, Letícia vai pela primeira vez visitar o namorado sozinha, este mês.

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