Junho vermelho é o mês da consciência na doação de sangue, que está associado ao Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado nesta quarta-feira (14). A campanha e a data comemorativa pretendem reconhecer e celebrar a ação dos doadores, despertar a adesão de novos voluntários e difundir a relevância de doar sangue.
A iniciativa, no Brasil, é crucial para reverter as baixas dos bancos de sangue e para convocar novos doadores, visando aumentar a participação da sociedade. Esse objetivo é justificado, afinal, os dados do governo de 2022 mostram uma lacuna sanitária que precisa ser preenchida, uma vez que menos de 2% da população brasileira é doadora, número inferior ao que a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda.
Nos últimos anos, algumas condições foram adicionadas nos processos de coleta sanguínea como uma forma de estimular o crescimento de doadores no país: a meia entrada em eventos artísticos, culturais e desportivos, direito a uma folga remunerada no ano, isenção de taxas de inscrição para concursos públicos e, conforme a legislação estadual e municipal, atendimento prioritário em determinados serviços e locais (caixas, guichês, filas, entre outros).
Além da satisfação pessoal, Gustavo Beckert, de 23 anos, doador há cinco anos, diz já ter usado a meia entrada, um dos benefícios concedidos por lei aos doadores de sangue em algumas situações: “Fui a alguns shows recentemente [risos]. Fui a um show com cinco bandas em outubro do ano passado e outro em fevereiro deste ano”, conta.
Gustavo tem o tipo sanguíneo O-. Diz ele que sempre quis doar sangue, principalmente após saber que fazia parte do grupo de doadores universais. Aos 18 anos, percebeu a relevância de ser um doador para a manutenção da saúde pública e resolveu começar a fazer parte dos 3 milhões de brasileiros que são voluntários anualmente.
Sangue para quem precisa
As pessoas com câncer também são tratadas com transfusão de sangue, como é o caso de Lisiane Cardoso, de 42 anos, que segue em tratamento contra o Linfoma — câncer do sistema linfático — desde junho de 2022. O diagnóstico ocorreu durante a pandemia, quando seu filho foi infectado e internado pelo vírus. Na ocasião, Lisiane se sentia constantemente cansada e com dores intensas nas costas e no estômago. Logo, começou a fazer exames periódicos até descobrir a doença que já estava em estágio avançado. A avaliação médica não foi favorável, uma vez que ela disse que seria difícil escapar.
Consultora comercial e ex-doadora de sangue, Lisiane reside em Florianópolis, mas frequentemente viaja para Curitiba a fim de realizar os procedimentos médicos necessários. Em abril de 2023, a consultora publicou um post no Instagram convocando doadores de sangue para ajudá-la. Inicialmente, era necessário que 75 voluntários do tipo sanguíneo O- (tipo universal que só pode ser doado entre indivíduos do mesma classificação sanguínea) entrassem em contato com o Hospital Erasto Gaertner para solicitar doação. A postagem, por fim, ganhou repercussão nas redes sociais, chegando a ter mais de 150 doadores. A transfusão foi realizada com êxito no final de abril, graças ao alcance da publicação.
A catarinense relata que os familiares e os amigos verdadeiros foram fundamentais para enfrentar uma das fases mais difíceis de sua existência, o que ela considera como um período de grande aprendizado pessoal. “Algumas vezes, damos importância a coisas que não seriam importantes, ignorando o que é relevante na vida, como as pessoas com as quais pode contar, as pessoas que chegam à sua vida e surpreendem-no positivamente. No entanto, de modo geral, apesar de ser um processo doloroso, acredito que foi o meu autoconhecimento”, diz.
Próxima da recuperação, Lisiane já pode voltar a caminhar na praia e cozinhar nas reuniões dos familiares. Sobre o presente, a consultora anseia pela volta aos trabalhos, pela ida aos cinemas, shows e ambientes com aglomerações de pessoas. No que diz respeito ao futuro, espera-se que esteja em boas condições de saúde e que alcance os seus objetivos pessoais e profissionais.
O que acontece com o sangue após a doação?
O biomédico no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie Ramon Rodrigues considera a transfusão de sangue como um processo complexo, por envolver um componente com diversas variáveis — o próprio sangue — e a vida de outras pessoas, além de ser um processo restrito a um grupo pequeno de pessoas que podem doar sangue. Afinal, alguns fatores, como doenças hematológicas, cardíacas, renais, e pulmonares já desqualificam o sangue como potencial doador.
Ainda que existam esses requisitos técnicos que impeçam a doação, é importante procurar os postos de doação, onde haverá acompanhamento e orientações dos profissionais da saúde. O biomédico explica que a transfusão de sangue é usada com frequência em cirurgias, traumas, sangramentos gastrintestinais e partos em que há a necessidade de repor grandes perdas sanguíneas. Algumas doenças genéticas como a Talassemia e a Doença Falciforme afetam o sangue. Os portadores dessas doenças necessitam de sangue regular para suprir as deficiências.
O sangue tem quatro principais componentes: concentrado de hemácias, concentrado de plaquetas, plasma e crioprecipitado. Dentre esses, o concentrado hemácia tem validade de 35 a 42 dias; a plaqueta dura 5; e o plasma e crioprecipitado, como ficam congelados, têm o tempo limite de cerca de um ano. Separando os hemocomponentes entre si por meio da centrifugação, poderão beneficiar mais de um paciente com apenas uma unidade coletada. Após a separação e refrigeração, os componentes são distribuídos para os hospitais.
Há uma logística sanitária que cuida e manipula os sangues desde as coletas nos hemocentros até os receptores. “O sangue doado passa para o banco de sangue, que, no caso do Paraná, é o Hemepar. O sangue é fracionado; são feitos inúmeros testes e em seguida ele vai para um banco interno dos hospitais. Só depois é usado pelo paciente”, explica.
Sobre a transfusão de sangue, Ramon relata que ela pode ser executada por diversos fatores, sendo a mais comum a realização de cirurgias. Além disso, existem três modalidades de transfusão disponíveis no Hospital Mackenzie, onde o biomédico atua. “Há as reservas, feitas antes dos procedimentos cirúrgicos; a emergência, sendo 10% dos casos, quando precisa de transfusão imediata; e a urgência, cerca de 40% dos casos no hospital. Na urgência se tem um período maior de aceitação desse hemocomponente, ou seja, até dentro de três horas precisa ocorrer a transfusão.”
A história da transfusão de sangue
A crença de que o sangue dá e sustenta a vida vem desde a pré-história, mas para chegar na descoberta da real importância e uso adequado, foram necessários séculos de estudo.
Lugares para doar sangue em Curitiba
Em homenagem à campanha Junho Vermelho, alunos da UFPR criaram uma campanha de conscientização, e já incentivaram uma pessoa a doar.
Confira também os locais disponíveis para doação na capital paranaense.
Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar)
De segunda a sexta-feira, das 7h30 às 18h30, e aos sábados, das 8h às 18h.
Endereço: Travessa João Prosdócimo, 145, Alto da XV.
Biobanco do Hospital de Clínicas (HC)
De segunda a sexta-feira, das 8h30 às 16h30.
Endereço: Avenida Agostinho Leão Junior, 108, Alto da Glória.
Hemobanco
De segunda-feira a sábado, das 8h às 13h30.
Endereço: Rua Capitão Souza Franco, 290, Batel.
Hospital Erasto Gaertner
De segunda a sexta-feira, das 10h às 17h.
Endereço: Rua Doutor Ovande do Amaral, 201, Jardim das Américas.
Hospital Nossa Senhora das Graças
De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 12h.
Endereço: Rua Alcides Munhoz, 433, Mercês.
Santa Casa de Curitiba
De segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30 e das 14h às 17h30. Aos sábados, das 8h às 11h30.
Endereço: Praça Rui Barbosa, 694, Centro.