“[Lá] Você vai comprar um pacote de arroz e tem um Pikachu na embalagem”, comenta Myllena Silva, autora do blog Tadaima Curitiba, que divulga cultura japonesa na cidade. Embora a frase esteja se referindo ao Japão, ela poderia se aplicar muito bem aos vários festivais japoneses que ocorrem em Curitiba ao longo do ano. O mais recente deles foi o Haru Matsuri (Festival da Primavera), realizado no final de setembro. Evento que mais uma vez mostrou como tradicional e o pop se misturam na cultura japonesa: quimonos e cosplays caminhando lado a lado, apresentações de tambores Taiko e J-Pop ocorrendo no mesmo palco; tudo coexistindo.
O que parece conflitante para o público não habituado com a cultura japonesa, é visto atualmente com naturalidade pelos organizadores do evento. “A gente não tem dificuldade nenhuma”, afirma Yoshi Itice, membro da organização, sobre o equilíbrio entre esses dois aspectos da cultura japonesa nos Matsuris. “O jovem pode ir mais para esse lado pop e os tradicionais continuam preservando a cultura tradicional”.
O contrário, porém, também acontece. No último festival, ao mesmo tempo que se via senhoras praticando Rizumu Taissô – uma forma de ginástica ao som de músicas populares japonesas – o grupo de Yosakoi Soran Wakaba – uma dança tradicional nipônica – era formado em sua grande maioria por jovens, algo que, segundo Myllena, reflete bem o Japão atual. “A gente daqui vê essa coisa mais como uma dicotomia, de um lado é o tradicional e de outro é o pop”, comenta. “No Japão essas duas coisas convivem muito bem”.
Duas décadas de história
Ao se conversar com os organizadores e os frequentadores mais assíduos, a impressão que se tem é de que esses dois mundos sempre conviveram em harmonia nos Matsuris. No entanto, apesar de o primeiro festival de cultura japonesa em Curitiba ter sido realizado em junho de 1991 no Nikkei Clube, no Uberaba, a abertura para a cultura pop só ocorreu no Haru Matsuri de 2006. Nesse ano o evento foi realizado no Museu Oscar Niemeyer, uma vez que a Praça do Japão, onde os festivais aconteciam desde 1993, não comportava mais o público do evento.
Nos anos seguintes, essa abertura aconteceria principalmente de duas formas: nos Mini Matsuris, pequenas feiras mensais realizadas na Praça do Japão; e no Palco Jovem, um espaço paralelo ao Palco Principal do festival que receberia o Matsuri Dance e shows variados.
Em fevereiro de 2009, porém, a organização do evento resolveu acabar com os Mini Matsuris, após uma série de reclamações dos moradores do Batel devido ao barulho e às constantes confusões que ocorriam nesses eventos. Mais tarde, em junho do mesmo ano, houve o fim do Palco Jovem, pois a concorrência entre o som dos dois palcos atrapalhava as atividades.
Apenas em 2012 a organização resolveu retomar algumas das atividades do Palco Jovem, como o Matsuri Dance e o concurso de cosplays – agora como parte da programação do Palco Principal. Desde 2013, os festivais são realizados na maioria das vezes no Expo Renault, no Parque Barigui, onde shows tradicionais e de cultura pop têm convivido lado a lado sem grandes problemas.
A paz entre ambos os aspectos do Matsuri é tão enraizada agora que os frequentadores mais antigos, quando questionados sobre as principais mudanças pelas quais o festival passou, praticamente não citam a entrada da programação pop. Ao invés disso, eles acabam se voltando para outros aspectos, como a maior abertura para o comércio e as diversas mudanças de local pelas quais os Matsuris passaram. “Tem essa coisa de entrar um pouco da comercialização”, conta a senhora Lúcia, que participa dos festivais desde a primeira edição em 1991. “Mas a entidade procura brecar isso, quem participa aqui, de preferência, são entidades da comunidade nipo-brasileira”.
“Antes o evento era em espaços menores, vinham menos pessoas, agora que o espaço aumentou parece que vem mais gente”, cita Paola Hitomi Murakami, que desde os oito anos faz apresentações e monta barracas para o Nikkei nos Matsuris. “As atrações, algumas coisas mudaram também, mas nada muito significativo”.
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