Na última sexta-feira (5/3), áudios enviados pelo deputado estadual Arthur do Val em um grupo do WhatsApp vazaram na internet, revelando falas machistas do parlamentar com relação às mulheres ucranianas. Do Val, que esteve na Ucrânia por cinco dias, relata nas gravações que as refugiadas da guerra eram “fáceis porque eram pobres”, bem como insinua que teria tirado vantagem delas por estarem em situação de vulnerabilidade.
As falas ofensivas do deputado, conhecido como Mamãe Falei por seu canal do Youtube, ainda comparam as mulheres na fila de refúgio com uma balada no Brasil. “[…] Aqui minha carta do Instagram, cheia de inscritos, funciona demais. Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade. Se pegar a fila da melhor balada do Brasil, na melhor época do ano, não chega aos pés da fila de refugiados aqui”, foram algumas das frases ditas por ele.
O parlamentar vai enfrentar uma investigação da Comissão de Ética da Câmara dos Deputados e poderá perder o mandato. Ele reconheceu a autoria dos áudios, porém não acredita que deveria ser cassado: em defesa, afirma que as gravações não foram compartilhadas em um grupo “de política”.
O desdobramento do caso coincidiu com a semana do Dia Internacional da Mulher, responsável por representar um ideal cada vez mais necessário — o respeito. As mensagens privadas do deputado provam que, mesmo que os direitos das mulheres avancem cada vez mais, ainda há homens que as enxergam como submissas, até nas situações mais extremas.
As mulheres sabem que cada dia é uma guerra particular e, quando estão mais vulneráveis, como na Ucrânia, a violência e a opressão são ainda piores. O mínimo, como ser respeitada, ainda é difícil. Mesmo que pareça “um caso isolado”, existem milhares de Do Vais por aí, em todo o planeta.
Em pesquisa realizada pelo movimento Think Olga, 96% das mulheres entrevistadas relataram já terem sido assediadas em espaços públicos. No transporte público brasileiro, por exemplo, as mulheres foram mais alvo de assédio sexual do que de roubos, de acordo com dados reunidos pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão com apoio técnico e institucional da ONU Mulheres.
Trinta e seis por cento das 2 mil mulheres entrevistadas relataram passar por importunação sexual, mais do que os 37% que expuseram assaltos. Ainda conforme o levantamento, a maioria das mulheres classifica o assédio como uma preocupação constante nos transportes coletivos.
Mas não apenas neles: no trabalho, na política e até em casa as mulheres enfrentam a violência de gênero, seja ela moral, sexual e/ou física. Até os ataques na internet são mais fortes contra elas — como no caso de Jade Picon, a participante do Big Brother Brasil 22 que recebeu mais hate do que seu colega de confinamento e rival no jogo, Arthur Aguiar.
Neste cenário, a fala do deputado estadual é só mais uma confirmação de que as mulheres ainda são discriminadas apenas pelo fato de serem mulheres. As ucranianas não estão tentando agradar aos homens, mas enfrentam uma crise humanitária. Para elas e todas as mulheres, muita força. Precisamos cada vez mais dela.
***O texto exprime a opinião da equipe do Jornal Comunicação