qua 17 abr 2024
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Noguchi: “Eu fui escolhido para a luta”

Fábio Noguchi, 47, conhecido por treinar grandes nomes do MMA, como Anderson Silva, fez do ensino da luta livre a sua vida. (Foto: Divulgação)
Fábio Noguchi, 47, conhecido por treinar grandes nomes do MMA, como Anderson Silva, fez do ensino da luta livre a sua vida. (Foto: Divulgação)

Em 1989, Fábio Noguchi deixou os ringues por causa de uma úlcera no estômago. Desde então, trocou a vida de lutador de Muay Thai pela vida de treinador ou, como o chamam seus alunos, mestre. Para Noguchi, o verdadeiro aprendizado de um lutador começa quando ele se torna um professor. “É na faixa preta que você começa a aprender mesmo, a entender de luta. Todo o dia você aprende com o aluno, é ele que é teu professor.”

O mestre começou a dar aulas em 1986, após passar no exame para faixa preta no Rio de Janeiro junto ao seu treinador da época, Reginaldo “China”. Como em toda a sua carreira de lutador, a oportunidade para fazer o exame pareceu cair do céu; seu mestre Reginaldo iria fazer o teste para receber o segundo dan (uma das graduações da faixa preta) e convidou Noguchi para ir junto tentar ganhar a faixa preta. O examinador era Nélio Naja, o introdutor do Muay Thai no Brasil. Mestre e aluno conseguiram passar no exame e Fábio Noguchi retornou a Curitiba para receber a faixa preta de seu professor e com isso, iniciar sua própria carreira.

Fábio Noguchi conta que nunca teve que fazer grandes esforços para levar a luta como profissão. Ele acredita que a luta o escolheu e não havia nada que ele pudesse ter feito para ser diferente. “As coisas sempre foram se encaixando. As pessoas param de treinar porque não tem tempo, comigo isso não aconteceu”, conta ele, que estudava de noite, trabalhava de madrugada e usava as tardes para treinar, porque, “não existe jovem que goste de passar as tardes dormindo em casa”.

O sonho de abrir uma academia própria já estava na cabeça, mas viria mais tarde, em 1991. Antes, ele já havia tentado conciliar a carreira de lutador com a de professor e empresário ao inaugurar a academia Força Livre, em 1986, mas o estresse foi grande e ele optou por ganhar experiência como treinador na academia Chute Boxe durante seis anos.

Foi nesse período que teve a úlcera no estômago. “Eu dava duas aulas de manhã, duas a tarde e duas a noite todos os dias. Eu era muito jovem e era uma responsabilidade muito grande”, explica. A úlcera fez com que ele diminuísse o ritmo e optasse por encerrar a carreira de lutador, continuando apenas como professor.

É com orgulho que ele conta que em 1991, o dono da Chute Boxe, Rudimar Fedrigo, saiu candidato para vereador e lhe ofereceu a administração da academia, mas Noguchi optou por se aventurar em um negócio próprio e abriu a Academia Noguchi, que funciona até hoje na Marechal Deodoro, próxima à praça Carlos Gomes. O início da academia foi uma das poucas vezes em que Fábio Noguchi encontrou dificuldades, mas ele hoje acredita que foram poucas e normais no começo de qualquer negócio. “Às vezes você está com tudo certo e surgem alguns espinhos, como dificuldade no alvará, mas as coisas sempre aconteceram com mais facilidade para mim”.

Alunos nunca faltaram, sempre tem gente nova subindo as escadas da academia buscando por informações para matrícula ou apenas querendo saber o que funciona lá. E nessas entradas e saídas, o mestre Noguchi já formou alguns faixas preta bem importantes no cenário do MMA internacional, como Anderson Silva, ex-campeão mundial da categoria peso médio do UFC. Além do “Spider”, outros lutadores formados na Academia Noguchi foram para o exterior ensinar o método aprendido em Curitiba. “Temos vários professores nossos nos Estados Unidos dando aula e que estão toda a hora no UFC. Eles levam o nome da academia de lá, mas também levam o nosso trabalho e isso é muito bom”, afirma o professor. Mesmo tendo formado todos esses lutadores habilidosos, Fábio Noguchi não parece se importar com a fama. Para ele, ser famoso é só uma questão de aparecer mais na mídia. “Eles têm talento, mas todos nós temos um talento. Eles são gente normal, gente de casa”, completa.

Noguchi já recebeu vários convites para trabalhar no exterior mas por enquanto não aceitou nem pretende aceitar nenhum, acredita que seu lugar é no Brasil, fazendo o melhor que pode para seu esporte e para construir um legado para sua academia.

O Mestre da Praça

Fábio Noguchi mora a apenas uma quadra de sua academia e é conhecido na região da praça Carlos Gomes. Vizinhos e até mesmo gente passando pela rua, todos o cumprimentam com um: “Fala aí, mestre!” e, não raro, o mestre responde chamando-os pelo nome. “Ele conhece todo mundo, lembra até o nome. Tem uma memória que eu nunca vi”, brinca Rodrigo Cavalheiro, aluno de Fábio Noguchi há seis anos.

Noguchi sabe que a maioria de seus alunos passa mais tempo na academia do que em qualquer outro lugar e isso acaba tornando o espaço uma segunda casa para os lutadores. Essa relação de proximidade acaba proporcionando trocas de experiências entre professores e alunos que vão além dos ringues. “Os alunos passam tanto tempo aqui que acabam contando alguns problemas, e eu, como sou um pouquinho mais velho, posso ajudar dando alguns conselhos”, afirma Noguchi.

Os funcionários da academia, que também são alunos, afirmam que sempre que precisam de conselhos para a vida fora da luta procuram o mestre Noguchi, pois sabem que ele já enfrentou problemas parecidos e pode dar conselhos baseados em experiência própria. “A maior lição que já aprendi com o mestre é que se você comete um erro, não pode pagar na mesma moeda”, diz Lázaro Cavaxa, o “Cubano”, que veio desse país e enfrentou muitas dificuldades logo que chegou ao Brasil, mas encontrou na luta e na figura do mestre Noguchi a compreensão e o apoio que precisava para se estabelecer por aqui.

Fábio Noguchi acredita que as artes marciais têm essa função de ajudar as pessoas a expressar suas emoções, mesmo que essa não seja a primeira intenção de quem procura o esporte. “Às vezes a pessoa briga em casa, vem cá, treina, soca, chuta, troca duas palavras comigo e volta outro para casa. As pessoas vem aqui procurar uma aula e encontram também outras coisas”, finaliza.

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