O filme brasileiro “Nova Dubai” (2014) fez parte da mostra Novos Olhares no 4º Festival Olhar de Cinema de Curitiba. O média-metragem foi dirigido por Gustavo Vinagre e se passa em uma cidade de classe média do interior de São Paulo.
O filme tem um tom biográfico. Depois de uma longa temporada de estudos em Cuba, Vinagre volta à cidade onde viveu a infância e adolescência, São José dos Campos. No retorno, ele se surpreende com o aumento de construções que diminuíram espaços de convivência da cidade. Como maneira de exteriorizar o que sentia, produziu a obra Nova Dubai, em que a especulação imobiliária é a discussão central. A narrativa se aproxima ainda mais do autor no quesito elenco. O diretor e um amigo de infância atuam na trama como protagonistas. Outros colegas e, até, a mãe de Gustavo também participam do filme.
Dentro da produção, os tópicos mudam rapidamente, com diferentes takes e personagens, em uma tentativa de associação com os hyperlinks. A internet, aliás, é um dos elementos da trama. O filme sugere que a falta de espaço para convivência na cidade canaliza a busca de experiências para a internet. Neste contexto, a procura por sensações individuais predomina.
Cenas de sexo
Aos desavisados, frequência de cenas de sexo explícito pode espantar. Isso porque a sexualidade dos corpos, tema estudado por Vinagre, influenciou na produção do filme. A ideia é relacionar a ocupação da cidade com a ocupação dos corpos e trazer à obra o que o autor chama de “pornô terrorista”.
Em entrevista ao Jornal Comunicação, Gustavo Vinagre comentou a obra e a cena audiovisual brasileira:
Jornal Comunicação: Quais temáticas te levaram a criar filme?
Gustavo Vinagre: Foi basicamente o choque com a paisagem que está mudando e com a especulação imobiliária. Com isso, as pessoas não têm mais espaço de convivência público e, assim, elas canalizam isso tudo para a internet e outras coisas individuais.
JC: Como ele foi recebido pelo público?
GV: No Brasil as sessões são bem legais, as pessoas são receptivas. No exterior, ele estreou na Itália, em Torino. E lá as pessoas riam muito, muito. Depois eu percebi que os italianos são assim: qualquer coisa relacionada a sexo eles reagem dessa forma. Já em Roterdã me surpreendeu porque as pessoas saíram e, supostamente, a Holanda é um país super liberal. Em Nova York foi bem também. Em geral, as pessoas vão sabendo o que vai ser visto, daí os choques são minimizados.
JC: Então, o Brasil está mais preparado para filmes com cenas de sexo?
GV: É difícil dizer, porque o público de festival é muito específico. E eu sinto que, na Holanda, as massas, em geral, vão ver filmes nesses festival. Não é só “cinéfilo”. Vão as pessoas que tão na rua. E aqui a coisa é mais fechada ainda. As pessoas ainda não se sentem impelidas a ver um filme em um festival.
JC: E cena brasileira de produção audiovisual? Você acha que ela está ganhando espaço?
GV: Acho que sim. Tem muita gente fazendo cinema independente. Os incentivos, também, têm aumentado. Acho que estamos caminhando para um crescimento.