seg 04 nov 2024
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O futebol em ritmo de samba

Música. Futebol. Paixão. Esses são os elementos que compõem o Samba Futebol Clube. Peça que trata das diversas interpretações sobre o futebol que existem em todo o Brasil, através de  canções de diferentes estilos, poemas e um pouco da história do esporte.

A peça surgiu como uma ideia de João Pimentel para o diretor Gustavo Gasparani. A princípio ele ficou receoso em falar de futebol, mas acabou aceitando e desenvolvendo a projeto a partir da pesquisa que Pimentel realizou. “Eu estudei uma forma de transformar o futebol em dramaturgia”, explica o diretor. “O principal é mostrar como o futebol é no Brasil, a paixão dos torcedores de todos os locais”. Com o intuito de imitar um time de futebol, a peça foi planejada inicialmente para ter 11 atores. Porém, esse número foi reduzido para oito, visto que seria difícil acomodar tantas pessoas atuando, cantando e dançando em palcos menores.

Samba Futebol Clube anima a platéia com músicas desde o início até o fim do século XX. (Foto: Moreno Valério)
Samba Futebol Clube anima a plateia com músicas desde o início até o fim do século XX (Foto: Moreno Valério)

Lembrando-se de clássicas locuções de jogos em rádio, de início já se percebe o tom leve dado à obra. Divididas em dois atos, um focando nos torcedores e outro nos jogadores, a peça chega a ter quase duas horas de duração, com direito a um meio tempo anunciado por um juiz a caráter.

Os torcedores que são representados no palco cantam, em sua maioria, músicas das torcidas da cidade de onde vem o Samba Futebol Clube: o Rio de Janeiro. Fazendo piadas clássicas, como o botafoguense deprimido, o fluminense como a torcida pó-de-arroz e vascaínos sempre vice, a trama não cai na mesmice e nem se limita aos clubes da cidade maravilhosa. Há também canções  interpretadas por torcedores de clubes menores como o XV de Piracicaba, por exemplo. É nesse ato que é apresentada a visão que o brasileiro tem do futebol. Seja pelos textos, pelas músicas ou até mesmo nas interpretações, nota-se a particularidade do torcedor tupiniquim, representado em toda sua diversidade de cor e classe, seu amor pelo esporte e pelo seu time.

No ato que apresenta os jogadores de futebol, é retratada a relação com a mídia, o estrelismo e a pressão de jogar em um clube. Momentos tensos e de luta, como a ditadura militar e  o caso do surgimento do Bom Senso FC, não ficam de fora. Além das brincadeiras com as propagandas  que permeiam a vida das celebridades do futebol – destaque para a paródia com Head and Shoulders e o inglês do Joel Santana – a peça também traz um momento de reflexão ao relembrar jogadores que foram esquecidos ao longo da carreira.

Embora a atenção esteja voltada para os atores e as músicas, a obra traz recursos multimídia que dão uma nova dimensão ao teatro. Como um telão ao fundo do palco, utilizado tanto para ilustrar algumas das cenas como para interagir com os atores.  Outro detalhe interessante é a iluminação que, mesmo sendo sutil, se faz presente nos momentos e assume as cores de cada clube quando suas canções são interpretadas.

Em meio a textos de Nelson Rodrigues, Aramando Nogueira, Carlos Drummond de Andrade e músicas como “Um a zero” de Pixinguinha, “Touradas de Madrid” de Carmem Miranda, “Futebol para principiantes” de Márcia Castro e “Fio Maravilha” de Jorge Ben Jor, o público se entretém e não percebe as quase duas horas de espetáculo passar.  Ao encerrar, uma música mais atual dá o tom e ajuda aqueles que não conhecem muito da MPB: “É Uma Partida de Futebol” da banda Skank.

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