sex 19 abr 2024
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Perfil: o homem por trás das cercas palito

Como Remy Freder, microempresário curitibano, popularizou o design da cerca de palito para todo Brasil

Remy Freder passaria facilmente despercebido como mais um senhor simpático e prestativo, talvez com alguma história curiosa para contar de seu passado. De fato. Basta uma rápida troca de ideias para arrancar que por trás do sorriso e da expressão simples, há uma mente inovadora, responsável pela criação da popular “cerca palito”, vista em todos os cantos do país.

Antes da invenção

O empreendedor, nascido em Cruz Machado, é o quarto de dez filhos, e pertence à terceira geração de poloneses que se instalaram no Paraná. Trabalhou com o pai na juventude, até se mudar para Curitiba, onde abriu um armazém em sociedade, o primeiro de seus muitos negócios.

Sempre muito disciplinado e dedicado ao trabalho, Remy alistou-se em 1969 e serviu à Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. Lá, pode testemunhar ao vivo o lendário “Milésimo Gol do Pelé”, no estádio Maracanã.

Remy Freder e sua esposa Lucia (Foto: Schrilei Freder)

De volta a Curitiba, agora casado, abriu uma nova empresa no segmento de pré-moldados em concreto, ramo no qual faria história. Na década de 1990, cria a conhecida cerca paliteiro, que se espalhou por todo o Brasil.

Ideia milionária

O design surgiu em 1991, quando um síndico do litoral paranaense, aborrecido com as tábuas do muro que não paravam de desmanchar, pediu a Remy uma cerca só com os palanques. “De começo achei a ideia absurda. Onde já se viu uma cerca assim, sem as tábuas”. Logo, contudo, enxergou oportunidade. A cerca de concreto apareceu de forma simples e genial, saindo mais barata e duradoura. “Você monta e já está pronta. É só levar para o local. Também é bem mais resistente e segura. Não tem apoio em cima e não perde a visibilidade e ventilação do terreno”.

Depois do síndico veio uma mulher de Curitiba. Ela viu o muro curioso na praia e buscou o criador para conseguir um igual para seu terreno. 

Assim que a ideia chegou à capital, virou febre. “Nós chegamos a ter 90 dias de pedidos em fila de espera”, lembra Remy. A invenção foi para o Brasil inteiro quando o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) decidiu aplicar em todas as suas escolas, conta Freder, orgulhoso, mas logo desmancha a expressão. 

Em quatro ou seis meses, a criação passou a ser copiada por outras empresas. Com o tempo, a produção em escala e má qualidade manchou a imagem do produto, o que diminuiu muito o número de pedidos na empresa de Remy.

“Teria ganho muito dinheiro. Foi uma ideia milionária mesmo”, diz. O problema: nunca foi patenteada. Remy explica que nunca acreditou que alguém pudesse ganhar dinheiro “sem trabalhar”, apenas com uma ideia. Além disso, como seu ídolo pessoal, Santos Dumont, diz criar para as pessoas e não para si próprio. Por isso, não vê problema com as adaptações do seu trabalho e não faria sentido segurar a invenção para si próprio.

Confessa que ainda dói ver grandes parques e instituições públicas, como os campi da Universidade Federal do Paraná, cercados pelo seu modelo, sem ter ganhado um centavo por isso, mas fala com firmeza: “Não voltaria atrás”.

Hoje, três décadas depois, o empreendedor vive em uma casa simples com a mulher, Lucia, mas continua na ativa. Ao ser questionado sobre planos futuros, ele descreve inovações que podem se tornar muito populares nos próximos meses. O trabalho com uma arquiteta busca adaptações da cerca palito que sejam mais agradáveis aos olhos – “e mais chamativas também”, acrescenta, animado. “Temos algumas com um detalhe curvo, que quando visto de lado vai fazer uma onda no muro. Vai tirar (de novo) a impressão de uma cerca comum”.

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