Atualmente, uma prática que se tornou comum entre os adolescentes é a criação de perfis fake em redes de relacionamento. Muitas vezes baseados em pessoas famosas e personagens de livros e filmes, os perfis nem sempre são apenas brincadeiras inocentes.
Fake é uma palavra de origem inglesa que significa “falso”. Essa prática serve, em geral, para esconder a verdadeira identidade do criador ou para homenagear um ídolo.
De acordo com o psicólogo e psicoterapeuta Leonardo Fd Araujo, a atividade pode ser saudável em casos como as homenagens. “Do ponto de vista psicológico, não haveria problemas”, afirma. Ele acredita que o adolescente cria uma máscara nas redes sociais para se auto-afirmar, mas que é preciso cuidado. “É uma tentativa de chamar a atenção e uma busca por aprovação. Mas a partir do momento que tal perfil fake esteja prejudicando outras pessoas ou causando transtornos, acredito que seja algo grave”, completa.
Quando se passa dos limites
Outros tipos de fakes também podem ser considerados uma forma de agressão praticada por quem se esconde atrás do perfil. Para imitar uma pessoa real, copiam o nome, as fotos, os amigos e todas as informações de outra pessoa, se passando por ela. Outras vezes, copiam apenas as fotos, com o nome e o restante das informações inventadas.
“Se um adolescente cria um perfil falso se passando por um colega de escola e o usa para gerar conflitos e espalhar boatos, é algo bastante preocupante”, informa Araujo. Nessas situações, as extensões dos danos causados não são consideradas por quem cria o fake. O psicólogo acredita que essas atitudes são amparadas pela sensação de anonimato e precisam ser reprimidas. “Caso esse adolescente não seja repreendido pelos pais, pode-se criar um sentimento de ‘pode tudo’, piorando ainda mais a situação”, pondera.
Você sabe com quem está falando?
Quem passou por alguma dessas situações, garante que a experiência é traumática. Mateus Yoshitani é um exemplo. Ele conheceu uma garota chamada Amanda Assis na internet e começou a se relacionar com ela. A garota dizia ser do Mato Grosso do Sul e Mateus mora no Paraná. Ele viajou para Curitiba e encontrou, em um shopping, uma menina idêntica a Amanda. “No começo eu tinha ficado meio feliz, porque pensei que realmente tinha encontrado minha namorada por acaso. Mas eu achei bem estranho, porque ela é do Mato Grosso do Sul e não tinha motivo para estar em Curitiba.”, lembra.
A menina que Mateus encontrou era, na verdade, Mirella Buttura. Foi assim que ele descobriu que Amanda era um fake de Mirella. ”Eu fiquei muito triste com isso, descobrir que minha namorada não existiu foi muito difícil”, lembra o garoto. Mateus cobrou explicações de Amanda, mas isso não alterou o que o garoto sentia. ”Eu ainda não superei completamente. Todos os dias eu me lembro do que aconteceu”, conta. Para ele, apesar do sofrimento, muita coisa mudou em sua vida. “Aprendi que eu não posso confiar muito nas pessoas. Aprendi que até mesmo a melhor pessoa do mundo pode acabar sendo a pior”, lamenta. Para Mirella, a situação foi um grande susto. “Uma pessoa chegar em você dizendo que você namora com ela, e você não estar sabendo de nada, não é normal”, explica.
Maria Eduarda Fernandes Dalzoto também viveu uma experiência desse tipo. Ela descobriu que criaram um fake no Orkut igual ao seu perfil original. A pessoa usou o mesmo nome, as mesmas fotos, e adicionou os amigos da garota. “Até perguntaram se eu mesma tinha feito para ter uma segunda identidade com as mesmas fotos”, conta. “Me senti um pouco honrada pela pessoa ter feito um fake sem a intenção de me difamar, até parecia algum tipo de fã. Mas também me senti vigiada e perseguida, pois a pessoa que criou teve um grande trabalho pesquisando”, explica.
A garota não encarou a experiência como um trauma. Ela afirma que começou a ter mais cuidado com postagens de fotos pessoais, mas que não mudou os hábitos na internet depois do que aconteceu. “Não foi algo que me levou a mudar as minhas regras de publicações. Talvez se fosse algo que tivesse sido criado com má fé, eu até teria mais cuidado com o que postar”, conta. Mesmo assim, ela diz ter mais consciência dos males da internet. “Hoje em dia não temos como nos assegurar de que não vão roubar nossas imagens e fazer mau uso delas, mas eu prefiro continuar com o meu estilo de compartilhamento até que algum dia eu possa me arrepender.”, afirma.
O papel da família
Um perfil fake pode trazer sérios riscos para os envolvidos, mas muitos psicólogos acreditam que ele funcione também como uma “válvula de escape” para os criadores. Leonardo Fd Araujo concorda com a prática, desde que seja usada de maneira ponderada. “Se eu uso um pseudônimo ou um perfil fake, tem que ser algo pontual”, afirma. ”Por isso é tão importante que os pais mantenham um diálogo aberto em casa e orientem os filhos desde cedo sobre o que é certo ou errado”, completa o psicólogo.
Segundo ele, tudo é uma questão de limites. “Sempre costumo perguntar: você deixaria seu filho adolescente sozinho à noite no centro de uma grande cidade desconhecida? Na internet não é muito diferente, temos vários canais de comunicação bastante complicados e perigosos de lidar, alguns inclusive com conteúdo ilegal”, conclui Araujo.