qui 25 abr 2024
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Procura-se um amor: é possível encontrar namorado na balada?

A ideia da balada como local para “ficar”, sem compromisso, permeia o imaginário dos frequentadores de casas noturnas. Mas será que é possível encontrar alguém para um relacionamento sério na balada? Lidia Weber, psicóloga e professora da UFPR, realizou um estudo sobre esse assunto com 450 brasileiros de ambos os sexos.

A pesquisa “Namorar e ficar: um estudo sobre locais e maneiras para selecionar parceiros amorosos” procurou desvendar, por meio de questionários respondidos na internet, como e onde as pessoas conheceram seus parceiros. A maioria dos entrevistados, cerca de 65%, encontrou um namorado ou namorada na vizinhança, na escola, no trabalho ou em festas com os amigos. Por outro lado, desmentindo o estigma de que balada significa somente “ficar”, 35% dos entrevistados disseram ter conhecido um parceiro em um desses locais ou ao acaso.

Para 35% dos entrevistados, a balada foi o local de encontro de um parceiro amoroso.
Foto: Reprodução

Está em busca de um relacionamento sério? Confira a entrevista que a psicóloga deu ao Jornal Co:::unicação e saiba mais sobre a pesquisa.

Jornal Co:::unicação  Como surgiu a ideia para a realização da pesquisa? Por que o tema chamou sua atenção?

Lidia Weber – Estudo diversos temas do amor romântico. Criei, junto com o  Professor Ailton Amélio, da Universidade de São Paulo (USP), uma disciplina na UFPR chamada Relacionamento Amoroso: Teoria e Pesquisa. Esta pesquisa foi feita há 10 anos pelo nosso grupo e, há 20 anos, também por um grupo americano. Os dados mostram que somos mais tradicionais do que pensamos: os resultados mudaram pouco. O que mais mudou foi o uso da Internet para marcar encontros, que geralmente acontecem em baladas.

Co:::unicação  A pesquisa revela que 41% dos homossexuais encontram namorados em baladas, contra 21% dos heterossexuais. Qual o motivo dessa disparidade? A balada possui um significado diferente para pessoas que têm opções sexuais distintas?

LW – Os heterossexuais podem encontrar um parceiro mais facilmente no meio em que estão: são apresentados por amigos, na escola, no trabalho, etc. Por outro lado, os homossexuais, por todo o preconceito que existe ao seu redor ou por não terem se assumido publicamente, precisam procurar parceiros em locais de balada,  em especial naqueles dirigidos a homossexuais.

Co:::unicação  Entrevistados entre 31 e 40 anos declararam encontrar namorados em baladas com mais frequência. Como explicar essa relação, levando em conta que a balada é vista como um local só para “ficar”?

LW – Acima de 30 anos, a maioria dos amigos e colegas de quem é solteiro já tem um parceiro. Logo, é preciso ir a lugares com mais acesso a pessoas que também estão à procura de relacionamentos. Geralmente há esperança de conhecer alguém na balada e de que isso irá se transformar em um relacionamento a longo prazo. De fato, pode acontecer, porém é menos provável estatisticamente. É importante notar que as pessoas esquecem de outros lugares, além da balada, que são interessantes para conhecer pessoas, como shows e cursos alternativos, de gastronomia, vinhos e línguas, por exemplo.

Co:::unicação  Apenas 28% dos que responderam ao questionário afirmam estar solteiros. Isso pode refletir uma banalização das relações amorosas? O ficar sem compromisso pode ser reflexo de insegurança ou dificuldade em lidar com a solidão?

LW – Não entendo assim. O ser humano é um ser de relações, de afetos. Todos nós queremos mesmo estar perto de outra pessoa, dividir, compartilhar, rir junto, viver junto. Não significa  fundir-se em uma só pessoa, nem achar “a tampa da panela” (até porque não há uma “tampa” só). Precisamos primeiro saber viver sozinhos e, depois, com outra pessoa. Pesquisas mostram que viver junto faz bem até para a saúde e que namorar é bom, mesmo que não leve a um relacionamento a longo prazo. Namorando aprendemos a conviver com o outro, identificamos melhor comportamentos e emoções e pessoas que valem ou não um investimento emocional a longo prazo.

Co:::unicação  A maioria dos entrevistados – mulheres, com idade média de 25 anos e heterossexuais – disseram que a procura por um parceiro para um relacionamento duradouro ocorre em locais familiares, e não em baladas. A ideia de ter um “fiador romântico na relação” , ou seja, um amigo em comum, é sintoma de acomodação ou falta de confiança na busca por um amor?

LW – Vejo que as relações interpessoais são as coisas mais importantes que temos, pois nos valemos delas para melhorar nossa qualidade de vida. Ser apresentado a alguém por um amigo traz uma certa “garantia” e pode economizar tempo na procura por conhecer aquela pessoa. Mas é claro que não podemos nos fiar apenas nisso, é preciso um pouco de aventura e intuição na seleção de parceiros.

Co:::unicação  Dentre os entrevistados, 35,7% afirmaram ter tido contato com o namorado pela internet, para depois conhecê-lo na balada. Qual o papel da internet nas relações amorosas da atualidade? Como ela modificou o comportamento social das pessoas?

LW – Essa foi a maior diferença encontrada nessa pesquisa em relação às anteriores, de 10 e 20 anos atrás. Hoje a internet é mais um meio para encontrar pessoas, marcar encontros, trocar informações e até mesmo cadastrar-se em sites específicos para encontros, nessa vida tão corrida. Dizer que as relações pela internet não são verdadeiras é bobagem. Ela pode ajudar, e muito, a conhecer melhor uma pessoa. Os tímidos lidam melhor com ela, pois existe um efeito desinibidor na internet: conta-se com mais facilidade coisas que não seriam ditas face a face. Mentiras? Claro que existem, mas na vida real também.

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