Sarau é uma confraternização da arte, uma festa literária, ou uma manifestação cultural realizada em casas, teatros ou estabelecimentos noturnos. Nesse encontro acontecem as leituras de textos em prosa, interpretações teatrais, declamações de poemas e apresentações musicais. Na Bahia, os sarais são bem presentes entre o público jovem, principalmente os que convivem com a música ou comunicação.
Hiran Fernandes Santos é músico e participante de sarais. Ele ressalta a importância de integrar esses eventos culturais: “A primeira vez que eu cantei para um grande público – um teatro lotado – foi em um sarau com ingressos esgotados, que inclusive vai ter sua segunda edição no dia 16 de maio deste ano. Foi o meu primeiro momento de visibilidade como artista e, de lá pra cá, pude evoluir bastante como intérprete”. Hiran, graças aos sarais, conseguiu alcançar novos patamares na música, e se diz satisfeito com o que tem produzido.
As festas maiores contam com a presença de grandes artistas como Carlinhos Brown e Luiza Possi. Existem basicamente dois tipos de sarais: O menor, feito em casa, com convidados mais íntimos do dono da festa, onde cada um tem o direito de apresentar poemas ou canções da sua autoria. E também o maior que normalmente é um evento na cidade, com artistas do estado convidados pelo organizador, aberto para todos os públicos, com vendas de ingresso e grande produção.
Nos sarais menores, o público jovem é quem organiza e domina, enquanto nos maiores o público é bastante diversificado. Em ambos, há uma mistura enorme de gostos musicais, maneiras de escrever e de interpretar e é atraente, uma vez que não há discriminação em relação a estilos.
Cultura da periferia
Segundo o membro da banda Limbo, Hiran, ambos são importantes para manter viva essa cultura diversificada que temos no Brasil. “As vezes eu tenho a impressão de que o público geral do país só põe nas paradas um ou dois tipos de música ou só compra pra valer um ou dois estilos de livros e por aí vai”, explicou. Isabela Bueno, estudante de filosofia, participa ativamente dos saraus periféricos em Curitiba. Ela também nos contou um pouco da função desse tipo de evento: “É uma mostra da cultura da periferia, na verdade. A gente sempre tem ideia de que sarau é uma coisa elitizada, com aquela arte que já é socialmente aceita. O sarau periférico mostra a arte de rua, mesmo. Produzida pela gente. Stencil, grafitti, poesia, lambes”.
Sarau Universitário
Os saraus também podem ser uma arma contra a repressão. Pedro de Perdigão de Lana, estudante de direito na UFPR e organizador de saraus, conta como os saraus são feitos na universidade: “Nos sarais universitários, o objetivo é substituir o modelo de festa universitária. Que é baseado numa quantidade grande de bebida e na ideia de pegação. Isso reproduz várias opressões. A mulher é objetificada, o negro é super sexualizado, a pessoa LGBT é hostilizada, o gordo é excluído da festa, assim como o feio”.
De acordo com Pedro, ao se propor um modelo alternativo de diversão, que normalmente é mais barato, aumenta a capacidade de incluir pessoas. O sarau se preocupa também com o estímulo artístico e as propriedades criativas de cada um de seus participantes. São feitas rodas de poesias, pinturas faciais, jogos de criatividade e por aí vai. As bebidas também são presentes nos saraus, e alguns jogos típicos marcam presença como “jogos tipo C ou S, campeonato de truco, não é algo bem rígido”, conta Pedro. Contudo, ainda existe dificuldade em se fazer um sarau, os lugares de divulgação costumam ser as redes sociais, ou o próprio boca-a-boca.