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sáb 07 set 2024
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Quem é quem, na Curitiba de ninguém

No último dia 29, por volta das 15h30, estava a caminho de Santa Felicidade para fotografar um evento da empresa em que trabalho. Não era nada de mais: era ir ao hotel, tirar algumas fotos da palestra, e voltar para o escritório a tempo de trabalhar mais um pouco à frente do computador.

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Foto: Gabriel Dietrich

No táxi, a conversa fluía como se o motorista e eu fôssemos bons amigos. Falávamos de crianças, comportamento e o papel dos pais na formação dos filhos. Perto de discutirmos a questão da escola nesse processo, alcançamos a Av. Mariano Torres, sempre cheia e em vias de engarrafar.

Mas não para todos. Lá atrás, vi pelo retrovisor, uma espécie de caixa preta e grande vinha forçando os carros a abrir caminho. Um ônibus-tanque da tropa de choque rumava para o Centro Cívico – ao encontro do protesto encabeçado pelos professores da rede estadual. Um frio na espinha e o céu pareceu nublar de repente. Apesar de continuar o diálogo, por vários segundos a voz do taxista sumiu e eu focava apenas aquele monstro de ferro, preto fosco.

Eu ainda não sabia ao certo – imaginava, apenas – mas o entorno da Assembleia Legislativa do Paraná estava virado do avesso. E parece que o taxista adivinhou o que eu pensava: “praqueles lados não dá pra ir, a polícia fechou tudo por causa da manifestação”.

Cheguei ao hotel e verifiquei na internet (depois de tirar as fotos) que “fechou tudo por causa da manifestação” era só uma informação repassada. A polícia já tinha começado a reprimir os manifestantes e, pela quantidade de fotos de pessoas correndo de bombas ou sangrando, a coisa estava realmente feia.

A cada vídeo eu me indignava mais. Acelerava a procura por novos relatos, tentando entender aquele absurdo. “Bombas de gás são lançadas dos helicópteros”, dizia a notícia. ‘Por quê?’, meu cérebro latejava.

Deu a hora de voltar. Novo táxi e, praticamente, o mesmo caminho da vinda. O motorista era educado e confiante – até demais. Falava das coisas com propriedade arrogante. Mas tudo certo. Fazia força para prestar atenção no que ele falava sobre animais de estimação, mas minha cabeça fugia a todo instante para a Av. Cândido de Abreu.

O assunto acabou, surgiu um silêncio denso e apenas um tema poderia me desafogar. Tentei: “o senhor viu a polícia descendo a porrada nos professores?”. Ele se ajeitou no banco do motorista, sem me olhar.

– Olha, disse ele, é assim… esses professores querem causar só porque na sexta é dia do trabalhador… Eles querem mídia.

Pela segunda vez – e talvez tenha sido na mesma quadra em que, na ida, vi o ônibus-tanque – minha espinha dorsal foi agulhada de cima a baixo. Não estava preparado praquela resposta. Acho que não é tão simples assim, meu senhor, contornei. Mas ele, como disse, era confiante e eloquente, e logo disparou: “Veja, sou um ex-policial e sei como é estar do outro lado. Quando se está em 40 policiais contra uma multidão”.

Tenso e desconfortável – eu, agora, que me ajeitava no banco – não podia acreditar no que estava ouvindo. Ele continuou: “eu já estive ali atrás do escudo (ele fez a posição de segurar o escudo com uma mão e o cassetete com a outra) e é complicado. Alguém do lado de lá joga uma pedra, um pedaço de pau. Algum de nós perde a cabeça e começa a ir pra cima. E quando um vai, todos vão. A gente mantêm a formação… e quem tá comandando não tem outra opção, se não mandar avançar… porque a gente já tá avançando, não tem como controlar. E imagine se a gente não reage, é uma multidão contra nós; eles tacam de tudo, vem pra cima mesmo”.

Minha cabeça rodava. O pescoço espichado para fora da janela tentava alcançar alguma nesga de ar fresco. Engoli o enjoo e cuspi a pergunta entalada: “A grande maioria era professor do estado. Senhoras, senhores, gente humilde que luta pra se manter na vida. Vocês atiram em pessoas que estão com as mãos levantadas?”.

Eu tremia de raiva de cada palavra que ouvira, e foi a vez dele tensionar os músculos. Ficou tenso, mas disfarçou bem. Eu bufava. Sem a menor vergonha, mudou de assunto. “A partir de agora só esfria nessa cidade. Até setembro, só esfria”. O carro virava na rua Ubaldino do Amaral. Entreguei o voucher da empresa e desci do taxi, feliz pelo vento que batia no rosto.

Enquanto entrava no escritório, meu coração tão batia forte que eu podia ouvi-lo. Engano meu: era o barulho das bombas.

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