Texto por Joana Tápea & Marina Anater
Edição por Jéssica Blaine
Nem a chuva foi capaz de manter os ciclistas curitibanos em casa nesta sexta-feira (22). Acostumados com adversidades, eles se reuniram na Praça Santos Andrade, sob as tendas da Feira MUS, para a então partida da Marcha do Dia Mundial Sem Carro. O evento é uma ação de cicloativistas e ambientalistas pela conscientização dos direitos à mobilidade segura e a adesão ao uso de transportes mais sustentáveis na cidade.
Em sua 15º edição, a Marcha conta uma história de resistência daqueles que lutam por espaço nas ruas e ciclovias de Curitiba. Organizada por cicloativistas e entidades que defendem o uso da bicicleta como transporte, a iniciativa vem desde 2007 reivindicando maior segurança e respeito no trânsito.
Um dos organizadores do evento, Fernando Rosenbaum, comenta que a primeira Marcha não foi bem recebida pelas autoridades da cidade.
“O ano de 2007 foi uma revolução da bicicleta em Curitiba. Um grupo de jovens estava fazendo uma série de ações para provocar o poder público. Pintaram a primeira ciclofaixa pirata e receberam uma multa por crime ambiental ”
A multa foi paga a partir da arrecadação de doações, e a primeira ciclofaixa oficial só foi inaugurada em maio de 2009.
Anos depois, a luta por melhores condições de locomoção continua a reunir milhares de pessoas no evento. Neste ano, a rota iniciou na Santos Andrade até a Pista do Guabi, no Guabirotuba, onde há um movimento artístico de ciclistas que fazem manobras, retornando então ao Bairro São Francisco para uma festa de confraternização. “A Marcha não é um passeio ciclístico, nem uma manifestação ferrenha, e sim uma celebração do espaço público”, destaca Rosenbaum.
Entre ruas e ciclovias, quem participa da Marcha?
Com sentimento de comunidade aflorado, os curitibanos de todas as idades em suas bikes trocavam experiências e vivências. A arquiteta Nahayana Alessi é uma delas.
Nahayani sempre pedalou, mas só conseguiu juntar coragem para utilizar a bicicleta como meio de transporte na cidade há cerca de seis anos e reforça a importância da coletividade:
“Participar da marcha é muito interessante em vários sentidos, pela conscientização dos motoristas e também pela galera. É um incentivo pelo pedal e aqui é uma comunidade, todo mundo é unido e se ajuda”
De 55 anos, o maratonista Tadeu Fernandes passou mais de 20 em cima de uma bicicleta. Tadeu relata que ser ciclista em Curitiba é um desafio.
“Nós não temos as marcações corretas e onde tem não é satisfatório, mas ainda assim vale a pena. Bicicleta é o melhor meio de transporte, é ágil e leva pra todo lugar sem poluir. Eu amo pedalar, me sinto livre”
Desempenhando um papel fundamental na luta por políticas públicas de direito e segurança para os ciclistas, os ativistas também trabalham diligentemente para conscientizar a população sobre os benefícios do uso da bicicleta. Tanto para o aumento na qualidade de vida, quanto para o meio ambiente.
“O movimento cicloativista é um dos responsáveis por muitos avanços da cidade em termos de mobilidade, é uma mobilização que ocorre de baixo para cima, através de reivindicações, e em Curitiba não há um canal de comunicação com a Prefeitura. As ações, além de insuficientes, não correspondem às necessidades dos usuários”, declara Fernando Rosenbaum.
A farmacêutica Andreza Nascimento é ativista e decidiu participar do evento carregando ainda no ventre a bebê Cecília em seu primeiro pedal. Andreza tem uma jornada significativa no ciclismo e cicloativismo. Além de ter pedalado por vários estados brasileiros e cidades internacionais, ela foi uma das organizadoras do movimento por políticas públicas voltadas ao ciclista, como o Fórum Mundial da Bicicleta e o Pedal 2014, que reuniu 2.014 bicicletas em marcha, assim como personalidades internacionais na idealização de ações governamentais voltadas aos direitos e segurança do ciclista.
“Passei um período fora e voltar é muito gratificante. Ver que o movimento se fortaleceu e que novas pessoas estão aderindo e dando um gás é animador”
Dia Mundial Sem Carro
Celebrado no dia 22 de setembro, o Dia Mundial Sem Carro é um alerta para a necessidade de construir uma mobilidade urbana mais sustentável. A partir da industrialização, o carro se tornou o principal meio de transporte em todo o mundo. Entretanto, a praticidade e o uso excessivo do veículo, trouxeram graves consequências para o meio ambiente, saúde e mobilidade nas grandes cidades.
Segundo pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 36% dos brasileiros gastam mais de 1h diariamente no trânsito em todo o país. Isto quer dizer que as pessoas gastam em média 15 dias por ano paradas no trânsito. A pesquisa ainda aponta que 3% da população gasta em média 3h de locomoção para atividades diárias.
Além do tempo de locomoção, a grande quantidade de veículos nas ruas afeta a saúde e o meio ambiente. O aumento da emissão de gases poluentes propiciam o aparecimento de casos de doenças respiratórias como bronquite e asma. Segundo a pesquisa, a dificuldade na mobilidade urbana também interfere diretamente nos níveis de estresse e ansiedade da população.
Criado em 1997 na França, o Dia Mundial Sem Carro tem se espalhado por todo o mundo e se tornou uma oportunidade para repensar a dependência dos veículos e considerar formas mais saudáveis e ecologicamente responsáveis de deslocamento nos centros urbanos. Em um mundo onde o tráfego congestionado, a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa são problemas crescentes, iniciativas como esta mostram que é possível pensar novas formas de se locomover pelas cidades.
Ouça abaixo a reportagem sonora de Luiz Eduardo Alcântara e Pedro Henrique Milano sobre o evento: