Há quem diga que o frio de Curitiba não seja convidativo ao samba. Ou então que o mito do curitibano antipático não deixa o pandeiro conquistar a capital. Mas o samba vem ganhando cada vez mais espaço na cidade, impulsionado por grupos e projetos.
Um representante local dos defensores dessa cultura é o grupo Choro e Seresta. Surgido nos anos 70, o “Choro” tocava originalmente na Sociedade do Batel. No entanto, após uma apresentação no Paiol, o grupo chamou a atenção do então prefeito Jaime Lerner, que os convidou para tocar numa feira que estava sendo deslocada da praça Rui Barbosa para o Largo da Ordem, como forma de atrair mais público.
Assim, em 1973, começava uma tradição que se mantém firme há 41 anos: o choro aos domingos no centro histórico da cidade. De lá para cá, o grupo já teve várias formações diferentes, e está atualmente na terceira geração de músicos. Da formação original resta apenas o “Seu” Moacyr Azevedo, 87, que hoje não toca mais nenhum instrumento, mas acompanha o grupo nas apresentações.
João Luís Rodrigues, mais conhecido como Joãozinho do Pandeiro, é o atual pandeirista do Choro e Seresta e comenta como essa rotatividade de membros os inspirou a gravar seu segundo CD: Gerações. “A gente já tinha gravado um primeiro CD com a geração antiga de músicos, mas agora a ideia era pegar essa nova leva e gravar um álbum que tivesse toda a ‘cara’ do grupo, de 1971 a 2014”, diz.

Rodrigues é natural de Antonina, mas mora em Curitiba desde 1980 e, desde então, acompanha o crescimento contínuo do cenário local do choro e samba que, segundo ele, hoje se iguala ao de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. “Na minha época era difícil ter essa garotada que tocava, só pessoas de mais idade se interessavam em tocar”, relembra. “Quando aparecia alguém mais novo na roda todo mundo ficava surpreso, porque o piá precisava ser muito bom para tocar no meio deles”.
O músico aponta essa força jovem como o motor para a cena local e cita Ricardo Salmazo, um dos idealizadores do projeto Samba do Compositor Paranaense entre os principais nomes dessa “piazada”. “Tem gente que fica dizendo que o choro e samba vai acabar, mas está acontecendo justamente o contrário”, comenta. “Aqui em Curitiba tem uma piazada tocando para arrebentar, pesquisando e fazendo coisas novas, diferentes”.
Samba do compositor paranaense
Em 2014, o Samba do Compositor Paranaense chega ao seu quinto ano de existência. O projeto consiste numa roda de samba aberta ao público, na qual os compositores locais de podem levar as obras para serem executadas coletivamente, no Teatro Universitário de Curitiba (TUC). A ideia é integrar os músicos e compositores locais e promover o samba paranaense.
Esse projeto teve inspiração no tradicional Samba da Vela, de São Paulo, e já recebeu mais de 450 canções inéditas de autores locais. Além disso, o Samba do Compositor Paranaense lançou em 2010, com o apoio da Lei de Incentivo à Cultura, uma coletânea das canções tocadas na roda daquele ano.
Igor Alencastro tem 25 anos, trabalha com produção de vídeos e é apaixonado por samba. Nascido no Rio de Janeiro, sempre ouvia com a família as canções de Almir Guineto e outros sambistas, e ficou sabendo das rodas de samba no TUC por indicação de amigos. “Estudo cavaquinho há alguns anos e sempre procurei um espaço aqui em Curitiba em que eu pudesse praticar e conhecer pessoas com o mesmo interesse que o meu”, diz.
O jovem músico afirma que esse ambiente, além de tudo, ajudou ele a conhecer melhor os compositores locais como Ivo Queroz, Renato Lucci, Hardy Guedes e o próprio Ricardo Salmazo. “Considero o que me faz gostar do samba é sua capacidade de criar um espaço democrático que permite que as pessoas de todas as classes, raças e credos se expressem dentro de um ritmo contagiante”.