seg 20 jan 2025
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Tarifa do transporte coletivo em Curitiba mais que dobra em 10 anos 

De acordo com dados da Urbanização de Curitiba S/A (URBS), empresa que administra o transporte público da capital paranaense, desde 2012, a tarifa para usuários cresceu constantemente, atingindo um aumento de 130% em relação ao período atual. Ao custo de R$ 6,00, é a maior do país, posição que ocupa junto às tarifas pagas em Florianópolis (SC) e em Porto Velho (RO). 

O valor da tarifa para o serviço público de ônibus em Curitiba é definido com base do cálculo apresentado pelo setor privado, detentor das concessões do serviço. A chamada tarifa técnica, que engloba custos operacionais e de investimento, chega hoje a R$ 7,00. Já a tarifa social, subsidiada para diminuir o impacto da tarifa, é o valor pago pelo consumidor. Contudo, o valor cobrado, segundo usuários, não reflete o serviço prestado.  

O passageiro Renan Biavati segue o mesmo trajeto todos os dias: durante a manhã vai ao trabalho; de tarde, à faculdade; e à noite retorna para casa. No total, três passagens de ônibus diárias. O deslocamento é privilegiado, segundo Renan, que mora na área central de Curitiba. Para o estudante, a redução da tarifa de ônibus possibilitaria um uso maior do transporte público. “Eu acho um abuso o preço, porque não é um serviço de qualidade. Pagamos caro em um serviço que poderia ser muito melhor e não oferece a qualidade necessária que um transporte deveria proporcionar”, conta Renan. 

O caso de Biavati não é único. Em pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) em 2024, o ônibus foi o meio de deslocamento mais citado entre os entrevistados, sendo utilizado por 30,9% dos brasileiros como principal meio de locomoção. Mais da metade dos participantes justifica ainda a utilização do ônibus como sendo a única alternativa de transporte disponível. 

Redução de passageiros 

O aumento do valor da passagem e a baixa qualidade do transporte fez o índice de usuários do transporte público diminuir 62% em Curitiba, no período de dez anos. Desprezando-se o desempenho de 2021, marcado pela pandemia de covid-19, 2024 obteve o menor número em 13 anos. O movimento é maior do que o registrado no país, mas os motivos são os mesmos. Como aponta a pesquisa da CNT, cerca de 30% dos entrevistados afirmaram que deixaram de usar os ônibus; 63,5% disseram que voltariam a utilizar com uma tarifa menor e melhor qualidade no serviço. 

Para a engenheira civil e pesquisadora Patrícia Schipitoski, que atua na área de planejamento de sistemas de transporte, a baixa procura por meios de transporte público implica em problemas de movimentação nas cidades. “Hoje nós vivemos em uma lógica de cidade pelo tempo de deslocamentos. Se todos forem fazer esse deslocamento de carro, nós temos uma situação de colapso por não termos a capacidade de transportar todos em veículos individuais”, afirma. Ainda, segundo Patrícia, um deslocamento compartilhado nas cidades possibilita um menor impacto ambiental. “O transporte coletivo permite essa demanda de deslocamentos de forma sustentável.” 

Discussão política 

Em meio às eleições municipais, propostas de diminuição ou gratuidade das tarifas se tornaram mais frequentes e relevantes. Em Curitiba, com o fim do primeiro turno, seguem na corrida eleitoral as candidaturas de Cristina Graeml (PMB) e de Eduardo Pimentel (PSD), que apresentaram diferentes propostas. A primeira propôs cobrança proporcional ao uso e a implementação de um sistema de integração temporal, permitindo que os passageiros façam múltiplas viagens com a mesma tarifa dentro de um período estabelecido. Já Pimentel afirmou compromisso com a gratuidade da tarifa para quem busca emprego e a adoção do custo de R$ 3,00 aos domingos e feriados. 

É preciso uma coordenação multinível que tenha influência do Estado, para garantir, em termos legais e de segurança jurídica, como financiar esse serviço.” 

Patrícia Schipitoski, especialista em sistemas de transporte de passageiros 

Para o professor de Economia Hugo Meza, propostas de gratuidade do transporte público exigem discussões a longo prazo para verificar uma possível viabilidade. “É uma pauta interessante, pois impacta diretamente na renda do trabalhador. Mas, ao mesmo tempo, se tratando de orçamento público, que é limitado, algum outro setor deveria ser prejudicado, haveria uma compensação. Não se inventa uma gratuidade da noite para o dia, que não esteja programada”, argumenta. 

De acordo com o economista, propostas a curto prazo para a gratuidade do transporte público não simbolizam pautas efetivas, mas uma mera coleta de votos para fins eleitorais. “Qualquer gratuidade soa mais a efeito eleitoreiro que uma atividade consciente de diminuição de gastos públicos da população”, observa.  

De acordo com Schipitoski, a recente discussão política exige um maior debate entre os governos. “É preciso definir mais claramente as receitas extra tarifárias e uma negociação que não esteja só atrelada ao município. Uma coordenação multinível que tenha influência do Estado, para garantir, em termos legais e de segurança jurídica, como financiar esse serviço”, analisa a especialista. 

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