qui 21 nov 2024
HomeCiência & TecnologiaTransplante de cápsulas de ilhotas pancreáticas é nova aposta para tratamento do...

Transplante de cápsulas de ilhotas pancreáticas é nova aposta para tratamento do Diabetes

Nos dias de hoje, um diabético do tipo 1 precisa aplicar em média de 3 a 7 injeções de insulina por dia. Um grupo de pesquisadores da USP e da CellProtect Biotechnology, empresa vinculada ao Núcleo de Terapia Celular e Molecular (NUCEL) da Universidade, já vem tentando mudar esta realidade.

O transplante de ilhotas pancreáticas sem as cápsulas em pacientes diabéticos no Brasil já é praticado há alguns anos. O grande problema é que depois de alguns meses, essas pequenas ilhas de células sofriam o mesmo ataque do sistema imunológico e eram destruídas. Logo, o paciente parava de produzir insulina e voltava a ter que usar as injeções. A novidade está em proteger essas ilhotas do ataque imunológico, colocando-as dentro de uma cápsula que não permite a passagem do sistema imunológico do corpo.

Ilhotas pancreáticas, ou pequenas ilhas de células do pâncreas, envoltas por membrana protetora. Foto: CellProtect Biotechnology

 

Desenvolvendo a pesquisa

A história começou por volta da década de 1990, quando o idealizador dessa linha de pesquisa, o Prof. Marcos Mares Guia, foi para Miami estudar no Diabetes Research Institute (DRI), um dos únicos institutos na época, com estrutura para realizar transplantes de ilhotas pancreáticas, um tratamento bastante inovador no controle do diabetes tipo 1. Após o falecimento de Marcos Mares Guia, o médico e doutor em Bioquímica e Imunologia, Thiago Mares Guia, retomou as pesquisas de seu tio em 2006, quando foi para USP e fundou um grupo de pesquisa, orientado pela Prof. Mari Sogayar, coordenadora do NUCEL.

Mares conta que a instituição já havia expertise para os procedimentos utilizados na sua pesquisa. “Desde 2006 conseguimos, com o esforço de diversos pesquisadores, desenvolver novas formulações de biomateriais, patenteá-las e criar uma empresa (CellProtect Biotechnology) que continua esse desenvolvimento em colaboração com o NUCEL-USP”, afirma.

Thiago Mares Guia explica que a ideia é substituir as ilhotas pancreáticas, dos pacientes diabéticos, que perderam a sua função por novas ilhotas capazes de produzir insulina e outros hormônios. “Com o encapsulamento, envolvemos as ilhotas com uma membrana semipermeável, que deixa sair insulina enquanto glicose e oxigênio entram, sem permitir que o sistema imunológico do paciente receptor entre em contato com as ilhotas que ele recebeu”, explica Mares.

Ilhotas encapsuladas serão colocadas em dispositivos, uma espécie de micro chips que serão implantados no tecido subcutâneo do paciente diabético do tipo 1.
Foto: Revista Fapesp

 

Caminhando a passos largos

Se por uma lado o processo é demorado, por outro as pesquisas nessa área são bem promissoras. O NUCEL já realizou transplantes de ilhotas não encapsuladas em alguns pacientes e o resultado mostrou que é possível o tratamento através do transplante dessas novas células. Segundo Mares, para que a pesquisa com encapsulamento das ilhotas pancreáticas avance – para evitar a rejeição do organismo – é preciso agora cumprir novas etapas para adquirir uma infraestrutura segura e consistente para o grande passo: os ensaios clínicos (teste em pacientes). “Pelos resultados do nosso grupo (NUCEL-USP / CellProtect) e de outros grupos de pesquisa ou empresas, é possível imaginar que em 5 anos essa terapia será uma alternativa viável para os pacientes diabéticos”, comenta.

Ainda não é possível fazer uma projeção de quanto irá custar para os pacientes tais tratamentos, mas certamente o custo-benefício é muito melhor do que a insulina fabricada, além de significar uma inovação no combate à doença. “A ideia é ampliarmos ainda mais a longevidade das ilhotas implantadas e, quem sabe, podermos fazer a substituição das ilhotas apenas uma vez a cada dois anos, em procedimento ambulatorial. O custo seria muito menor do que as injeções diárias de insulina, com a vantagem de que as ilhotas secretam a insulina de forma fisiológica e também secretam outros hormônios importantes para o funcionamento do organismo do paciente”, analisa Mares.

O médico e pesquisador, Dr. André Vianna, vê com bons olhos essa linha de pesquisa. “O homem já trabalha há mais de 100 anos tentando curar o diabetes e ainda não conseguimos, é uma das nossas grandes frustrações, o nosso objetivo é curar o diabetes”, afirma.

 

Entendendo o diabetes 

Apesar do diabetes tipo 1 não ser o mais comum – apenas 10% dos diabéticos são portadores dessa versão – essa forma da doença é a mais severa, com necessidade imediata de aplicação de insulina fabricada para evitar complicações causadas pelo diabetes. Nesse caso, o próprio sistema imunológico do corpo ataca as ilhotas pancreáticas, células produtoras de insulina, fazendo com que o organismo pare de produzir a substância.

Bomba de Insulina, tecnologia utilizada por alguns diabéticos do tipo 1 hoje para fazer o controle da glicemia e aplicação de insulina. Foto: Claudia Tavares

O médico endocrinologista e pesquisador clínico do Centro de Diabetes de Curitiba (CDC), André Vianna, explica um dos motivos das pesquisas no tratamento do diabetes tipo 1. “Justamente pelo fato dessas pessoas terem de usar de 3 a 8 injeções por dia que está se buscando novas formas de tratamento ou até de eventual cura do diabetes”, diz.

Já o tipo mais comum – o diabetes tipo 2 – é uma doença que, além da genética, depende do tipo de vida e está relacionada à obesidade, ao sedentarismo e à alimentação inadequada. Na maioria dos casos ela pode ser prevenida com uma vida saudável, alimentação balanceada e alguns medicamentos, mas não necessita de aplicação de insulina. Segundo Vianna, estima-se que a cada 7 segundos se tenha um novo diagnóstico de diabetes no mundo.

NOTÍCIAS RELACIONADAS