Intensificada em maio deste ano, São Paulo enfrenta a pior seca da história da cidade. Na semana passada, o nível do Sistema Cantareira, que abastece a região, estava em 3,5%, da sua capacidade, segundo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). Mesmo com a séria crise em uma cidade tão próxima à Curitiba, os moradores da capital paranaense não diminuíram o consumo de água.
Segundo a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), nos últimos meses, o consumo de água em Curitiba aumentou em relação ao ano passado. No mês de setembro, o acréscimo no consumo foi de mais de 300 mil litros em comparação com 2013. Entre os fatores responsáveis por esse crescimento, estão as altas temperaturas registradas, atípicas para Curitiba na época da primavera.
Fábio Basso, coordenador da Sanepar, explica que, em Curitiba, o sistema está com níveis seguros de abastecimento e com mais de 90% da capacidade disponível. O coordenador lamenta que os reflexos da crise na metrópole paulista não tenham trazido resultados para o Paraná. “Infelizmente, não aprendemos com o erro dos outros [São Paulo], parece que temos que sentir na própria pele para mudar nosso comportamento. Ainda há muita irresponsabilidade em relação ao uso da água. Muitas pessoas ainda lavam o carro com água potável”, comenta Basso.
Punição
Uma punição mais severa para pessoas que utilizem a água de maneira exagerada é a ação defendida por Miguel Mansur, professor do departamento de hidráulica e saneamento da UFPR (Universidade Federal do Paraná). Para Mansur, a aplicação de uma tarifa diferenciada, que elevaria a conta de água para quem a utiliza de forma inconsequente, seria um grande passo para a diminuição do consumo.
“Quando a gente ultrapassa o limite da velocidade em uma via com radar, a gente sabe que vai sentir no bolso. Deveria ser assim com a conta de água também: quem acelera demais no desperdício, deveria pagar mais caro”, defende o professor. Ele também ressalta a importância de ações de sensibilização que utilizem situações como a de São Paulo para alertar sobre a necessidade de economia. “São Paulo, nosso vizinho, deveria ser nossa principal propaganda para a redução do consumo de água”, diz o professor.
Abastecimento
A Sanepar informa que existem mais de 50 reservatórios para atender às 3 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Curitiba. Com esta capacidade de armazenamento completa, Curitiba poderia ficar 6 meses sem nenhuma gota de chuva. Entre as estações de tratamento, quatro se destacam: Iguaçú, Iraí, Passaúna e Miranguava.
O bombeamento de água chega a 7,5 m³/segundo, em dias normais, e a distribuição pode ser controlada através da uma central no bairro Alto da XV. O sistema é integrado e permite comandos que determinam a pressão e quantidade de água bombeada remotamente.
Poluição
O último relatório do IAP (Instituto Ambiental do Paraná) aponta que dos 64 rios da região metropolitana de Curitiba, 67,1% são poluídos ou muito poluídos. O Rio Belém, único 100% curitibano, é o que está na situação mais crítica.
A realidade foi constatada por Eduardo Fenianos, jornalista que navegou por todos os rios da cidade em 1997 e em 2013. Em relação à 1997, ele percebeu um aumento nos focos de despejo ilegal de esgoto. “Eu contabilizei 254 pontos de despejo irregular de esgoto, além de resíduos sólidos, como móveis velhos, jogados nos rios pela própria população”, conta Feniano.
Com este quadro, o jornalista teme as consequências que a falta de conscientização da população possa trazer à Curitiba. “As nascentes dos nosso rios estão cada vez mais comprometidas, cada vez recebem menos água porque há muito desmatamento e obras irregulares no redor das regiões em que os rios brotam”, lamenta Fenianos.