qui 25 abr 2024
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Campanha Abril Azul discute capacitismo

Ação anual ocorre mundialmente no mês de abril e promove conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Em 2023, a 16ª edição do Abril Azul ocorreu em torno do tema Mais informação, menos preconceito. A campanha foi criada em 2007 a partir da definição, pela ONU, do dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. O objetivo da ação é promover conhecimento sobre o espectro autista, assim como as necessidades e os direitos das pessoas autistas. 

O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado pela dificuldade de comunicação, linguagem, comportamento e interação social. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, na maioria dos casos, o autismo pode ser identificado ainda nos primeiros anos de vida e é considerado uma deficiência invisível, já que não possui características que podem ser identificadas pelo olhar. 

O autismo se manifesta em níveis, ou seja, há variações de características e diferentes graus de necessidade de suporte, indo de formas leves até as mais severas. Em 2013, o autismo foi classificado como espectro pela American Psychiatric Association – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª edição). Atualmente, o autismo é classificado em três níveis, que variam de acordo com a necessidade de assistência. Confira abaixo:

Níveis de Gravidade do TEA

NIVEL DE GRAVIDADECOMUNICAÇÃO SOCIALCOMPORTAMENTOS REPETITIVOS E RESTRITOS
Nível 1 – Necessidade de pouco apoio – Dificuldades em iniciar interações sociais.
– Pode parecer ter interesse reduzido em interações sociais.
– Inflexibilidade no comportamento causa interferência significativa no funcionamento.
– Dificuldades em trocar de atividade.
– Problemas de organização e planejamento dificultam a independência.
Nível 2 – Necessidade de apoio substancial– Déficit acentuado nas habilidades de comunicação verbal e não verbal.
– Prejuízos sociais aparentes.
– Início limitado de interações sociais.
– Respostas reduzidas ou anormais.
– Inflexibilidade no comportamento.
– Dificuldade em lidar com mudança.
– Estresse e/ou dificuldade em mudar de foco ou ação.
Nível 3 – Necessidade de apoio muito substancial– Déficits severos na comunicação verbal e não verbal.
– Iniciação de interação social muito limitada e resposta mínima.
– Inflexibilidade de comportamento.
– Extrema dificuldade para lidar com mudança.
– Comportamentos restritos/repetitivos causam interferência no funcionamento em todas as tarefas.
– Grande estresse/dificuldade em mudar de foco ou ação.
Fonte: https://www.autistologos.com/copia-o-que-e-o-autismo-2

Os estereótipos sobre deficiências estigmatizam e prejudicam, principalmente, o diagnóstico de pessoas com autismo de grau um (também conhecido como autismo leve ou autismo de baixo grau de suporte). Por não corresponderem às pré-concepções, essas pessoas enfrentam mais dificuldades para serem diagnosticadas. “A taxa de autismo em todas as regiões do mundo é alta e a falta de compreensão têm um tremendo impacto sobre os indivíduos, suas famílias e comunidades. A estigmatização e a discriminação associadas às diferenças neurológicas continuam sendo obstáculos substanciais ao diagnóstico e às terapias, uma questão que deve ser abordada tanto pelos formuladores de políticas públicas nos países em desenvolvimento quanto pelos países doadores”, informa boletim da ONU.

O entendimento é essencial para a inclusão efetiva. Por isso, a criação da data teve como intenção popularizar informações sobre o autismo e cercear discriminações, preconceitos e capacitismo, e foi aprovada em votação unânime durante a Assembleia Geral da ONU em 2007. No ano seguinte, entrou em vigor a Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é um dos signatários. A convenção reafirma o princípio fundamental dos direitos humanos universais e “é uma ferramenta vital para promover uma sociedade inclusiva e solidária para todos e para garantir que todas as crianças e adultos com autismo possam levar uma vida plena e significativa”.

A estudante do 7º período de Psicologia da PUCPR e profissional de apoio escolar, Fernanda Santos Kropiwiec, comenta a importância das campanhas para a inclusão efetiva das pessoas autistas na sociedade: “As campanhas de conscientização, como o Abril Azul, ajudam especialmente no sentimento de pertencimento das pessoas autistas e de suas famílias. A partir dessas campanhas, as pessoas neurodivergentes e sua rede de apoio se sentem vistas e ouvidas dentro da sociedade. A sensação de pertencimento dessas pessoas permite a cobrança de adaptações nas políticas públicas e em instituições privadas para acomodá-las de forma correta. Além disso, a sociedade em geral se torna mais atenta aos sinais de neurodivergência, aumentando as chances de diagnóstico e tratamento precoces. Por fim, outro benefício das campanhas de conscientização é a perda gradual da estigmatização dos transtornos mentais”.

Um dos avanços dessa conscientização é a Lei 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e determina que pessoas autistas sejam consideradas pessoas com deficiência e garante o direito ao diagnóstico precoce, tratamentos, terapia e o acesso à educação e proteção social que propiciem igualdade de oportunidades. Além disso, a lei define que estabelecimentos usem o símbolo mundial da conscientização sobre o TEA (a fita quebra-cabeça) para identificar prioridade devida às pessoas do espectro.

Fita símbolo da conscientização mundial sobre o Transtorno do Espectro Autista (Fonte: https://br.freepik.com/fotos-premium/fita-de-quebra-cabeca-para-conscientizacao-do-autismo_4088533.htm)

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças no mundo tem TEA. Nessa estatística, as mulheres apresentam uma proporção menor de diagnósticos: a cada quatro pessoas dentro do espectro autista, apenas uma é mulher. A cor azul foi escolhida para a campanha para representar a maior parte dos diagnósticos, que são do sexo masculino. Além disso, especialistas afirmam que a cor azul acalma quem está dentro do espectro e pode ajudar nos momentos em que os sintomas se manifestam com maior intensidade.

“Acredito que a importância do Abril Azul e do Dia Mundial de Conscientização do Autismo é principalmente colocar o assunto em pauta. Chamar a atenção da mídia e da sociedade como um todo é essencial. Afinal, quanto mais se fala sobre o autismo, maior é a probabilidade de que mais pessoas sejam diagnosticadas. Além disso, informação é a melhor forma de combater o preconceito”, afirma o jornalista Francisco Paiva Júnior. “Quando um autista não é diagnosticado, ele não está tendo acesso aos tratamentos adequados, isso falando principalmente dos casos mais graves em que as terapias são essenciais. Mas para falar sobre aqueles que não são diagnosticados por terem sinais mais sutis, ainda assim, essa pessoa não está tendo a oportunidade de se compreender de uma maneira mais completa, afinal, ela não tem conhecimento sobre uma parte importante dela. Ou seja, em qualquer parte do espectro, a falta de um diagnóstico geralmente significa que o autista terá menos qualidade de vida. Precisamos que isso mude, e é por isso que lutamos pela conscientização”, finaliza.

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