Há alguns momentos-chave que unificam os povos, transformando as interações coletivas e reformulando novos acordos de paz. Copas do mundo, natais e o fins de ano representam este espírito. E, curiosamente, após uma leva de anos obscuros, seremos agraciados com os três eventos em sequência.
A Copa do Mundo é o evento oficial que representa o esporte mais popular do planeta, e este reconhecimento lhe dá ampla capacidade para conduzir diversas conexões culturais. É a festa do mundo e das multidões — obviamente, deixando de lado as questões políticas e econômicas da FIFA, entidade que gere a competição.
No Brasil, as Copas provocaram sentimentos indescritíveis. A relação simbiótica consagrou ao território o estigma do “país do futebol”, mas a história é complexa. O que acontece na disputa reflete nas questões sociais e políticas da população brasileira: em 1970, a brilhante seleção fez o país conhecer as cores num período sombrio da ditadura militar; em 1982, o elenco histórico não impediu a depressão generalizada; em 1994, venceu a Itália e a hiperinflação; em 2002, a perseverança venceu e fez surgir um novo Brasil; e em 2014, depois do vexame, o país entrou em pane.
Da glória ao caos
Duas décadas separam o hoje e a era do “Brasil sorriso”, em 2002, quando o Ronaldo derrubou a muralha alemã com dois gols. A consagração veio com o capitão, Cafú, ao levantar taça no Japão enquanto gritava: “Regina, eu te amo!”. Pentacampeão. Tempos de glória.
Desde então, nas Copas, o tempo se mostrou impiedoso com a seleção canarinho. As decepções sequenciais radiaram um sentimento de apatia e indiferença. Começou em 2006, com o “quadrado mágico” — Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano — que não funcionou, e exacerbou e 2014, em casa, com o atropelo alemão. Tempos de caos.
O Brasil quer mais
Os últimos anos desandaram e todos fomos vítimas e testemunhas. Mais de 700 mil morreram, a fome voltou, alguns laços foram desfeitos e sentir medo virou um hábito. Até a amarelinha não escapou desta peleja. Mas é preciso ter esperança, pois uma nova estrela no peito poderá apaziguar os ânimos desta jovem república.
Afinal, você está pronto? Deveria estar. Ao que tudo indica, a espera irá acabar. Todos colocam as fichas no elenco comandado por Tite: as casas de apostas, os institutos de pesquisas, os analistas, a imprensa local e internacional.
O atacante Richarlison será o nome do hexa. E, além de trazer o sexto título, vai se tornar uma referência aos futuros futebolistas ao deixar o legado do atleta posicionado fora de campo, do tipo que enxerga os nossos problemas reais e que se propõe a buscar soluções.
Imagem: Vinicius “amnx” Amano