qui 21 nov 2024
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Hamlet abre Festival de Curitiba em versão inclusiva e contemporânea

Versão de Hamlet do coletivo La Plaza parte da questão existencial “ser ou não ser?” na vivência de pessoas com Síndrome de Down

Uma adaptação de Hamlet, feita por grupo peruano, abriu a programação do 31º Festival de Curitiba, na última terça-feira (28). A primeira apresentação foi na abertura do evento, no dia anterior, apenas para convidados. O texto é um encontro entre uma das obras mais clássicas do teatro ocidental, de William Shakespeare, e as vivências singulares de oito atores com Síndrome de Down do Teatro La Plaza. A direção é de Chela De Ferrari.

Uma mistura de tragédia, humor e rap. O questionamento ”ser ou não ser” é ponto de partida para abordar questões como sexualidade, luta por direitos, solidão, identidade, preconceitos e mitos na neurodiversidade. Para além de expor como pessoas com deficiência são invisibilizadas na sociedade, a apresentação também aborda as potencialidades de não seguir “rótulos sociais”. A personagem Ofélia, ao questionar o pai sobre o sentido de ter um cromossomo a mais, recebe a resposta de possuir “uma nota mais alta.”

“Vale a pena buscar o sonho”

Pela primeira vez, apenas artistas neurodivergentes subiram ao palco da Mostra Lúcia Camargo, a principal do Festival de Curitiba. Para assistir ao espetáculo, o estudante da Apae Leanderson, de 29 anos, foi acompanhado do Coletivo Inclusão – instituição não-governamental que leva arte para pessoas com deficiência por meio de oficinas culturais. Para ele, o mais atrativo foram os atores cantando rap. A adaptação usa ferramentas pop para explorar temas complexos. 

“Vale a pena buscar o sonho”, disse a voluntária do Coletivo Talita Stec logo após o espetáculo. Ela também conta que para muitos estudantes, “Hamlet” foi a primeira oportunidade de ir e criar vínculos com o teatro.

“O mais interessante é se identificar e poder ver o futuro. Entender que há possibilidade. É possível levar uma vida plena e feliz”

Talita Stec, voluntária do Coletivo Inclusão

Para André Rigoni, também atuante do Coletivo, o grupo La Plaza deixa uma forte mensagem. “Eles conseguem por meio da própria atuação, chamar a gente para uma reflexão. Fora o talento deles, existe essa mensagem: ‘que mundo você quer’?”

O voluntário ainda complementa que a barreira linguística não foi limitadora para os estudantes: “Eles são muito sensoriais. Eles sentem e percebem por meio do gesto. A gente percebeu que eles adoraram. Foram atraídos e sentiram a mensagem do jeito deles”. Falada em espanhol, a apresentação contou com legendas simultâneas em português.

Do outro lado

Novas possibilidades de existência e de fazer arte sensibilizaram o público diverso. Com entradas esgotadas, adultos, idosos, jovens, crianças, com ou sem deficiência, experienciaram a renovação do clássico. Luiza Nemetz e Bruna Wittmann têm 21 anos, são atrizes e estudam teatro. Elas contam que Hamlet foi a primeira oportunidade de assistir a uma peça feita por pessoas com deficiência. Para Bruna, a apresentação gerou mudanças: “Os atores nos colocaram do outro lado: o que eles passam. Fizeram pessoas neurotípicas e sem deficiência sentir de verdade”.

“Mexe com a gente e gera algumas perguntas. Onde estão essas pessoas? Por que é tão difícil ver pessoas com deficiência, como agora, num festival grande de teatro? Elas têm sonhos, vontade de subir num palco e fazer arte”

Luiza Nemetz, atriz e estudante de teatro
Luiza e Bruna também participam do Movimento Sem Ingresso – organização que busca arrecadar e distribuir entradas gratuitas no evento / Foto: Felipe Azambuja

31° Festival de Curitiba

O Festival de Curitiba, que começou no dia 27 de março e vai até 9 de abril, conta com mais de 350 atrações e cerca de 2 mil artistas. Um dos maiores festivais de artes cênicas da América Latina, tem como lema “O festival para todos” na sua 31° edição. Como espelho das transformações sociais, a curadoria das mostras apresenta programação diversa, com representatividade em temáticas, artistas e públicos. Os ingressos chegam a R$ 80 e são vendidos de forma presencial e on-line. Confira a programação oficial.

Clarissa Freiberger
Nasci em Guarapuava e aprendi a contar histórias com a minha avó em Ibaiti. Sou apaixonada por literatura, cafés e gatos. Me interesso pelo extraordinário do cotidiano.
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Clarissa Freiberger
Nasci em Guarapuava e aprendi a contar histórias com a minha avó em Ibaiti. Sou apaixonada por literatura, cafés e gatos. Me interesso pelo extraordinário do cotidiano.
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