Na tarde desta quinta-feira (13), ocorreu a audiência pública Direito à Cultura da Juventude Paranaense: as Batalhas de Rima em debate na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). O debate foi proposto pela deputada estadual Ana Júlia (PT) e contou com a presença do deputado Renato Freitas (PT), do Secretário Nacional da Juventude do governo federal, Ronald dos Santos (Sorriso), e de lideranças do movimento hip-hop paranaense.
Em Curitiba, existem mais de dez pontos de batalha de rap em diferentes bairros. As competições decidem qual MC (mestre de cerimônia) tem a melhor rima e ocorrem para que os participantes expressem artisticamente suas revoltas. Temas como preconceito racial e de gênero e a opressão da segurança pública são abordados. “Política não tem só na Assembleia, também tem na batalha de rima”, diz Renan Handal, organizador da Batalha do Parigot, ao fim de sua fala na audiência.
Um levantamento aprofundado mostrou que as batalhas impactam diretamente 50 mil pessoas no estado do Paraná, sendo majoritariamente jovens. “A gente precisa garantir essas batalhas e efetivá-las como política pública, para que a juventude tenha acesso e reconhecimento das manifestações cultuais que ela participa e gosta”, diz a deputada e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Juventude, Ana Júlia.
“Muitas pessoas têm dificuldade na fala, na escrita, em elaborar perguntas e criar textos. A batalha de rap ajuda bastante nisso. Muda a cabeça da molecada que está ali participando, porque é onde eles podem evoluir mentalmente e, assim, acabar saindo da parte errada do mundo, como drogas e violência”, afirma Elton Dantas, de nome artístico Her, organizador da Batalha da Menô.
A repressão policial foi um dos motivos da criação do projeto de lei que propõe o reconhecimento das batalhas culturais de rima como Patrimônio Imaterial Cultural do Estado do Paraná. Os relatos de competições sendo interrompidas pela Polícia Militar ou Guarda Municipal de Curitiba se tornaram frequentes no meio. Se a lei for aprovada, o acesso às licenças para exercício das atividades, presença em editais públicos, capitação de recursos, dentre outros benefícios, serão facilitados.
A audiência pública sintetizou a necessidade da aprovação do projeto. Isso, pois, além dos MCs e dos ouvintes, as batalhas de rap envolvem geração de emprego e renda, por meio da contratação de organizadores culturais, fotógrafos, filmakers e social medias. Ao serem questionados se as manifestações culturais ajudaram em sua vida profissional, a maioria dos participantes da assembleia afirmou que sim, incluindo o deputado Renato Freitas (PT), “Aprendi a ser político”.
O presidente da Associação Londrinense de Arte de Rua Moderna (Alarm), Washington Luis dos Santos, falou sobre a necessidade de capacitar os organizadores das batalhas para terem persistência, pois “o difícil não é abrir um ponto de batalha e, sim, mantê-lo”. A desconfiança de vizinhos, muitas vezes, por não conhecerem do que se trata e a violência policial provocam a dispersão destas competições e a inevitabilidade da resistência por parte dos participantes.
O organizador da Batalha do Bela e da Batalha da Ankan, Maike Pereira Ramos, comentou que as batalhas dão a oportunidade de ressignificar e apoderar termos, como “marginal”, o qual era usado como ofensa por autoridades policiais e, hoje, é discutido nas rimas. O membro do Conselho de Cultura de Piraquara também citou a luta pelos espaços provocada pelas batalhas. Locais como praças públicas e pistas de skates são, usualmente, as sedes dessas competições culturais. “Espaços onde a polícia só vai para oprimir, nós vamos para passar a informação”.
A fala que finalizou os discursos da mesa, de Pâmela dos Santos Alves, gerou aplausos em pé dos participantes da assembleia. A MC e integrante da organização do coletivo cultural Fazenda Rima citou o artigo 215 da Constituição Federal, “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”, ao afirmar que o Hip-hop é democrático. “Assinar um papel não é fazer muita coisa, é o mínimo. Resistir à polícia e ser mulher preta é fazer muita coisa”.
Após o término da sessão de debates, houve a primeira batalha de rimas dentro da ALEP. “Ver a periferia ocupar espaços públicos para ocupar o que é nosso é uma emoção”, declara o MC Du’Rap Suburbano.