Desde a Antiguidade, civilizações como os babilônios desenvolveram os primeiros sistemas de observação dos astros. Por volta do século V a.C., a versão do zodíaco que conhecemos hoje foi consolidada: uma mescla da astrologia ancestral babilônica, dos egípcios e da filosofia grega, que definiu os doze signos zodiacais como divisões fixas na trajetória do Sol. Essas tradições deram origem ao horóscopo, interpretado como um mapa do céu no momento do nascimento e usado para traçar perfis de personalidade ou prever eventos pessoais.
Embora não tenha base científica, e seja muitas vezes classificada como pseudociência, a astrologia segue viva. No Brasil, cerca de 24,9% da população acredita que o horóscopo influencia a personalidade, de acordo com dados da Pesquisa de Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil de 2023.
Uma pesquisa realizada pela Astrologia Luz e Sombra de Cláudia Lisboa, com 6550 usuários, descobriu que pessoas entre 35 a 54 anos ficam em primeiro lugar nas consultas por mapas astrais, correspondendo a 56,66%; seguidas pela faixa entre 55 a 65 anos ou mais, com 28,99% das respostas; e, por último, os mais jovens de 21 a 34 anos, com 14,35%.
Quando analisada a escolaridade, os dados surpreendem, onde apenas 1,33% concluíram apenas o ensino fundamental, 13,19% pararam no ensino médio, enquanto 65,86% têm ensino superior, 14,90% mestrado e 4,72% doutorado ou PhD, o que descarta a crença de que astrologia é buscada principalmente por pessoas de baixa escolaridade.
Os entrevistados eram majoritariamente mulheres, com 90% contra 9,17% de homens e 0,26% de não binárias; 37% estão casados há mais de 3 anos e 86,64% estudam astrologia principalmente por vídeos no YouTube ou redes sociais.
Em Curitiba, o horóscopo também deixou sua marca. A cidade abriga a Saturnália, a primeira escola de astrologia da capital paranaense, que forma cerca de 200 alunos por ano no Brasil e até no exterior. Os cursos, com duração entre 3 a 4 anos, vão além do “horóscopo do dia” e buscam conectar a astrologia à arte, à cultura, à política e ao pensamento crítico.
Nos ônibus e terminais de Curitiba, os passageiros podem acompanhar horóscopos exibidos nas telas da TV do Ônibus, uma mídia embarcada presente em mais de 500 veículos e quatro terminais da cidade. O conteúdo combina entretenimento e informação, e o horóscopo se destaca como um dos segmentos mais apreciados pelos usuários, sendo preparado de forma especial para engajar o público durante o trajeto. Além disso, o Jornal do Ônibus de Curitiba disponibiliza previsões diárias para os signos, permitindo que os interessados sigam tendências astrológicas mesmo em deslocamento, reforçando a presença da astrologia no cotidiano urbano da capital paranaense.
Para muitos, a astrologia não é um manual de respostas prontas, mas uma ferramenta de reflexão. A engenheira Carolina Trajano conta que, quando ainda cursava odontologia, buscou no mapa astral uma forma de lidar com suas dúvidas sobre trocar de curso.
“Eu estava em dúvida se trocava de curso na época da odontologia e fiz meu mapa astral com um professor que era bem ligado a essas coisas. A única coisa de que me lembro foi quando ele disse que minha Roda da Fortuna estava na casa do trabalho. Isso significava que, independente da escolha, eu teria sucesso profissional. Aquilo me deu confiança para trocar de curso, porque eu tinha medo de estar cometendo um erro. No fim, foi um reforço para a decisão que eu já queria tomar.”
Casos como o de Carolina mostram como a astrologia pode atuar mais como suporte simbólico do que como destino fixado.
Ainda assim, a prática é frequentemente reduzida ao horóscopo diário, muitas vezes elaborado sem os parâmetros técnicos da astrologia. Esse uso superficial contribui para a desconfiança e para a circulação de informações equivocadas.
“A astrologia é a leitura de uma linguagem simbólica. Ela não é ciência e nem se propõe a ser. […] é uma forma de conhecimento que oferece interpretações sobre a experiência humana”, explica João Acuio, psicólogo, astrólogo e fundador da Saturnália.
Ele defende que a astrologia seja entendida dentro da proposta original: como um olhar simbólico para a vida, e não como método científico de previsão. Conversamos com João Acuio e conhecemos a Saturnália para entender melhor como a astrologia é ensinada e praticada.
Entre crença, curiosidade e crítica, a astrologia segue ocupando espaço nas escolhas pessoais e no imaginário coletivo. Mais que soluções milagrosas, ela desperta reflexões que revisitam respostas que já existem dentro daqueles que a praticam.


