Gabriela Natalia da Silva tem 21 anos e é formada em Letras pela Universidade Federal de São Carlos. O nome artístico, Lola Benvenutti , vem de uma personagem do escritor russo Vladimir Nabokov, fruto da paixão da garota pela literatura. A jovem atua como acompanhante e mantém um blog na internet (http://lolabenvenutti.blogspot.com.br) no qual relata as experiências como prostituta. Ela conta, em entrevista ao Jornal Co:::unicação, o que a levou a escolher essa carreira e o que espera ver mudar na mentalidade das pessoas.
Jornal Co:::unicação: Como você começou a se prostituir?
Lola Benvenutti: Sempre participei de sites de relacionamento e bate papo e conhecia pessoas por esses meios. Um dia, decidi cobrar por isso e entrei em uma sala de bate papo à procura de “clientes”. Como eu era muito jovem, fiz apenas três e em seguida decidi parar e focar nos estudos.
Co:::unicação: Em uma declaração ao G1 você disse que está estudando para um mestrado na USP e gostaria de estudar sobre prostituição e fetiche. Como você pensa essa outra carreira?
Lola: Estudar prostituição e fetiche são maneiras de me aprofundar em temas nos quais já estou imersa. Minha iniciação científica e TCC, na graduação, foram relacionados à moda punk. Pretendo dar sequência a esses estudos, percebendo como moda, fetiche e sexualidade estão ligados.
Não vejo minha escolha como uma cela, que não me permite aproveitar outras oportunidades. Sempre deixo as portas abertas. Ser acompanhante não me impede de dar aulas, de estudar, de trabalhar em outras áreas. Pode ser difícil em alguns casos, claro. Afinal, as pessoas não encaram com naturalidade, mas para mim, é perfeitamente possível.
Co:::unicação: Como foi a reação dos seus familiares e amigos quando ficaram sabendo da sua escolha?
Lola: Eu vivia com medo que alguém descobrisse e ficasse uma situação chata. Eu detestava viver com medo. Por isso mesmo, optei por ser honesta e clara em minha decisão. Meus pais não concordam e ficaram muito decepcionados comigo. Eu entendo, claro. Sei que é culturalmente difícil aceitar uma filha que tem esse gosto. Meus amigos, inicialmente, ficaram preocupadíssimos, mas depois entenderam e hoje estão do meu lado.
Co:::unicação: Você se considera uma profissional do sexo?
Lola: Acredito que seja um bom termo. Apesar de adorar sexo e não ver nenhuma dificuldade em trabalhar com isso, fico muito preocupada com a satisfação dos meus clientes. Sou sempre muito clara, verdadeira e ética. Muitas garotas me escrevem, dizendo que adorariam trabalhar com o que eu trabalho, mas que não saberiam lidar com clientes “feios”, etc. Se não gostar muito de sexo, é difícil mesmo. É claro que nem todos meus clientes são galãs de cinema, mas procuro observar em cada um aquilo que tem de especial. Tanto fisicamente quanto intelectualmente.
Co:::unicação: Como é a relação dos seus clientes com você? Eles conhecem o seu lado escritora e amante de literatura?
Lola: A maioria conhece, sim, e creio que é justamente isso que os fascina. A ideia de que não estão se relacionando apenas com um corpo, mas com uma personalidade. É o conjunto que os atrai. Essa vontade de conhecer mais de perto a Lola.
Co:::unicação: Você acha que as mulheres ainda tem vergonha de assumir desejos sexuais? Como você espera que movimentos como a Marcha das Vadias e as mulheres que levantam a bandeira da liberdade sexual feminina mudem a visão das pessoas sobre esse assunto?
Lola: As pessoas são reprimidas pela sociedade. Se você é homem, então tem que ser macho. Se você é mulher, tem que satisfazer seu marido. Quem disse? O mundo seria bem mais divertido se as pessoas se sentissem mais à vontade para falar sobre seus desejos, realizar suas fantasias sem, no entanto, serem julgadas sujas ou indignas do reino de Deus. Eu torço muito mesmo para que esse tipo de manifestação ajude a população a entender melhor essa questão do corpo, da liberdade. É uma luta difícil, sim, mas é preciso começar por algum lugar.
Co:::unicação: Você considera que leiloar a virgindade, como fizeram recentemente uma garota catarinense e um garoto russo, é uma forma de reassumir a autonomia do próprio corpo?
Lola: Com certeza! Ser dona do próprio corpo é isso mesmo. Para mim, não há nada de errado em admitir que a virgindade é algo raro e valorizado. Se a pessoa se sente bem com isso, é o que importa.
Co:::unicação: Você já fez sexo por amor? Como é essa relação entre romantismo e sexo pago?
Lola: Acho engraçada essa pergunta. Sempre que eu transei com alguém, tinha carinho, apreço pela pessoa. Eu não conseguiria tirar a roupa e dizer “me use” (risos). Claro que quando a pessoa é mal educada a história muda. Mas de forma geral, vou embora pensando que conheci uma pessoa que tem qualidades e que é especial, de alguma forma.
Co:::unicação: O que você espera estar deixando como legado com essa escolha?
Lola: Na verdade, tudo o que eu esperava com o blog era registrar minhas histórias e vivências. Nunca imaginei que fosse levantar essa bandeira e que as pessoas se descabelariam por isso. Vendo o número exorbitante de e-mails e mensagens que tenho recebido, fico feliz em perceber que estou contribuindo para a liberdade sexual e espero que meu blog continue ajudando as pessoas a refletirem sobre isso e quem sabe, se libertarem.