Cerca de 300 pessoas se reuniram no centro de Curitiba em um protesto contra a Copa do Mundo nesta segunda-feira (16), data marcada para o primeiro jogo do mundial na capital paranaense. A marcha – que deixou um rastro de pichações, lojas quebradas e ameaças de confronto com a polícia – terminou com pelo menos 12 manifestantes detidos.
A concentração começou às 14h30, com cerca de meia hora de atraso, na Boca Maldita, que já havia sido palco de outro protesto pacífico pela manhã. Segurando cartazes e entoando gritos de guerra como “Eu já sabia, não vai ter copa na periferia” e “A Copa não dá casa, a Copa não dá teto. A Copa dá uma taça que eu não posso chegar perto”, os manifestantes alertavam os pedestres sobre os gastos exorbitantes e a probabilidade de aumento do turismo sexual ligados ao mundial, além de lembrarem os trabalhadores mortos durante a construção dos estádios.
Pouco antes da manifestação começar houve um momento de tensão devido a chegada de um jovem mascarado, que foi abordado pela Polícia Militar. O manifestante, o programador Carlos Cabral, foi identificado, revistado e liberado em seguida, embora tenha sido chamado para prestar esclarecimentos na próxima quarta-feira. Mesmo assim, a ação causou revolta nos espectadores da cena. O advogado Fernando Briost, que fazia parte da equipe de 11 profissionais da Defensoria Pública posicionada na rua XV de Novembro especialmente para auxiliar os participantes do protesto em caso de excessos, afirmou que ninguém pode ser parado pela PM apenas por estar com o rosto coberto. “O anonimato é uma infração, mas uma vez que o garoto se identificou, pode ir embora sem problemas e não deve ser autuado ou constrangido”, defendeu. “Vou até a delegacia apenas para buscar minha máscara, mas isso não vai me impedir de estar na manifestação de hoje”, afirmou Cabral.
Marcha
Os manifestantes seguiram em direção a Arena da Baixada, onde ocorria a partida entre Irã e Nigéria, passando por vários pontos estratégicos do centro da capital, como a Praça Rui Barbosa. A multidão bloqueou a passagem de várias linhas de ônibus por alguns minutos, principalmente o Circular Copa, que chegou a ser cercado pelos participantes do protesto. Na altura da Avenida Visconde de Guarapuava, um pequeno grupo espalhou o conteúdo de uma lata de lixo na faixa de pedestres e ateou fogo, impedindo a passagem dos carros.
No cruzamento da rua Desembargador Westphalen com a Avenida Iguaçu, os manifestantes foram cercados pelo Batalhão de Choque e pela Polícia Militar, que chegou a fechar várias ruas em torno da Arena, afastando todos os carros e ônibus que circulavam na região. Encurralada por várias barreiras policiais, parte da multidão se dispersou. Apesar disso, cerca de 100 pessoas insistiram e seguiram pelo único caminho livre em direção a Avenida Sete de Setembro.
Depredação
A presença de cerca de vinte viaturas do Batalhão de Choque não foi o suficiente para inibir os manifestantes. Muros, casas, vários ônibus e uma escola foram pichados. Pelo menos cinco estações-tubo tiveram vidraças destruídas a pauladas, assim como uma das portas de entrada do Shopping Estação, atingida por uma pedra de calçamento. Um homem passou mal e foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros.
Já na Rua XV de Novembro, uma ótica e três agências bancárias foram destruídas. Um manifestante foi detido em flagrante enquanto apedrejava a fachada de uma unidade da Caixa Econômica Federal e recebeu vaias dos pedestres.
A maioria dos lojistas optou por baixar as portas e liberar os funcionários. O vendedor Kelvin Lima, funcionário de uma loja de móveis, descreveu os eventos como dignos de um “cenário de guerra”. “Um garoto com pedaço de pau tentou entrar aqui enquanto o gerente fechava tudo, mas não deu tempo. Estou até com medo de voltar para casa”, afirmou.
Segundo informações da Polícia Militar, pelo menos 12 pessoas foram detidas até o momento. Todas foram encaminhadas para a Delegacia Móvel de Atendimento ao Futebol e Eventos.