Existem várias lendas em relação à invenção do xadrez. A mais comum é aquela que relata a existência de dois reinos vizinhos com uma certa rivalidade entre si. O rei de um destes reinos pediu ao sábio que inventasse um entretenimento que pudesse resolver as intrigas com o reino vizinho. Na outra semana, ele apresentou o jogo do xadrez, com uma realidade muito próxima àquela vivida em tempos medievais. O rei achou o jogo maravilhoso e, então, disse ao sábio que pedisse o que quisesse.
A fábula já é uma estória há anos conhecida pelo árbitro e membro do Clube de Xadrez de Curitiba, Carlos Calleros, 58. O senhor, que começou a praticar xadrez ainda jovem nas mesinhas do Passeio Público, hoje tem 40 anos de experiência com a modalidade. Em entrevista ao Jornal Comunicação, Carlos conta sobre a fundação de um dos mais tradicionais clubes de xadrez da cidade.
Repórter: Quando foi fundado o Clube de Xadrez de Curitiba?
Carlos Calleros: O Clube de Xadrez foi fundado em 1938. Funcionamos aqui desde 1952. O clube já reuniu muitas personalidades de Curitiba, como o doutor Hermes Macedo, o doutor Mário de Athayde, e o general Plínio Tourinho, que fez 100 anos de seu nascimento recentemente. Hoje, recebemos um público muito variado: já é possível ver uma criança com quatro anos de idade jogando com um senhor que hoje é um instrutor brasileiro. Recentemente, tivemos a presença de uma mestre internacional cubana jogando com um ex-campeão paulista por três vezes, o Jairo Cordioli, de 96 anos. Não tem limites para idade uma vez que o desgaste que você tem é mental, ao contrário dos esportes de rendimento físico.
R: E quanto ao público infantil?
Carlos: Um dos benefícios do xadrez é que ele desenvolve o raciocínio das crianças. Elas aprendem a planejar e a antecipar os movimentos dos adversários, além de noções de projeção espacial, responsabilidade das ações, disciplina e concentração. Porém tem que saber dosar. Muito do benefício que o xadrez proporciona para a criança não é direcionado para que eles sejam bons jogadores, mas para que sejam bons cidadãos, aprendendo a competir e criando senso de responsabilidade. Aí vem a parte interessante do processo de autoconhecimento da criança: cada pessoa se concentra diferente da outra. Tem pessoas que gostam de jogar xadrez escutando rock e pessoas que gostam em puro silêncio.
R: O clube costuma promover competições?
Carlos: O clube faz competições com frequência, inclusive com campeonatos. Todo sábado à tarde temos um torneio que nós chamamos de rápido, que são 15 minutos e mais seis segundos por incremento. Para cada lance que você faz, incrementa-se dois segundos. O tempo é regulado por meio de relógio eletrônico colocado ao lado do tabuleiro de xadrez. Essa é, aliás, mais uma das evoluções do xadrez e da sua regulamentação.
R: Vocês têm aqui um grande acervo de livros sobre xadrez.
Carlos: Sim. Nessa biblioteca temos tudo sobre xadrez. Tudo o que você imaginar de lances possíveis estão nesses livros. Temos uma edição anual da série Informador, cujas publicações anuais são sobre as melhores partidas a nível mundial. Nele, há uma simbologia a nível internacional que é traduzido para todos os idiomas. Já com a introdução do computador, o xadrez teve um salto magnífico – avançou mais de 200 anos.
R: Quantas pessoas frequentam o clube, atualmente?
Carlos: O clube tem, na sua lista, 140 sócios. Porém desses, apenas cerca de noventa frequentam. Normalmente, em dia de semana o fluxo é menor em relação aos finais de semana. Nós não temos um estacionamento, por exemplo, e isso restringe um pouco o nosso público. Além disso, costumamos sediar eventos oficiais, como o Campeonato Paranaense de Xadrez que se deu aqui.
R: Afinal de contas, o xadrez é um esporte ou não?
Carlos: A Federação Internacional de Xadrez nasceu em 1924. Nós temos um campeonato mundial e uma Olimpíada de Xadrez particular. Existe uma parte dos profissionais que acha que xadrez não é esporte por não ter atividade física. Isso é errado. Inclusive, já foi cientificamente comparado que um match de xadrez de doze partidas no Campeonato Mundial equivale ao desgaste de uma luta de boxe de vários rounds. Imagine que durante uma partida, o jogador tem de ficar concentrado por quatro a seis horas. O atual campeão mundial, Magnus Carlsen, por exemplo, enquanto não está jogando xadrez, está jogando futebol. O próprio Kasparov também tinha a mesma rotina.
MAIS INFORMAÇÕES
Clube de Xadrez de Curitiba
Local: Rua XV de Novembro, 266 – Centro
Horário de funcionamento: Seg-Sex, das 15h00 às 21h00. Sábado, das 09h00 às 13h00 com torneios esporádicos durante o período da tarde,
Fone: (41) 3222-4539