A hipótese inicial da Drª Valéria Ferrer, doutora em biologia celular pela UFPR desde fevereiro, era que as enzimas presentes no veneno da aranha-marrom fariam as células cancerosas do melanoma migrarem mais. Não foi o que aconteceu, as enzimas fizeram as células perderem a viabilidade.
Entenda
Migração celular é quando as células de uma parte do corpo se transportam e fixam-se em outra parte do organismo. É isso o que acontece quando você se recupera de uma ferida, quando um embrião se desenvolve e quando ocorre a metástase tumoral. A migração celular numa metástase acontece quando uma célula cancerosa se desprende do tumor original e caminha pelo organismo, até se instalar em outro lugar, criando uma nova forma de câncer. No português correto, é quando o câncer se espalhou.
O veneno da aranha-marrom é conhecido por destruir os tecidos da pele rapidamente, fazendo a toxina se dissipar pelo corpo. Ferrer trabalhou as enzimas do veneno em células cancerosas do melanoma. Melanoma é um dos tipos mais perigosos de câncer e é a principal causa de morte entre as doenças de pele. Tudo começa com uma pinta que de repente cresce e muda de forma. Com rapidez, o câncer se espalha pelo organismo (metástase).
Na tese, Ferrer esperava que o veneno da aranha marrom, que se espalha e mata tão rapidamente o tecido da pele, aumentaria o poder de metástase do melanoma. Em entrevista ao Bionews, boletim eletrônico do Setor de Ciências Biológicas da UFPR, a cientista explica que esperava desenvolver um inibidor de migrações celulares com a experiência, “mas a enzima por si só parece combater a célula. Foi surpreendente!”, comemora. Ela acredita que este é o início de um novo ramo de investigação no combate ao câncer.
Números no Brasil
Segundo o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), 1.507 brasileiros morreram de Melanoma em 2010, com 6230 novos casos estimados para 2012. Já as aranhas-marrons, apesar de aparecerem em várias partes do mundo, são absurdamente prevalentes em Curitiba e na região metropolitana, também ocorrendo nos Campos Gerais e no centro-sul do Paraná. Nos últimos 7 anos foram registrados cerca de 34.220 casos de envenenamento no estado. Em dezembro do ano passado a UFPR desenvolveu um veneno natural contra a aranha-marrom.