qui 21 nov 2024
HomeDestaquesPresidencialismo de coalização favorece cenário de tensões na arena política

Presidencialismo de coalização favorece cenário de tensões na arena política

Câmara dos Deputados faz parte do Poder Legislativo brasileiro e é composta por 513 deputados de diversos partidos. (Foto/reprodução: BrasilPost
Câmara dos Deputados faz parte do Poder Legislativo brasileiro e é composta por 513 deputados de diversos partidos
(Foto/reprodução PortalCtb)

No cenário brasileiro atual, a crise política e financeira e a disposição de lideranças no Congresso Nacional possibilitaram um aumento de embates acirrados e multipartidários na arena do poder. Desde que chegou a liderança da Câmara dos Deputados em fevereiro deste ano, Eduardo Cunha do PMBD, partido da base governista, e seus aliados da direita política têm dificultado o avanço de inúmeras propostas da presidente Dilma Rousseff (PT). Em junho, manifestações de pmdbistas, inclusive de Cunha, defendendo a ruptura com o PT estremeceram o cenário de coalizões no Planalto.

Segundo o cientista político e professor da UFPR, Emerson Cervi, é importante diferenciar as decisões do Congresso e do Governo para entender o sistema político brasileiro e as tensões que ocorrem entre o poder Legislativo e Executivo, que para ele são em até certo ponto normais. “O que acontece dentro do Parlamento não tem a ver com o que o Governo quer ou deixa de querer. Nem o PT nem o PMDB conseguem reproduzir todos seus interesses dentro da Câmara, então é esperado que exista algum grau de discordância entre eles”, explica.

Cervi acredita as tensões tem sido acentuadas devido aos líderes vigentes. “O que está acontecendo nesse momento é um acirramento dessas diferenças em grande medida por conta das lideranças do PMDB, que não têm afinidade com o Governo e tentam forçar essa relação”.

Outro fator, explica Cervi, é o aparente desgaste da figura da presidente Dilma Rousseff, o que facilita o foco em Cunha. “A estratégia do PMDB e de qualquer partido no governo é enfraquecer o presidente ou o partido do presidente porque com ele fraco vai precisar mais dos aliados. Não com o impeachment, que é irreal, mas com a ameaça, o enfraquecimento, a possibilidade”, afirma.

“Cunha tem projeção muito maior do que ele é de fato na arena política”, diz Cervi

Para o cientista político, apesar do destaque da mídia tradicional no enfrentamento que Cunha faz ao governo da presidente Dilma Rousseff, o líder da Câmara vem perdendo apoio nas decisões do Congresso. “Há uma tendência da mídia em se posicionar contra o executivo, então Cunha tem uma projeção muito maior do que ele é de fato na arena política. Ele está perdendo muito apoio dentro da Câmera e tem tido algumas derrotas por conta da forma autoritária que atua”, aponta.

Eduardo Cunha, líder da Câmara Federal, já admitiu publicamente que relação entre PT e PMDB é "conflituosa".  (Foto/ reprodução: BrasilPost)
Eduardo Cunha, líder da Câmara Federal, já admitiu publicamente que relação entre PT e PMDB é “conflituosa”
(Foto: reprodução BrasilPost)

Presidencialismo de coalização x parlamentarismo

O regime político brasileiro, o qual Cervi afirma ser necessário entender para compreender as atuais tensões políticas, é gerido pelo termo “presidencialismo de coalizão”. Neste sistema, o presidente, chefe do poder Executivo, é eleito diretamente pelo voto popular, e tem mandato independente do Congresso, constituído de deputados e senadores. As origens distintas e a independência entre Governo e Congresso são as principais diferenças entre um sistema presidencialista e parlamentarista. Neste último, o Executivo surge da correlação de forças entre os partidos eleitos para o Parlamento.

A coalizão que existe no sistema presidencialista são os acordos e alianças políticas existentes entre os partidos que compõe o Parlamento e que normalmente sustentam o Governo dando suporte político às suas decisões e formulações de políticas públicas. No Brasil, a presidência tem o poder de vetar ou sancionar leis e reformas propostas pelo poder Legislativo no Congresso.

Congresso atual não dá a vez para pautas progressistas

O Congresso Nacional – Poder Legislativo do país – é representado pelo Senado e a Câmara dos Deputados. Além do presidente Eduardo Cunha, a Casa Legislativa tem sido ocupada nos últimos anos majoritariamente pela direita política, com representantes da bancada evangélica, por exemplo, que somam 78, entre deputados e senadores, das 513 cadeiras do Parlamento.

Essa direita conservadora tem batido de frente com algumas propostas de cunho progressista da presidente Dilma Rousseff, dificultando o avanço no Congresso. “Temos um Parlamento que desde 2006 vem se endireitando, portanto as pautas progressistas vem perdendo força. O Governo, de esquerda, defende essas as pautas, que vão ter mais dificuldade daqui pra frente, não por incapacidade política do governo, mas porque agora o Congresso é de direita”, explica Cervi.

Eduardo Cunha é autor de legislações a favor da redução da maioridade penal, contra a legalização da maconha, aborto e casamento homoafetivo. O cargo de líder da Câmara tem atribuições de relevância. Torna-se, por exemplo, o terceiro na linha de sucessão presidencial na ausência do presidente ou vice presidente da República.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
Pular para o conteúdo