seg 02 dez 2024
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Basquete sobre rodas estimula jovens e crianças

Além de praticar uma atividade física, os jovens interagem e têm uma convivência muito saudável com os colegas de equipe. Foto: Claudia Tavares

Uma parceria entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR) e a Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) deu origem a um projeto que incentiva a prática esportiva entre crianças e jovens com alguma deficiência física ou mental. O time infanto-juvenil de basquete de cadeira de rodas existe há cinco anos e atualmente conta com 12 jogadores. Os meninos têm entre 09 e 19 anos e todos estudam em escolas e colégios da rede pública regular de ensino.

O projeto de extensão “Atividade Motora Adaptada” é o mais antigo do departamento de Educação Física da UFPR, acontece desde 1994, e funciona com o apoio do Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) pelo programa Clube Escolar Paraolímpico. A iniciativa busca formar categorias de base dos desportos paraolímpicos nacionais para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 e incentivar o acesso da criança com deficiência ao esporte já na escola.

O esporte como ferramenta de socialização

Competir pela seleção brasileira paraolímpica de basquete, conquistar medalhas e disputar torneios mundiais podem ser os maiores sonhos de qualquer atleta – amador ou profissional, mas para esses garotos e garotas a prática do esporte tem um significado muito mais simples. A interação familiar, a inclusão social, o senso de responsabilidade e maior autonomia com seu próprio corpo são alguns dos benefícios que os treinos semanais trazem para a vida dos pequenos. Além disso, familiares e profissionais envolvidos são unânimes em dizer que a convivência entre pessoas com uma mesma realidade é o principal ponto dessa experiência.

Apesar das dificuldades e dos esforços que os pais têm que fazer para levar os filhos para os treinos, a presença e o apoio dos familiares é fundamental no sucesso do projeto. Ricardo Godoi, pai do atleta Gabriel Godoi de 13 anos, conta que a identificação entre eles e entre os próprios pais são dois pontos positivos. “Uma coisa que é bastante legal é que todos eles não convivem com pessoas especiais durante a semana, e vivem como patinhos feios. Nesse momento não tem nenhum patinho feio. Como pais também é uma oportunidade semanal de integração”.

O gerente de esportes da ADFP e técnico do time, Darlan França Junior, diz que além da interação entre eles, o projeto é importante para dar a oportunidade que os alunos com necessidades especiais precisam para se desenvolver. “Aqui a gente consegue justamente trabalhar o basquete em cadeira de rodas, trabalhar questões que na aula de educação física não tem como. A valorização que as crianças dão pra atividade é justamente por a gente conseguir trabalhar a atividade que a educação física não consegue no ensino comum”, explica.

Darlan destaca ainda os benefícios fora das quadras. “Eles conseguem ter uma maior autonomia com relação à cadeira de rodas, porque a cadeira de basquete força uma questão mais de agilidade, tem que se abaixar pra pegar a bola, frear pra fazer a mudança de direção, tem que correr, e isso dá pra eles uma noção de como trabalhar a cadeira convencional que eles usam no dia a dia”.

Segundo o atleta Pedro Henrique Cordeiro, 16, o esporte é importante para a vida e para o corpo. “Eu tento me dedicar o máximo aqui, é muito divertido. O mais legal é ver novas pessoas e jogar. Se possível pretendo continuar jogando”, afirma. Pedro é um dos pioneiros do projeto também, um dos poucos que continua desde o início.

O time ainda não participou de competições oficiais, mas esse ano a equipe disputou um amistoso com turno e returno em Joinville. Os planos para os próximos anos são de pensar mais competitivamente. “A partir do ano que vem é que a gente vai começar a traçar com eles alguns objetivos de até mesmo aumentar o volume de treinos”, conta o técnico.

Incentivos

Para auxiliar a manter essa iniciativa, familiares e colaboradores se unem com o objetivo de continuar proporcionando bem estar, oportunidades e maior inclusão para os atletas. O Clube Escolar Paraolímpico é um programa criado pelo CPB em 2009 com o intuito de fomentar a prática do esporte entre as pessoas com deficiência e descobrir jovens talentos para representar o Brasil nas competições. O Comitê disponibiliza para cada instituição associada uma verba anual para gastos com materiais, profissionais e estrutura. O presidente do CPB, Andrew Parsons, disse que é preciso investir nos clubes pequenos.

A coordenadora do projeto de extensão, Ruth Cidade, afirma que a colaboração da UFPR se dá principalmente na estrutura necessária para o treinamento dos participantes. “O principal auxilio está na cessão das quadras e demais espaços físicos para atender esta população e a interação de acadêmicos, que com estágios auxiliam nos atendimentos”, diz.

O professor e técnico Darlan França, conta que os maiores incentivadores são os pais. “O incentivo maior é justamente de trazer eles pra cá, arrumar as cadeiras quando é necessário. Alguns deles já compraram faixas abdominais pra prender a criança na cadeira. No começo não precisava porque a velocidade deles era pequena, mas hoje já está começando a precisar, porque com o choque se ele não estiver preso à cadeira, a criança vai cair”, completa. Alguns equipamentos são doados pelo Comitê Paraolímpico, mas a manutenção fica por conta de cada família.

Três alunos também foram contemplados pelo Programa Talento Olímpico do Paraná 2016 (TOP 2016), um programa do governo do Estado para ajudar financeiramente atletas com potencial para disputar os próximos jogos olímpicos. A bolsa é de R$500,00 por mês durante um ano, como ajuda de custo. As bolsas eram destinadas a crianças que estivessem no ensino regular, ensino comum, e que praticassem algum esporte paraolímpico. O basquete foi contemplado com três bolsas.

Basquete Olímpico x Basquete Paraolímpico

De acordo com as normas previstas pela Federação Internacional de Basquete em Cadeira de Rodas (IWBF), as regras do basquete paraolímpico são muito semelhantes as do basquete olímpico. As principais adaptações estão na cadeira, que é considerada uma parte do jogador, a qual deve ser adequada aos requisitos do jogo para conferir-lhe competitividade e segurança, e nas infrações, devido à condição diferenciada dos jogadores. A dimensão da quadra, a pontuação e o número de jogadores são os mesmos do basquete tradicional. Na modalidade infanto-juvenil podem ainda ser feitos ajustes no tempo dos jogos e na altura da cesta.

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