A crise estrutural e a “Casa comum: as tarefas políticas deste tempo histórico”. Este foi o tema debatido por João Pedro Stédile, na manhã do último sábado (25), no Campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná. A conferência fez parte da programação da 20ª Jornada da Agroecologia, evento de coalizão entre organizações defensoras da reforma agrária popular.
Em entrevista ao Jornal Comunicação, o líder faz um reconhecimento do desempenho da 20ª Jornada da Agroecologia de Curitiba: “A cada ano que passa a gente percebe que a Jornada cumpre o seu papel de alimentar os saberes e os conhecimentos e, sobretudo, de alimentar a esperança de que é possível e necessário fazer uma agricultura diferente que respeite a natureza e produza alimentos saudáveis”.
Confira a reportagem em vídeo sobre a conferência de João Pedro Stédile!
O norteador da conferência foi o risco de vida sofrido pelos seres humanos devido à crise ambiental. O economista e dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) atribuiu os desastres ambientais emergentes ao sistema capitalista e comentou sobre o papel dos movimentos populares de pressionar os governantes a se responsabilizarem pela proteção da natureza, dos animais e dos seres humanos.
“Sem alimentos saudáveis não há vida. Nem das pessoas, nem dos demais seres que coabitam conosco”, disse. Na introdução de seu discurso, Stedile reforçou a principal motivação da Jornada de Agroecologia e relembrou o pioneirismo do Paraná no evento. Citou, também, a presença das brigadas internacionalistas pela agroecologia, vindas da Venezuela e da Argentina, indicando as articulações do movimento pela América Latina.
Em seu diagnóstico inicial da situação do planeta, o ativista discursou sobre a degradação das florestas, a concentração de terras e a contaminação dos mares. Pontuou que “a maior parte dos plásticos que usamos durante a vida vai parar nos rios e, assim, irá para os oceanos”, o que causa o superaquecimento das águas e o desequilíbrio da vida marinha.
Stédile também criticou a falta de transporte público e o consequente uso de veículos individuais: “Queimar petróleo todo dia nos automóveis é um crime”. Segundo ele, a emissão de gás carbônico pelo consumo de carvão e petróleo contamina os pulmões das pessoas e pode levar à morte.
Dentre os desastres ambientais citados estava a pandemia da Covid-19. O dirigente nacional do MST afirmou que a crise sanitária teve origem no desequilíbrio ambiental e demonstrou que seus impactos foram mais fortes para os mais pobres. “Dos 7 bilhões de seres humanos, todas as estatísticas revelam que os 4 bilhões de mais pobres são os principais afetados por estes crimes [ambientais]”, explicou.
Quem são os culpados?
“As causas estruturais vão muito além do nosso consumo que às vezes não é adequado”, afirmou Stédile. Para o economista, o capitalismo é uma contradição: quanto maior a concentração de riqueza, maior a desigualdade e, consequentemente, mais facilitada está a crise climática.
A crítica ao governo, tanto de esquerda quanto da direita, por seu comportamento quanto à crise climática foi outro tema do discurso de Stédile. “Nós da esquerda não podemos ficar calados apenas porque o Lula está do nosso lado”, reforçou, ao comentar que o presidente está iludido com a proposta dos créditos de carbono.
“Toda vez que a TV Globo passa a propaganda ‘Agro é Pop’, ela faz propaganda dos agrotóxicos e dos crimes ambientais” — o militante do MST denunciou a mídia tradicional por ajudar a criar uma narrativa falsa em defesa dos culpados pela emergência climática.
O que cabe à população?
O dirigente nacional do MST relembrou os pontos de luta que devem ser reforçados nos movimentos populares quanto à crise climática. Entre os tópicos estão a luta pelo desmatamento zero, o combate aos agrotóxicos e à manipulação do “capitalismo verde” e a defesa do transporte público e gratuito, com o objetivo de diminuir as emissões de gases poluentes na atmosfera.
“Se o reitor estiver ouvindo, arranque esse asfalto e encha de árvores toda essa universidade”, disse Stédile, em comentário aplaudido pelo público, ao enfatizar a urgência de um reflorestamento nas cidades.
Outro ponto de virada defendido é a criação da disciplina de “defesa dos bens da natureza” nas escolas. Segundo Stédile, o ensino desta matéria poderia formar uma mentalidade mais consciente dos riscos e deveres nas novas gerações.