No último dia 08, teve início a primeira edição da Feira de Produtos e Serviços da Agricultura Familiar, a AgriFamiliar Paraná 2021, feira desenvolvida pela Federação dos Trabalhadores Rurais Agricultores Familiares do Estado do Paraná (Fetaep), em parceria com os sindicatos dos pequenos produtores.
A feira aconteceu até o domingo (12), na sede da Fetaep, onde produtores de todo o Paraná puderam mostrar seus produtos de cultivo. Prevista para ocorrer em 2020, o evento acabou sendo adiado por conta da pandemia, tendo sido possível sua realização somente no fim de 2021.
A assessora de comunicação da Fetaep, Larissa Jedyn, afirma que havia uma necessidade para que fosse realizada a feira esse ano, pois, com a crise econômica, muitos dos pequenos produtores foram afetados. “Os nossos agricultores foram muito abalados pela crise, não receberam auxílio emergencial. Não podíamos deixar isso ocorrer de novo, deixar eles sem apoio”.
Foram mais de 50 produtores de todo o Paraná na exposição, com produtos de agricultura e agroindústria familiar. Para estarem presentes no evento, todos os produtores precisam ser certificados, com produtos de qualidade validada e de acordo com a legislação sanitária.
“O importante de um evento desses não é só estar aqui vendendo, mas é que eles [os agricultores] possam estar em condições para continuar vindo em uma próxima feira, dando aos negócios deles mais possibilidades”, expõe Larissa.
Agricultura familiar
Segundo o Censo Agropecuário do IBGE, a agricultura familiar é a principal responsável pela produção dos alimentos consumidos pela população brasileira – cerca de 70% provêm do que é produzido por agricultores familiares. Os dados no estado do Paraná não diferem muito em comparação ao nacional: dentre os mais de 800 mil produtores, 75% possuem vínculo parental entre si.
O diferencial da agricultura familiar é a necessidade da família em si estar envolvida no negócio. Para a classificação correta, a Lei nº 11.326, de 2006, estabelece as diretrizes para a formulação da Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais, definindo os preceitos do termo.
É considerado agricultor e empreendedor familiar aquele que pratica atividades no campo, atendendo a todos os seguintes requisitos:
- I – não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
- II – utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
- III – tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo
- IV – dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.
Uma das responsáveis pelo evento, Larissa Jedyn explica que a agricultura familiar ainda é uma força de trabalho que não possui o devido reconhecimento. “A gente vai no mercado, compra e nem sabe de onde vem esse alimento. Quando pensamos em agricultura, logo vem à mente aqueles grandes produtores, mas na verdade são cooperativas de pequenos produtores que se juntam e vendem alguma coisa. É essa a forma com que a gente trabalha”, ressalta.
A agricultura familiar também se diferencia do agronegócio e da agroindústria já que utiliza de forma sustentável as riquezas naturais, movimenta o mercado alimentício e provê às famílias o sustento necessário.
O que eu acho bacana da agricultura familiar é essa coisa dela ser quem move tudo, além de ser extremamente diversificada. você tem tanto valor, tanta criatividade, tanta coisa boa acontecendo e sendo oferecida”
Larissa Jedyn, uma das organizadoras da 1º Feira AgriFamiliar 2021, realizada pela Fetaep
Novas iniciativas aos produtores familiares
Em relação à agricultura familiar, um dos pontos em destaque é a necessidade de renovação da sucessão dos negócios em família. Dentro da Fetaep existem estruturas de diretorias que trabalham estimulando a inclusão de jovens no contínuo dos negócios do campo.
Para Larissa, a sucessão rural precisa ser uma realidade e necessita de condições para acontecer: “Esses jovens vão à cidade para estudar, mas podem entender que é possível eles retornarem ao campo, transformando o negócio da família em algo muito mais incrível e rentável”.
Outras iniciativas também estão sendo desenvolvidas para o contínuo da agricultura familiar, como é o caso da Produtos da Terra PR – uma marca dos próprios agricultores que busca viabilizar o que é produzido pelos pequenos produtores de assentamentos e acampamentos da reforma agrária.
A iniciativa surgiu em 2016 em umas cooperativas singulares, Terra Livre, localizada no Assentamento Contestado Lapa. Sua criação envolveu uma articulação junto aos consumidores, abrangendo, assim, toda a cadeia de consumo e de produção dos alimentos agroecológicos. A proposta tem como objetivo melhorar a comercialização dos produtos derivados desses produtores.
Após alguns anos da fundação da Produtos da Terra, surgiu uma necessidade maior de suprir as demandas dos consumidores. Dessa forma, foi criada a Rede Paranaense de Economia Solidária, com a proposta de unir os preceitos da economia solidária, como a cooperação, a solidariedade e o trabalho coletivo.
Comunicadora da Produtos da Terra PR, Helena explica que existe um retorno muito maior desse modelo de comercialização direto, além dos produtores familiares ganharem o reconhecimento pelo que produzem. “É necessário que haja uma reflexão dos consumidores, a fim de entender que esses alimentos vem dessa produção da agricultura familiar, e que sejam protagonizadas por essa parte do povo que produz”.
“Quando o produtor não vende o produto dele no mercado, optando pela estrutura de comercialização que é fruto do trabalho coletivo dos produtores, o retorno é muito maior”, afirma Helena.