qui 26 dez 2024
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Prazer destrutivo

Apesar de ser pouco debatido, o vício é cada vez mais comum. Foto: Reprodução

Pouco se fala sobre sexo longe da privacidade proporcionada por quatro paredes. O tema ainda é regrado, considerado um tabu para muitos. Por isso, determinados problemas relacionados ao assunto permanecem no anonimato, mesmo com a fama de alguns de seus portadores. Os atores Michael Douglas e Russel Brand são, assumidamente, compulsivos sexuais. O distúrbio, mais comum entre homens, pode destruir carreiras e relacionamentos, é pouco conhecido e não é só coisa de cinema.

 

Na vida real

Fernanda*, 21 anos, viu seu relacionamento de cinco acabar devido ao vício do marido. A compulsão gerou uma série de traições, descobertas através de mensagens de e-mail. Entre as muitas conversas com outras mulheres, havia a tentativa de envolvimento com uma amiga próxima à jovem. “Na conversa, ela não era a culpada, ele era”, afirma Fernanda, alegando que não esperava pela infidelidade, mas que hoje não se surpreende com tal atitude.

Os casos foram perdoados até exigirem que Fernanda ultrapassasse seus limites. Depois de tantos, o jeito foi o divórcio. Este é o destino de muitas relações em que um dos parceiros sofre da patologia. Outras consequências são problemas profissionais, financeiros, sociais e de saúde. “Os sintomas são crescentes, comprometendo a vida como um todo. A pessoa não consegue trabalhar, dormir, se alimentar adequadamente. A busca pelo sexo é seu único objetivo”, alega a psicóloga e terapeuta sexual Claudia Graichen Guimarães.

 

Prazer que vira sofrimento

Segundo a psicóloga Claudia Guimarães, a principal característica da compulsão é a ação descuidada, que busca aliviar a tensão e pode prejudicar diferentes âmbitos da vida. “A pessoa se relaciona com outra ou se masturba muitas vezes mais pelo comportamento impulsivo ou descarga de tensão”, explica. Se a vontade não for atendida, vem a angústia. Se for, a culpa. Em qualquer uma das situações, o indivíduo sofre intensamente.

Os atos de quem se tornou compulsivo não são medidos, conscientes ou refletidos. A necessidade de uma relação sexual surge de forma urgente, levando a pessoa a abandonar trabalho e compromissos para buscar a saciedade.

O ex-companheiro de Fernanda perdeu a estabilidade e o carinho presentes em um casamento. Mas as baixas podem ir além da área afetiva. O vício pode levar à procura indiscriminada de parceiros sexuais, fazendo com que, por exemplo, um homem gaste muito dinheiro com prostitutas e tenha relações sem a devida proteção. Assim, o comportamento afetaria gravemente suas reservas financeiras e sua saúde. “A pessoa não avalia as consequências. É como um vício por droga, ela simplesmente quer saciar a vontade gerando um sentimento de angústia e culpa. O que torna patológico é o sofrimento e o comportamento incontrolável, escravo que se impõe a qualquer outra necessidade”, conta Claudia.

 

Vício sem cura

Não existe cura para a compulsão, apenas tratamento contínuo. De acordo com a psiquiatra Carmita Abdo, o problema é um distúrbio no metabolismo e neurotransmissores que provoca a desregulação da atividade sexual.

Para reduzir a libido, antidepressivos e neurolépicos podem ser usados. Psicoterapia também faz parte do tratamento, auxiliando o paciente na reestruturação emocional, no resgate da vida pessoal e profissional e no controle da compulsão. Existe até um grupo de ajuda mútua, o DASA – Dependentes de Amor e Sexo Anônimos, que proporciona conforto psicológico aos que sofrem do distúrbio.

“Vale ressaltar que a compulsão é uma doença na qual a pessoa não consegue se controlar, existe sofrimento e uma dependência, como se fosse uma droga. Por isso é necessário ajuda”, desmistifica Graichen. O vício em sexo não deve ser encarado como um déficit de caráter, mas como um problema a ser tratado.

 

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