A 20a Jornada de Agroecologia, realizada entre os dias 22 e 26 de novembro no Campus Rebouças da UFPR, em Curitiba, foi lugar de vários eventos que expuseram a vida nos assentamentos do Movimento sem Terra (MST). Dentre eles, houve a roda de conversa “Saúde e Agroecologia”, na manhã de sexta-feira (24). Com saberes populares de diversos cantos do sul do Brasil, a conversa compôs um leque amplo de conhecimento sobre a saúde no campo, e a relação com a agroecologia
Métodos naturais
O tema geral do bate-papo foi como a sabedoria popular dos assentamentos do MST – Movimento Sem Terra – é composta por técnicas medicinais com chás, ervas, e outros tratamentos naturais para doenças ou dores. Além disso, para que esses métodos sejam viáveis, é necessário que a relação com a terra tenha um caráter respeitoso.
Organizada de forma horizontal, mediadores e participantes trocaram experiências, visões de mundo e realidades. Para além destes métodos naturais, os assentamentos contam com auxílio das Unidades Básicas de Saúde (UBS’s), que não podem estar dentro dos coletivos, mas instaladas em áreas próximas aos coletivos por ação de forças tarefa de agentes internos de saúde. Isso, na visão dos participantes, faz com que haja a preservação do conhecimento médico local em conjunto ao amparo da medicina tradicional, sempre que necessário.
Seminários, rodas de conversas, stands e apresentações culturais rechearam a programação da 20ª Jornada de Agroecologia. Foto: João Vitor Soares
Vozes da saúde no campo
Sirlei Morais, 46, é coordenadora do setor de sáude do MST. Dentro de sua vivência, ela enxerga uma relação muito forte entre a saúde das pessoas e as práticas da agroecologia. “Desde o cuidado com o ser humano até com a natureza, a agroecologia e a saúde se completam. Por isso não tem como falar de uma sem falar da outra”, salienta a coordenadora.
Sirlei ressalta a importância da distribuição da terra e da agricultura familiar como pilares para a democratização da alimentação de qualidade, que por conseguinte gera saúde. Foto: João Vitor Soares
“Agroecologia produz alimento, este alimento por sua vez gera a saúde, e todo este processo é rico na diversidade do cultivo e de pessoas envolvidas na produção”, comenta sirlei.
Sirilei defende que a agroecologia é um passo importante para o controle de doenças e problemas gerados pelo modelo atual de relação com a terra. E critica a maneira com que o agronegócio boicota as práticas agroecológicas
“Há uma propaganda enganosa do agronegócio, muito maior e mais poderosa do que nós. Quem vive a agroecologia é a classe trabalhadora, que nem sempre tem esse acesso. Essa propaganda exalta a produção do agronegócio, com o argumento de que a agroecologia não tem essa capacidade para sustentar o mundo”, argumenta.
A saúde no campo, os esportes e o corpo
Paola viveu no sítio até seus doze anos, quando se mudou para a cidade. A roda de conversa permitiu que ela resgatasse a proximidade com a natureza. Foto: João Vitor Soares
Paola Teixeira, 32, é estudante de educação física na Universidade Federal do Paraná. Sua vida no campo, com alimentação orgânica e prática de exercícios fortalece seus músculos, ossos e tendões. Por isso, ainda que pratique esportes de bastante contato, como o futebol e o futsal, Paola sofre pouco com lesões de alta gravidade.
“As pessoas mais velhas, que vivem no interior e em regiões de assentamento trouxeram a importância da preservação da natureza, também em relação às ervas que podemos consumir como remédio, e a questão da alimentação que é fundamental. Uma boa alimentação é a base para uma boa saúde”, destaca.