Em uma manhã de sábado nublada e pouco chuvosa, um grupo de aproximadamente 15 pessoas se reúne em frente ao prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), localizado em frente à Praça Santos Andrade, no centro de Curitiba. Turistas de diferentes regiões do país e curitibanos aguardam o início do passeio, como é o caso de Ana Fernanda Oliveira, 32, e Nathan Alves, 25, que vieram de Campinas e aproveitaram o espaço de tempo entre a chegada em Curitiba e o check-in no hotel para desbravar a cidade. “Um ótimo uso do nosso tempo”, comenta Ana.  

O Curitiba Freewalking é uma iniciativa que nasceu em 2014, durante a Copa do Mundo de Futebol. O evento, sediado em diferentes cidades do Brasil, trouxe pessoas de todo o mundo para prestigiar o esporte e conhecer o país. A capital paranaense recebeu oito seleções durante junho daquele ano e foi a partir disso que turismólogos e estudantes do curso de História da UFPR decidiram criar uma opção turística diferente para Curitiba: um passeio gratuito guiado, caminhando por pontos turísticos importantes em uma determinada região da cidade.

 

A história da Rua XV de Novembro e do centro de Curitiba é contada aos turistas. Foto: Fernanda Gomes

Esse tipo de atividade é comum em muitos países: de São Paulo a Budapeste e de Nova Iorque a Tóquio, moradores locais conduzem turistas em passeios gratuitos para contar histórias, curiosidades e apresentar um pouco da cultura de sua cidade.  

O conceito “Free Tours” foi introduzido em Berlim, em 2003, de acordo com o turismólogo Nuno Miguel Soares. E dessa forma, as walking tours permitem aos participantes obterem uma apreciação dos aspectos de uma paisagem urbana, passado e presente, afirma ele. 

Em Curitiba, o centro foi escolhido como o ponto de partida dos voluntários e, desde então, estima-se que mais de três mil pessoas participaram do passeio. O voluntariado, inclusive, é marca registrada do passeio na capital paranaense. Caminhando na direção oposta das outras cidades do Brasil, em Curitiba a ação sempre contou com diferentes voluntários durante seus dez anos de existência: foram arquitetos, engenheiros, teólogos, entre muitos outros dispostos a apresentar a cidade sob diferentes perspectivas. 

O trajeto 

O passeio tem início na Praça Santos Andrade, local onde os voluntários organizam a concentração dos participantes. Durante um período aproximado de duas horas, o grupo caminha da rua XV de novembro – a Rua das Flores, até as Ruínas de São Francisco – ao lado de onde ocorre a tradicional feira de domingo do Largo da Ordem, descobrindo histórias, admirando a arquitetura e contemplando a paisagem.

Trajeto do Freewalking. Infográfico: Fernanda Gomes

“Dá outro sentido pra cidade”, comenta Ana ao fim da caminhada, opinião que é compartilhada pela fonoaudióloga Patrícia Recondo, 48, que veio de Porto Alegre para assistir ao show do músico Bruno Mars e aproveitou a viagem para participar do freewalking e complementar a experiência que teve com o ônibus da linha turismo. “Capaz de eu vir amanhã na feirinha dar uma espiada”, brinca.  

Qualquer pessoa é bem-vinda 

A última parada do passeio é nas Ruínas de São Francisco. Foto: Fernanda Gomes

Tamar Blos, 34, coordenadora administrativa, é voluntária do projeto e explica que o passeio é, antes de tudo, uma ação democrática.  De turistas a moradores, todos são recebidos de braços abertos. Essa diversidade de público é traduzida no roteiro do Curitiba Freewalking, que explora desde lendas urbanas, como o Gato Bóris, que se transforma em homem nas noites de lua cheia, a dados históricos da cidade, como a imigração e a indústria da erva mate.    

E para quem está em dúvida sobre fazer o passeio, a Tamar aconselha: “Dentro do freewalking, a gente procura passar para as pessoas a riqueza que está por detrás de todos os locais que fazem parte do nosso dia a dia. Então, os prédios, as construções maravilhosas que às vezes a gente frequenta, as calçadas que a gente pisa, já foram pisadas por tantas e tantas outras pessoas antes da gente e elas carregam uma camada muito maior de história que vem muito antes da gente. Então, eu recomendo muito que as pessoas façam esse passeio com mais de um voluntário, porque cada um de nós vai trazer a sua impressão digital, né?”. Para participar de um passeio do freewalking, basta entrar no site do projeto e realizar a reserva online.  

Após cada passeio, os voluntários alimentam a página do Curitiba Freewalking no Instagram com as fotos que tiram com os participantes. Foto: Instagram Curitiba Freewalking – Data: 02 de novembro

Ficha técnica 

Reportagem: Fernanda Gomes e Francielle Lacerda 

Edição: Fernanda Gomes e Francielle Lacerda

Supervisão: Cândida de Oliveira