1. Os manifestantes eram professores da rede estadual de ensino
Na tarde de quinta-feira (12), cerca de 10 mil professores, da rede estadual de ensino, ocuparam a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e seus arredores — dados da APP-Sindicato.

2. Mais de 971 mil estudantes paranaenses estão sem aulas por causa da greve. E, mesmo assim, muitos estavam no Centro Cívico apoiando seus professores
A paralisação impacta a vida de mais de 971 mil crianças e jovens em todo o Paraná. Mesmo assim, desde segunda (9), quando a greve e a mobilização em Curitiba começaram, os professores receberam apoio de seus alunos, assim como de outras entidades sindicais. Principalmente as que representam outras categorias de funcionários estaduais, também afetadas pelas medidas de austeridade.

3. Todos eles estavam lá para protestar contra o Pacotaço
O Pacotaço é um projeto de contenção de gastos proposto pelo governador Beto Richa (PSDB) e sua base aliada. A medida afeta os professores porque extingue progressões na carreira, dificulta a retirada de licenças, muda regras para a previdência e corta até vale-transporte. A categoria já sofre com o fechamento de 2,4 mil turmas, o que superlotou as salas de aula; corte de 10 mil funcionários, calote no repasse de verba para manutenção das escolas, quebra de contrato com 29 mil professores temporários, além de atrasos sucessivos em seus pagamentos.

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4. O Tratoraço e a ocupação
A expressão vem da ideia de um trator, que passa por cima de qualquer coisa. Como quando a maioria dos deputados quer que um projeto de lei (PL) seja votado em pouquíssimo tempo. As várias comissões de avaliação dos PL são substituídas por uma única Comissão Geral, que em sessões extraordinárias os vota sem debate com a sociedade, com os partidos de oposição e sem participação da imprensa. A maioria dos nossos deputados apoia o governo e não lhe foi difícil aprovar o Tratoraço na tarde de terça (10). Os professores e demais funcionários públicos, indignados com a situação, ocuparam a Assembleia de forma pacífica no final da tarde.

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6. A polícia militar entra em cena
Na quarta-feira seguinte (11) começou um rebuliço logo pela manhã, com o boato de que a polícia pudesse invadir a ocupação, com uma ordem de reintegração de posse. O mexerico foi prontamente desmentido pela PM, que declarou estar ali, em cada vez maior número, para garantir a segurança dos próprios manifestantes. A partir de então começou uma relação encabulada entre policiais e professores. Os policias também sofrem com os cortes de gastos do governo, mas são proibidos pela Constituição Cidadã de fazer greve e se organizar em sindicatos. Não foram poucos os relatos de que PMs declaravam apoio aos professores e trabalhadores e que, inclusive, compartilhavam alimento e água.

7. Em casa de tratoraço, o transporte é de camburão
Dispostos a votar o Pacotaço a qualquer preço, os deputados o pagaram com o meio de transporte que os levou à Alep na quinta-feira (12): um camburão. Não um trivial, um baguá de um camburão, que abrigou 33 confrades do governador Beto Richa. A ideia foi entrar às escondidas e improvisar a sessão no restaurante da assembleia. O que se passou dentro do camburão, não ficou dentro do camburão, pode ser lido na pitoresca Crônica de uma viagem dos deputados no ônibus do choque, de Rogério Galindo.

8. O clima fica tenso
Ao saber que os deputados governistas estão na assembleia, os humores dos manifestantes se irritam. Policias armam bloqueios humanos para impedir que os cidadãos invadam mais uma vez o local da reunião. O tempo literalmente fecha. Chove chuva e chovem tiros e bombas.

8. O bloqueio dos policiais

9. O momento exato em que os manifestantes furam o bloqueio

10. Manifestantes cercam a Assembleia

11. Mesmo debaixo de chuva, bombas e tiros, professores não arredam o pé
Policiais fazem um cordão de isolamento para que professores não entrem. Professores fazem um cordão de isolamento para que deputados não saiam. A estratégia é usar o ninguém-entra-e-ninguém-sai para forçar uma reunião, na qual deputados governistas obriguem-se a ouvir o lado dos funcionários públicos.

12. Deputados desistem de votar o Pacotaço.
Deputados aliados de Beto Richa se acobardam com o clima tenso. Ficaram apavorados que a turba de professores atentassem contra suas vidas. Mandam dizer à multidão que desistiram de projeto de lei. Que vão votar outro dia. Que farão um reexame. Manifestantes não se dão por satisfeitos, não abandonarão a assembleia sem uma retirada formal do projeto de lei do Pacotaço. Um grito ecoa pelo Centro Cívico: “Só com documento!”.

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13. “Só com documento!”
Por volta das 16h, o documento chega às mãos dos manifestantes. Escrito às pressas — no Word, sem padrão, sem timbre, desrespeitando um pouco a língua portuguesa, com uma ligeira assinatura —, Alexandre Teixeira, subchefe da Casa Civil de Beto Richa se dirige a Ademar Traiano, presidente da Alep: “O Secretário-Chefe da Casa Civil vem por meio desta solicitar a retirada dos projetos (…) para reexame em virtude das manifestações (…) para garantir a integridade física e segurança das senhoras e senhores parlamentares”.

Leia o documento na íntegra.
14. Uma vitória de todos
O documento representou uma vitória histórica da democracia paranaense. Há muito tempo não se via tantas pessoas mobilizadas pelos seus direitos.

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15. Uma vitória de cada um
O fato dos manifestantes serem capitaneados por professores trouxe à tona a velha reflexão: nossa sociedade dá muito valor à educação no discurso, mas na ponta da caneta os valores são transferidos a outras prioridades, escusas em planilhas ilegíveis ao cidadão comum.

Uma semana depois
A greve dos professores da rede estadual segue por tempo indeterminado. Na quinta-feira (19), às 14h30, os educadores terão a oportunidade de ter uma reunião com integrantes do governo pela 1ª vez. A mobilização pela queda do Pacotaço beneficiou outros servidores, como os funcionários da saúde estadual. Eles chegaram a parar na quinta-feira, porém retomaram as atividades já na sexta. Entretanto permanecem em estado de greve, caso o Pacotaço volte à berlinda. Quem continua parado são os funcionários ligados aos hospitais universitários das instituições acadêmicas estaduais. As universidades estaduais como um todo estão em situação periclitante, com falta verba para manutenção e funcionários. A greve já é uma realidade em parte delas e, na outra parte, há indicativo aprovado.
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