A música e a mobilização social em torno da crise climática andam juntas em iniciativas que se consolidam cada vez mais, em Curitiba, unindo arte e ativismo ambiental. É o caso do workshop realizado no Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), dia 30 de setembro, que uniu ritmos, manutenção de instrumentos e a causa ambiental. O evento foi organizado pelo coletivo Rede Curitiba Climática (RECC), a Embaixadores da Alegria – a mais antiga escola de samba em atividade na cidade – em parceria com a bateria universitária do curso de Comunicação Social da UFPR.
A iniciativa buscou valorizar a tradição das escolas de samba, a defesa de causas ambientais e a integração do ambiente universitário. Utilizando a cultura do carnaval como ferramenta para a mobilização social, o evento tinha ainda como objetivo sensibilizar a comunidade acadêmica e os participantes para as questões e problemas decorrentes da crise ambiental.
Luiz Henrique Santos da Silva, mestre de bateria há 2 anos na Embaixadores da Alegria, afirma a importância da parceria: “Quando vieram nos procurar, foi estabelecido um paralelo entre o nosso trabalho e a responsabilidade social que temos como uma escola de samba, capaz de alcançar diversas classes sociais.”
A discussão sobre questões climáticas, utilizando os recursos e a influência da escola, é visto pelo integrante como fundamental. “Trabalhamos com diversidade de públicos e o Carnaval, por si só, envolve uma vasta quantidade de pessoas. Acredito que a causa é algo de extrema importância, e eles enxergaram essa oportunidade em nós. O foco do projeto é justamente essa conscientização. Eles foram muito felizes na escolha e no desenvolvimento dessa ideia”, afirma Luiz Henrique.
Além das oficinas práticas, os participantes tiveram a oportunidade de receber mudas de árvores frutíferas e nativas. Ao final do workshop, todos receberam materiais informativos destacando a importância do plantio de árvores e da proteção ambiental, reforçando a missão da RECC de conectar saúde, meio ambiente e justiça climática.
A parceria com a tradicional escola de samba Embaixadores da Alegria, que há quase 80 anos mantém uma forte relação com a comunidade de Santa Quitéria, é o eixo central do projeto. A pesquisadora e ativista Beatriz Corcini, da RECC, destaca a importância de conectar temas como justiça social e sustentabilidade a eventos populares. “O contato inicial com a diretoria da escola abriu portas para uma troca de ideias, mostrei para eles o mapa de riscos climáticos para Curitiba até 2050, com destaque para o bairro Santa Quitéria, onde eles estão. Naquele momento, eles começaram a se interessar pela questão”, explica Corcini.
A iniciativa surge em um contexto em que Curitiba enfrenta desafios decorrentes de fenômenos como ondas de calor, alagamentos e secas cada vez mais frequentes. Segundo o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (BRASIL, 2016), os desastres que mais causam mortes no Brasil são inundações, enxurradas, alagamentos e deslizamentos de terra.
Na Região Metropolitana de Curitiba, entre 2020 e maio de 2024, esses eventos representaram 92,6% das ocorrências registradas. Os dados fornecidos pela Coordenadoria Estadual da Defesa Civil do Paraná 2024 indicam 311 ocorrências de eventos climato-meteorológicos no período, com 34 ocorrências registradas na capital, enquanto 277 aconteceram em cidades da região metropolitana.
A advogada e ativista Carolina Efing, 28 anos, atua na mobilização da comunidade em prol da causa ambiental. Membra da RECC e mestranda em Sociologia pela UFPR, Carolina ressalta a importância da cultura popular na sensibilização sobre questões ambientais e sociais. “A ideia de unir a luta pela justiça climática com eventos culturais já vem de muitos anos atrás. Vários membros do coletivo tinham essa visão de que a cultura popular é uma grande aliada na conscientização sobre temas que são difíceis de digerir.”
Segundo Carolina, o ato de plantar uma árvore pode gerar um impacto significativo nos próximos anos junto com as informações sobre risco ambiental nos bairros. “A ideia é plantar uma sementinha no coração dos foliões e da juventude de Curitiba. Um gesto simples como plantar uma árvore fará toda a diferença na rua e até no bairro desses jovens daqui a 5 ou 10 anos.”
Ficha técnica
Reportagem: Vitória Smarci
Edição: Ana Livia Barboza
Orientação: Cândida de Oliveira