Abril Vermelho é o nome dado ao mês de lutas do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que se caracteriza pela defesa da reforma agrária, pela democratização de terras e contra o sistema de produção do agronegócio. Em memória ao Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 17 de abril de 1996, a data é marcada por ações de luta e de solidariedade em todo o país.
Episódio emblemático da luta por terra no Brasil, a repressão policial contra a marcha ocorreu no Pará e culminou em 19 homicídios de trabalhadores rurais, além de ter deixado outros 79 feridos. A data acabou sendo escolhida pela Organização Internacional de Camponeses (Vila Campesina) como Dia Internacional da Luta Camponesa, quando as mobilizações pela terra são intensificadas. No local do massacre, hoje se estabelece o Assentamento 17 de Abril, onde os moradores são sobreviventes e familiares das vítimas.
As mobilizações do Abril Vermelho de 2023, cujo mote é “Reforma Agrária contra a fome e a escravidão: por terra, democracia e meio ambiente”, traz como ações incluindo ocupações, plantios de árvores, marchas e doação de alimentos. No Paraná, a pauta anual é o assentamento de mais de 7 mil famílias acampadas, e a regularização de mais de 80 áreas de acampamentos e sua estruturação.
Para Bruna Zimpel, de 30 anos, que é acampada do MST desde os 17 anos, neste ano as manifestações puderam se intensificar, ao contrário do que ocorreu durante os quatro anos de governo Bolsonaro. “Neste primeiro ano de mais um governo Lula, o Abril Vermelho vem com a pauta de retomar e reforçar a luta da reforma agrária e o papel dela para a sociedade. Além disso, a ação não deixa de fazer denúncias contra o agronegócio, que tem trabalho escravo, que envenena a natureza, que não produz alimento para a sociedade brasileira”, diz.
Antes do governo Bolsonaro, os órgãos públicos já vinham burocratizando canais que trabalhassem em prol ao MST. Na opinião da trabalhadora rural, desde 2016, a desestruturação do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão que tem a função de regularizar áreas rurais, já acontecia.
“Muitos assentamentos não tinham energia elétrica organizada e nem comunidade organizada, e o Incra, em vez de organizar isso, vinha trazendo apenas essa pauta da titulação das terras. Então vivemos um período em que o Incra trabalhava contra a organização e contra o avanço da reforma agrária”
Bruna Zimpel, trabalhadora rural
O movimento tem conquistado espaço e diálogos positivos, como em ações urbanas em Curitiba contra pautas como o Novo Ensino Médio. Com o novo governo há esperanças pelo reforço e compromisso com a reforma agrária, isso se abre novas possibilidades para regularização de terras. “O MST entende que o principal é o povo é a classe trabalhadora, não são nem os ricos do Brasil, mas é a classe trabalhadora que precisa ter acesso a alimentos. Então ele vai avançando na sua compreensão histórica e segue agora com o governo Lula, reafirmando que é essa a nossa tarefa e pautando a necessidade de políticas públicas para a produção de alimento”, complementa a entrevistada.
Abril Vermelho é a data mais significativa para conhecer o movimento, conversar com a militância da organização, e entender a importância dele, da luta pela terra, e entender a importância para a história de nosso país.
“O Abril Vermelho faz com que a sociedade volte a olhar para o MST com esse duplo olhar, de entender que o MST que produz o alimento, que compartilha o alimento, que faz ação de solidariedade é o MST que também ocupa terra e também denuncia o agronegócio, e esse é o MST, sua essência e sua tarefa. O Abril Vermelho esse ano tem colocado esse olhar da sociedade, que para partilhar alimento temos que ocupar terra, precisa questionar a concentração de terra no nosso país, porque se a gente não questionar a produção de terra, a gente não produz alimento, faz o sociedade olhar para esse projeto de campo que o MST defende, que é a agroecologia, a produção de alimento contra aquilo que o agronegócio está fazendo no campo brasileiro”.