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Marcha da Família com Deus pela Liberdade volta para as ruas do Brasil

Em 19 de março de 1964 multidão se reúne em frente a Catedral da Sé, em São Paulo, durante a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
Foto: Reprodução / http://www.feedbackmag.com.br/

Desfazer o congresso e o senado, estabelecer uma reforma política. Esses são alguns dos pedidos da Marcha da Família, com Deus Pela Liberdade, que acontece neste sábado (22), a partir das 15 horas, em várias capitais brasileiras. Curitiba participa do movimento, com ponto de partida na Boca Maldita, no centro da cidade.

Voltando a 1964

A intenção é reavivar as manifestações, contra a chamada ameaça comunista que supostamente precedeu o Golpe Militar de 1964. Na época, a Marcha desejava afastar o então presidente João Goulart do cargo, pois os integrantes acreditavam que as ideias do governante podiam levar o país a um regime comunista.

Cinquenta anos depois, a proposta é pedir a intervenção militar, conforme os artigos 142 e 143 da Constituição Federal. “Queremos colocar ordem e justiça novamente neste país. Precisamos fazer uma nova eleição constitucional, uma reforma política, administrativa e tributária trazendo um legislativo que realmente represente o povo”, explica Marcos Antonio Tozatto, um dos organizadores da ação na capital paranaense.

O manifestante frisa que a ideia também é abrir os olhos da população a respeito dos programas de governo, que, segundo ele, maquiam a real situação do Brasil. “Hoje, para o governo, quem ganha de 290 a 1.200 reais é considerado classe média. Quem ganha Bolsa Família e está recebendo salário desemprego é considerado empregado pelo governo. Eu não entendo como as pessoas não sabem fazer a conta: se está aumentando o programa social a cada ano como está caindo o desemprego? Se o país estivesse às mil maravilhas, por que essa onda de violência?”, questiona.

De acordo com Tozatto, a inspiração para a Marcha também vem do espírito da Revolução Constitucionalista de 1932, que ocorreu em São Paulo. Na época, meio milhão de pessoas pediam a derrubada do governo provisório de Getúlio Vargas e a promulgação de uma nova Constituição para o país. “O Brasil precisa novamente mudar. Vamos tomar o País de volta”, enfatiza.

Contradições

Enquanto o grupo que lidera a Marcha busca exigir princípios constitucionais ao pé da letra com auxílio das forças armadas, existem pessoas que ressaltam pontos contraditórios desses pedidos. O militante sindical e jornalista Roberto Elias Salomão é uma delas. Ele acredita que os organizadores dessa passeata estão despreparados. “Basta procurar o que dizem na internet ao falar de autoritarismo, ódio e preconceitos. Por serem mais fracos que seus iguais de 64, são mais barulhentos e mais radicais em suas exigências. Querem fechar inclusive as assembleias legislativas – algo que nem a ditadura militar ousou fazer”, aponta.

De acordo com Salomão, as reformas estruturais propostas pela ditadura na década de 1960 trouxeram pontos extremamente negativos. “A ditadura amordaçou o povo, exilou, demitiu, prendeu, torturou, matou e fez desaparecer milhares de pessoas. A concentração de renda e a corrupção atingiram níveis assombrosos. Não vejo nada de bom na ditadura e nenhum motivo para querer sua volta”, declara.

Para exemplificar os defeitos do sistema político brasileiro, o militante diz que a reforma deve participar de outro pressuposto, dando saltos à frente, e não voltando atrás. “Os defeitos se ligam a instituições herdadas da ditadura militar que continuam valendo. Basta olhar para a polícia militarizada, responsável por incontáveis assassinatos e atrocidades de todo tipo e o congresso com certa representatividade desproporcional”, lista. Salomão sentencia: “Essa Marcha é contra os trabalhadores, contra a democracia”.

Tempos de saudade

Segundo o coordenador de um projeto de estudos sobre a Ditadura Militar e professor José Carlos Fernandes, pela versão dos esquerdistas, houve uma manipulação das donas de casa das classes médias, naquele 1964, apavorando-as em relação à tomada do país pelos comunistas. Para Fernandes, esse caráter alarmista da marcha – que aconteceu em várias cidades brasileiras, inclusive Curitiba – acabou tornando o evento um fato folclórico, revelador do misto de ingenuidade e ignorância que rondam o golpe de 64.

Para ele, havia uma associação curiosa entre comunismo e devassidão. “Os comunistas em geral são bastantes conservadores em termos de costumes. A coisa mais fácil do mundo é encontrar um brasileiro que diga ter saudade do tempo dos militares – desconhecendo a tortura e tudo mais, ou achando que era legítima. Não me espanta que essas pessoas, que execram a era Lula, topassem sair à rua reeditando a Marcha”, completa.

Rota

O evento oficial, de Curitiba, da Marcha da família com Deus pela Liberdade na rede social Facebook já possui mais de 250 pessoas confirmadas. Segundo informações, o trajeto começa na Boca Maldita, às 15 horas e segue até a Rua João Negrão, onde o grupo deve se dirigir até o Batalhão do Exército na Avenida Silva Jardim. Após uma breve parada, os manifestantes devem ir em direção ao Círculo Militar, pela Rua Tibagi, até chegar à Rua Itupava.

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