qui 21 nov 2024
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Para presidente da Abraji, desconfiança sobre imprensa amplia violência contra jornalistas

Em curso formativo de extensão, Katia Brembatti explica que riscos profissionais passaram a estar presentes nas mais diversas situações cotidianas

Qual é o seu papel como comunicador em um mundo mais violento e desinformado. Esse foi o tema do evento realizado pelo Núcleo de Comunicação e Educação Popular (Ncep), nesta terça-feira (2). O evento, que ocorreu no auditório do Departamento de Comunicação da UFPR, teve a participação da jornalista e atual presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Katia Brembatti, para falar sobre a violência contra comunicadores. Foram debatidos aspectos importantes para o futuro desses profissionais, tanto no âmbito brasileiro quanto mundial. 

Conhecida pela realização da série Diários secretos, publicada em 2010 pela Gazeta do Povo, no evento, Brembatti contou sobre as transformações na percepção do trabalho dos jornalistas. Segundo a convidada, antes só havia dois tipos de coberturas tidas como muito perigosas para jornalistas: a de guerras e a de narcotráfico. Nos últimos anos, defende a palestrante, sobretudo a partir das jornadas de junho de 2013, houve um processo que intensificou a desconfiança e os ataques contra a imprensa. Agora cobrir uma pauta sobre “buraco de rua” se tornou um risco profissional. “Quando você tem um crime contra o jornalista, se tem um crime primeiro contra a sociedade. Segundo, é um crime profissional”, alerta.

Em levantamento feito pela Abraji foi revelado que até julho de 2022 houve aumento de quase 70% nos ataques contra jornalsitas em relação ao mesmo período do ano anterior. Esses ataques vão além da agressão física. É comum que sejam vistos discursos de ódio, processos legais, restrições na internet, restrições de acesso à informação e uso abusivo do poder estatal, que acabam vitimando jornalistas, comunicadores, meios de comunicação e a imprensa de modo mais amplo. 

“Vivemos em um cenário em que precisamos mostrar o que a gente faz, do jeito que a gente faz, a gente precisa ser muito mais claro e tentar reverter esse processo de ‘nós contra eles’. Da imprensa como inimiga”

Katia Brembatti, jornalista e presidente da Abraji

Brembatti revelou que grande parte desse estigma que se tem com o jornalismo se deu pelos erros da imprensa na cobertura das jornadas de junho de 2013, como a generalização exacerbada. 

No Brasil o aspecto da violência contra o jornalista está muito ligado ao cenário de desinformação, sendo algo muito peculiar do país em relação aos outros. A palestra, que foi voltada para a questão da desinformação e suas consequências para o jornalismo, trouxe o olhar para as diferenças entre o erro da imprensa em divulgar certas informações e entre o conteúdo fabricado para enganar o público. “Não podemos confundir um erro de imprensa ou até mesmo um tratamento enviesado com conteúdo manipulado”, diz a presidente da Abraji.

Ela ainda alertou que a sociedade vive em uma era do conteúdo fabricado e que, quando o deepfake, estratégia de inteligência artificial que produz cenas falsificadas em vídeo, avançar mais tecnologicamente, isso será um problema difícil de reverter. De acordo com a jornalista, isso poderá agravar ainda mais os ataques à imprensa. Ela ressaltou, contudo, certa empolgação com a criação do Observatório de Violência contra Jornalistas e Comunicadores. Ainda em fase inicial, a iniciativa vai procurar minimizar ataques.

Concluir investigações que resultaram em crimes contra profissionais é, para a palestrante, uma das formas de proteger categoria.

Por fim, a convidada enfatizou que todo esse ataque ao jornalismo e o descrédito da imprensa é muito focado nas mulheres. “O tipo de agressão que as mulheres recebem não é o mesmo que os homens recebem”, diz. O machismo e a misoginia são algo muito presentes tanto nas redações ou nas ruas para as jornalistas mulheres. O ataque sempre é focado no fato da jornalista ser mulher e nunca por um erro em seu desenvolvimento técnico do seu trabalho.

“Pense para não se autocensurar. Por estar mais exposta, a mulher tem uma tendência a se autocensurar. E é compreensível, é um instinto de defesa, de proteção. É importante as mulheres saberem que elas não estão sozinhas”

Katia Brembatti, jornalista e presidente da Abraji

Serviço

Não viu a palestra? Você pode acompanhar a transmissão feita pelo Canal do Jornal Comunicação no YouTube.

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