Para quem não é de Curitiba, a fama do motorista curitibano é de dirigir mal. Nem mesmo as inovações no trânsito e de mobilidade, como o sistema de transporte coletivo e a Linha Verde, conseguem compensar a experiência negativa que os pedestres relatam ter nas ruas.
Segundo dados de 2024 da Agência Nacional de Transportes Terrestres, Curitiba é a cidade com mais acidentes de trânsito envolvendo trens no país. Ainda no mesmo ano, um estudo do Comitê de Análises do Programa Vida no Trânsito determinou que 32,3% dos acidentes fatais em Curitiba foram causados por comportamentos dos condutores, como dirigir sob uso de substâncias, ignorar preferenciais, transitar em áreas proibidas, desrespeitar sinalização, uso do telefone e falta de direção defensiva.
“A gente nunca consegue atravessar na faixa, se não tem um sinaleiro ninguém para pra você passar.”, diz Marcus Dudeque, morador da cidade que transita majoritariamente a pé.
Ainda assim, a cidade é referência internacional em urbanismo, principalmente após conquistar o prêmio de Cidade Mais Inteligente do Mundo em 2023, no World Smart City Awards em Barcelona, e para chegar nesse ponto passou por um processo gradual de adaptação às novidades que chegavam com a modernidade.
Francisco Fido Fontana e o caricaturista Mário de Barros no primeiro automóvel de Curitiba em 1903. Créditos: Cid Destefani para Gazeta do Povo.
O primeiro automóvel chegou à capital em 1903, importado da França pelo empresário Ermelino de Leão. A novidade, que chamava a atenção nas ruas de paralelepípedo, dividia espaço com cavalos e carroças — ainda o principal meio de transporte da época. Logo, vieram os desafios de convivência entre o tráfego antigo e o moderno.
Mas a novidade não foi boa para todos, já que apenas dois meses depois o jornal A República noticiava que o motorista quase atropelou várias pessoas e atropelando um cachorro da família, que acabou falecendo.
Foi no dia 15 de agosto de 1903, um sábado à tarde, que Curitiba vivenciou seu primeiro acidente de trânsito com pessoas feridas.
“Em uma rampa bastante íngreme, demandando a chácara Schemelfeng, o break deixou de funcionar, não sendo possível sofrear o automóvel, que em carreira vertiginosa descia a ladeira”, citou o jornal Diário da Tarde.
O primeiro poste de sinalização, em 1950. Créditos: Batalhão de Polícia de Trânsito.
A cidade continuou crescendo e, com ela, a necessidade de novas modernidades relacionadas ao trânsito e à mobilidade. Em 1950, Curitiba instalou o seu primeiro semáforo, registrado pela Gazeta do Povo da época. O equipamento foi colocado no cruzamento da Rua XV de Novembro com a Rua Conselheiro Laurindo, representando um marco na organização do tráfego urbano. Pouco antes disso, a Rua XV já havia passado por obras de modernização e, na década de 1920, recebeu as primeiras camadas de asfalto, tornando-se uma das vias pioneiras no processo de adaptação da cidade aos automóveis.
Com o crescimento acelerado a partir da década de 1960, Curitiba passou a planejar soluções estruturais para organizar o tráfego e o transporte coletivo. O Plano Diretor de 1966, coordenado por Jorge Wilheim, introduziu a ideia de um sistema viário hierarquizado, com vias rápidas estruturais e corredores exclusivos para ônibus no chamado sistema trinário. Essas diretrizes foram colocadas em prática na década de 1970, quando Curitiba inaugurou o sistema de transporte coletivo integrado, com canaletas exclusivas para ônibus expresso, que se tornaria referência mundial em mobilidade urbana.
Sistema Trinário em Curitiba, 1970. Créditos: URBS.
A modernização viária se consolidou com a implantação da Linha Verde, inaugurada em 2009. O projeto transformou o antigo trecho urbano da BR-476 em uma avenida de 18 km, conectando o norte e o sul da cidade. Mais do que desafogar o tráfego, a Linha Verde reorganizou bairros e deu novo uso urbano a um espaço antes dominado por veículos pesados.
Mas nem todas as inovações agradaram os curitibanos. Uma novidade que incomoda diversos motoristas na cidade é o famoso Estar (sistema de estacionamento rotativo de Curitiba), criado ainda em 1980, pela Lei Municipal nº 3.979/1971 e regulamentado pelo Decreto nº 569/1980 e pelo Decreto nº 934/1997.
O advogado especialista em trânsito, Marcelo Araújo, esclarece que o sistema foi instituído com o objetivo claro de democratizar o uso do espaço público urbano, promovendo rotatividade nas vagas de estacionamento e auxiliando na fluidez do tráfego nas áreas centrais da cidade.
A trajetória do trânsito em Curitiba, que vai do primeiro carro até grandes corredores viários, mostra que cada avanço veio acompanhado de desafios. E, no fim, mais do que tecnologia, o que define o trânsito é o comportamento dos motoristas e pedestres. Mas que tipo de motorista é você? Preparamos um teste com o auxílio de especialistas em trânsito com algumas boas práticas de trânsito e direção.
Você é um bom motorista?
Responda às perguntas e descubra se seu comportamento combina com o trânsito que Curitiba merece.
1. Você precisa fazer uma conversão à esquerda, mas está na pista da direita. O que faz?
a) Sigo até encontrar um ponto seguro para mudar de faixa com antecedência.
b) Dou seta e tento entrar na faixa do meio no último instante.
c) Faço a conversão de onde estou mesmo, para não perder tempo.
2. Na hora de mudar de faixa, você…
a) Sempre uso a seta, mesmo em ruas pouco movimentadas.
b) Uso a seta apenas quando há outros carros por perto.
c) Raramente uso a seta, acho desnecessário.
3. Ao ver um pedestre na faixa de travessia sem sinaleiro, você…
a) Reduzo a velocidade e paro para a passagem.
b) Tento acelerar antes que ele comece a atravessar.
c) Finjo que não vi e sigo em frente.
4. Em um dia de muito movimento no centro, ao procurar vaga de estacionamento você…
a) Procuro vaga regulamentada do Estar.
b) Dou uma paradinha rápida em fila dupla “só para resolver algo rápido”.
c) Estaciono em qualquer espaço, mesmo proibido, contanto que não demore.
5. Quando preciso entrar na garagem…
a) Faço a conversão com uma curva bem fechada, dando seta com antecedência.
b) Viro sem seta, é só minha garagem.
c) Mudo para a faixa do meio antes de fazer a curva, não quero arriscar bater em nada.
Resultados
Maioria de letras A: Você é um motorista exemplar! Respeita regras e entende que o trânsito é um espaço coletivo.
Maioria de letras B: Você é um motorista razoável, mas precisa de mais atenção. Pequenos hábitos podem gerar grandes riscos.
Maioria de letras C: Você é um motorista imprudente. Seu comportamento coloca em risco não apenas você, mas também pedestres e outros condutores.
Teste desenvolvido com base em informações fornecidas pelo advogado especialista em trânsito Marcelo Araújo e pelo Batalhão de Polícia de Trânsito de Curitiba.






