Colecionismo em Curitiba movimenta diferentes paixões, itens e pessoas

Prática envolve negociações e exposições entre os colecionadores

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O colecionismo é a prática de acumular, preservar e selecionar objetos que possuem valor sentimental e interesse particular. As coleções variam, incluindo itens como moedas, selos e brinquedos. Na capital paranaense, esse passatempo é celebrado no Encontro de Colecionadores de Curitiba, que ocorre mensalmente e atrai entusiastas de diversas vertentes do colecionismo. O evento proporciona uma oportunidade para celebrar a atividade e promover a troca de experiências entre os participantes. 

Realizado desde 2008, no início de cada mês, no salão de festas do Santuário Nossa Senhora de Fátima, no bairro Tarumã, o encontro permite a exposição e o compartilhamento de coleções e facilita a negociação de itens entre colecionadores. Toni Percegona, organizador do evento, explica como ocorre a participação: “Os expositores são convidados. Eles pegam mesas para expor e trazem as miniaturas que eles têm. É multicolecionismo, apesar de que 80% é miniatura”. 

As miniaturas expostas e negociadas no encontro são, em sua maioria, de carros. O que pode ser visto como um simples brinquedo, transforma-se em um item colecionável à medida que os colecionadores reconhecem seu valor histórico, estético e sentimental. Fatores como a raridade, a qualidade de fabricação e a conexão emocional que os colecionadores estabelecem com essas peças elevam seu valor e importância.  

Alessandro Marsolik é colecionador de miniaturas de carros e fala sobre as diferenças entre os modelos. “Começou com carrinhos em miniaturas que a gente chama de die-cast, que é o carrinho de metal injetado. Tem carrinhos de plásticos, carrinhos em lata, mas o die-cast é o mais popular”, diz Marsolik. Atualmente, a marca Hot Wheels é a mais presente nas coleções, que também contam com itens personalizados, edições limitadas e modelos antigos.  

Diferentes tipos de públicos praticam o colecionismo. Foto: João Marcelo Simões 

O próximo Encontro de Colecionadores de Curitiba será no dia 16 de novembro. 

MAIS COLEÇÕES 

Outra vertente popular é o colecionismo esportivo, que se concentra em artigos relacionados, principalmente, ao futebol. Itens como camisas, flâmulas, bandeiras, chuteiras e bolas ganham destaque nessa área. Wadson Theodoro, dono de um brechó especializado na venda de camisas de time de futebol, comenta sobre os itens mais procurados pelos colecionadores. “No geral, abaixo dos anos 80. Dos anos 90 abaixo já são mais procuradas, principalmente modelos de jogo, usadas por jogadores”, conta Theodoro. 

Cada coleção possui uma relação emocional com a paixão e interesse pessoal do colecionador. Foto: João Marcelo Simões

Além disso, o público que busca itens do colecionismo esportivo vai além dos colecionadores assíduos, muitas pessoas também estão interessadas em camisas e outros artigos para o uso diário. Essa demanda por peças autênticas não se limita apenas ao desejo de colecionar, mas reflete uma vontade de expressar a paixão pelo futebol no cotidiano. “Além do colecionador, o pessoal compra para uso também. Tem outros que fazem molduras e deixam expostas”, finaliza Wadson.  

BENEFÍCIOS E RISCOS À SAÚDE 

A psicóloga Heloisa Soares Ferreira afirma que há benefícios palpáveis na saúde mental dos colecionadores ao envolverem-se no hobby. “Pode ter benefícios psicológicos, especialmente no que diz respeito ao bem-estar emocional. Muitas pessoas encontram no ato de colecionar uma fonte de prazer, satisfação e realização pessoal “, diz a psicóloga. “Além disso, o ato de completar uma coleção pode aumentar a autoestima, proporcionando uma sensação de conquista”, completa. 

O colecionismo pode trazer benefícios e prejuízos psicológicos a depender de como é praticado. Foto: João Marcelo Simões

Pode estar desenvolvendo um transtorno compulsivo”

Heloisa Soares Ferreira, psicóloga 

Ferreira entende também o colecionismo como uma possível ameaça à saúde mental em casos extremos, onde a prática afeta negativamente outros aspectos da vida do colecionador. “Quando a pessoa não consegue parar de colecionar, mesmo sentindo culpa ou angústia por isso, ou quando a prática passa a ser usada como uma forma de escapar de problemas emocionais mais profundos, ela pode estar desenvolvendo um transtorno compulsivo”, finaliza. 

Trabalhando o psicológico do público colecionador, cientistas encontraram um índice significativo do Transtorno da Acumulação, de acordo com psicólogos e professores Ashley Nordsletten e David Mataix-Cols em seu artigo sobre a cultura do colecionismo e como este vira transtorno

Para o hábito não fugir do controle, Ferreira aconselha que “é importante que a pessoa mantenha um equilíbrio saudável. Isso significa refletir sobre o motivo pelo qual está colecionando e certificar-se de que isso continua a trazer prazer e satisfação, sem interferir nas outras áreas da vida”. 

Ficha Técnica:

Reportagem: João Marcelo Simões e Matheus Neme

Edição: Gabriel Costa e Luisa de Cássia

Orientação: Cândida de Oliveira