Por: Kenson Koskur
Enquanto os indicadores positivos colocam a capital paranaense em destaque, a quantidade de pessoas vivendo em situação de rua reflete uma crise social que desafia o discurso de eficiência pública.
É a partir desse contexto que surge a voz de Edinéia Fátima dos Santos, que, com quase 60 anos, é ativista do Movimento População de Rua, acompanhando há décadas o cotidiano das pessoas em vulnerabilidade na cidade. Para ela, Curitiba convive com a crise, mas não a enfrenta. A ativista crítica a postura do Executivo e da Câmara Municipal, que, segundo afirma, adotam uma “política higienista” voltada mais para a aparência urbana do que para soluções efetivas.
Um dos principais entraves, afirma Edinéia, é a falta de dados oficiais. Ela defende que a realização de um censo específico é urgente, “Não há interesse em escancarar esses dados”, afirma. Sem informações precisas, a cidade opera no escuro, dificultando diagnósticos, ações emergenciais e planejamento de longo prazo.
A desigualdade dentro da própria rua também preocupa. A ativista destaca que mulheres negras são as mais afetadas pela falta de acolhimento e pela violência institucional. “As mulheres negras são as últimas a serem atendidas em todos os espaços. E quando exigem direitos, são logo vistas como violentas ou agressivas”, afirma. Segundo ela, ativistas também enfrentam riscos. “A polícia persegue pessoas que denunciam essas coisas”, afirma, descrevendo um ambiente de intimidação que dificulta a fiscalização e a defesa de direitos.
Nesse contexto, o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política da População em Situação de Rua (CIAMP-Rua/PR) tornou-se uma das principais frentes de articulação. Com representantes do movimento, universidades e diferentes órgãos públicos, o comitê discute diretrizes e propõe ações para garantir direitos básicos e combater a violência institucional.
Para Edinéia Fátima dos Santos, a transformação depende de visibilidade contínua e de um compromisso que vá além das respostas pontuais. Ela defende que órgãos públicos, entidades civis e veículos de comunicação assumam papel ativo na pauta. “A causa precisa ser apoiada diariamente, não apenas em datas comemorativas”, afirma Santos. Segundo a ativista, só assim Curitiba poderá enfrentar a crise sem empurrá-la para debaixo do tapete.
Editado por Natali Schovarts e Juliana Levandowski



